Bonecos de Estremoz, olaria corvalense, loiça do Redondo e cantarinhas de Nisa
Bonecos de Estremoz
Moldadas pelas mãos do povo, estas figurinhas repletas de originalidade, classificadas pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), em 2017, como Património Cultural Imaterial da Humanidade, são, à semelhança do figurado de Barcelos, expressões únicas na barrística nacional e, crê-se que, internacional.
Segundo as palavras do estremocense Hernâni Matos, autor do livro “Bonecos de Estremoz”, a “manufactura de Bonecos de Estremoz é uma manufactura ‘sui generis’, baseada numa técnica ancestral de produção que se transmitiu desde os sécs. XVII-XVIII e chegou até nós”.
Reconhece o mesmo autor que se distingue “de tudo aquilo que se faz em Portugal e no resto do mundo”. “Nela, o todo é criado a partir das partes, recorrendo à combinação de três geometrias distintas: a placa, o rolo e a bola. São elas que, com dimensões variáveis, são utilizadas na gestação de cada Boneco, colando as partes com barbotina”, explica Hernâni Matos.
Entre as peