Actores centenários  

 Actores centenários  

Paul Newman (Reprodução – opopular.com.br)

Dois actores da minha memória que, se fossem vivos, fariam agora 100 anos. Eles são Jack Lemmon1 e Paul Newman2.A ambos, o cinema deve belos filmes, potentes interpretações cinematográficas e momentos de emoção dos seus espectadores. 

Jack Lemmon (express.co.uk)
Paul Newman (Créditos fotográficos: David Sutton/MPTV
– people.com)

Newman foi um actor de uma beleza destacada por todos aqueles que foram os seus espectadores e por todos aqueles que contracenaram com ele. Possuía uns belos olhos azuis, apenas rivalizados pelos, de cor violeta, de Liz Taylor. Também no nosso continente sul-americano, havia uma actriz a qual diziam ter os olhos mais belos do cinema, era a argentina Amelia Bence (1914-2016), a quem tive a oportunidade de ver nos palcos, na minha juventude. 

Jack Lemmon era, numa acepção total, um comediante3, passava de registos de grande comicidade aos momentos trágicos que teve de encarnar no cinema. Seria longo e aborrecido citar os filmes deste actor, mas alguns ficaram e ficarão para sempre na minha memória, pelo facto de serem momentos de grandes interpretações e, ao mesmo tempo, grandes momentos do cinema. 

(pt.wikipedia.org)

Começo por mencionar o filme “Quanto Mais Quente Melhor” (no original, em Inglês: “Some Like It Hot”) uma comédia musical de 1959, realizada e produzida por Billy Wilder.  O filme interpretado por Marilyn Monroe, Tony Curtis e Jack Lemmon, com argumento assinado por Billy Wilder e I. A. L. Diamond, baseado no filme francês, de 1935, “Fanfare of Love”. 

A trama acompanha dois músicos (Curtis e Lemmon) que se disfarçam de mulheres para escapar de mafiosos em Chicago, após testemunharem um assassinato durante o período da Lei Seca, nos anos de 1920 a 1933. Se a interpretação de Tony Curtis é boa, a de Jack Lemmon é notável. Poucas vezes vi, no cinema, uma transformação em travesti tão perfeita, hilariante e emocionante.  

De seguida, uma outra grande comédia: “Irma la DouceEsta comédia romântica, de 1963, foi realizada por Billy Wilder e baseada na peça teatral de Alexandre Breffort. Excelentemente acompanhado pela actriz Shirley MacLaine. 

(etsgotothemovies.com)

Neste filme, Lemmon interpreta dois papéis.

O papel de Nestor, um polícia honesto da cidade de Paris, que se apaixona por Irma, uma prostituta que ele conhece no serviço. Pelo facto de não aceitar acordos de protecção com as prostitutas, promovidos pelos proxenetas e pelos polícias corruptos será demitido da polícia. Motivado pela sua paixão, acabará por se tornar protector de Irma, mas não quer que ela se encontre com nenhum cliente que não seja ele.

Com a ajuda do dono de um bar, frequentado por ambos, Nestor “inventa” uma nova personagem. Assim, faz-se passar por um rico lorde inglês, que será um cliente exclusivo de Irma. Para arranjar dinheiro, secretamente, trabalha no mercado, transportando comida. E isso deixa-o muito cansado, fazendo Irma supor que Nestor perdeu o interesse por ela, decidindo ir para a Inglaterra com o lorde, ou seja, com ele mesmo. Então, Nestor acha que é hora de acabar com a farsa e “mata” o seu outro eu, o lorde. Porém, ele passa a ser acusado de assassinato pelo sumiço do lorde. 

Como é uma comédia realizada por um dos mais competentes realizadores da História do Cinema, tudo acabará bem. As composições das duas personagens de Lemmon são notáveis e memoráveis. 

Filme “O Apartamento”. (© United Artists – magazine-hd.com)

Outros dois filmes nos quais Jack Lemmon demonstrou as suas grandes capacidades de representação são os melodramas “O Apartamento”, também realizado por Billy Wilder, em 1960, e “Dias de Vinho e Rosas”, com realização de Blake Edwards, em 1962. Neste último filme, Lemmon interpreta o papel de um publicista alcoólico que acaba por beber cada vez mais, levando também a sua esposa ao alcoolismo. Jack Lemmon era, na realidade, um alcoólico, como confessou numa entrevista à imprensa. Finalmente, um filme-denúncia que me toca particularmente: “Missing” (“Desaparecido”), dirigido por Costa-Gavras, de 1982, o qual é baseado no livro “The Execution of Charles Horman: an American Sacrifice”, de Thomas Hauser, inspirado na história verídica de Charles Horman, que vivia no Chile, na época do golpe de estado de 1973, que depôs o presidente Salvador Allende. 

(Direitos reservados – antenalivre.pt)

Dado que este artigo é publicado a 27 de Março – ou seja, no Dia Mundial do Teatro –, lembro que esta comemoração foi criada pelo Instituto Internacional do Teatro (ITI) da UNESCO e celebrada pela primeira vez em 27 de março de 1962, data de abertura da temporada do Théâtre des Nations, em Paris. Desde então, todos os anos, nesta data, o Dia Mundial do Teatro é celebrado à escala global. Uma das acções mais importantes é a circulação da Mensagem para o Dia Mundial do Teatro, através da qual, a convite do ITI, uma personalidade teatral de reconhecida obra mundial partilha as suas reflexões sobre o tema do Teatro e da Cultura de Paz. A primeira Mensagem Internacional do Dia Mundial do Teatro foi escrita pelo poeta, dramaturgo e cineasta francês Jean Cocteau (1889-1963).

Em 2025, o pedagogo e encenador grego Theodoros Terzopoulos é o autor da mensagem que, tradicionalmente, é lida nos teatros de todo o Mundo, precisamente hoje (27 de Março). Pode ser lida e ouvida, em vídeo.  

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Notas: 

1 – John Uhler “Jack” Lemmon III (1925-2001), mais conhecido como Jack Lemmon, actor e músico norte-americano, é considerado uma das maiores lendas do cinema norte-americano. Lemmon ganhou dois Óscares e é um dos três recordistas do Prémio Cannes. No Festival de Cannes (em França), ganhou duas vezes na categoria de “Melhor Actor”, no filme “Síndrome da China” (de 1979) e em “Missing – O desaparecido” (filme de 1982).

Jack Lemmon , Herschel Bernardi e Bruce Yarnell no filme “Irma la Douce”, de 1963. (imdb.com)

2 – Paul Leonard Newman (1925-2008) foi um actor e realizador cinematográfico dos Estados Unidos da América. Recomendo a leitura do artigo “Os mais belos olhos azuis da história do cinema”, na edição de 16 de Agosto de 2008 do jornal Diário de Notícias.

3 – Utilizei o termo “comediante”, palavra muito apreciada pelos actores britânicos, lembrando uma entrevista de Laurence Olivier em que ele se definia como tal. Cito ainda um excerto do artigo “Laurence Olivier: O Comediante Trágico”, da autoria de  Pamela HutchinsonNum momento sombrio, Laurence Olivier chegou, muitas vezes, a rir. A sua reputação elevada e um tanto pesada como o maior actor dramático do seu século desmente a essência mercurial do seu ofício, que era aproveitar a humanidade em cada um dos seus papéis, muitas vezes, significando o humor. O crítico de drama britânico James Agate disse que Olivier ‘era um comediante por instinto, um trágico por arte’

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27/03/2025

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Roberto Merino

Roberto Merino Mercado nasceu no ano de 1952, em Concepción, província do Chile. Estudou Matemática na universidade local, mas tem-se dedicado ao teatro, desde a infância. Depois do Golpe Militar no Chile, exilou-se no estrangeiro. Inicialmente, na então República Federal Alemã (RFA) e, a partir de 1975, na cidade do Porto (Portugal). Dirigiu artisticamente o Teatro Experimental do Porto (TEP) até 1978, voltando em mais duas ocasiões a essa companhia profissional. Posteriormente, trabalhou nos Serviços Culturais da Câmara Municipal do Funchal e com o Grupo de Teatro Experimental do Funchal. Desde 1982, dirige o Curso Superior de Teatro da Escola Superior Artística do Porto. Colabora também como docente na Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti, desde 1991. E foi professor da Balleteatro Escola Profissional durante três décadas. Como dramaturgo e encenador profissional, trabalhou no TEP, no Seiva Trupe, no Teatro Art´Imagem, na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (UP) e na Faculdade de Direito da UP, entre outros palcos.

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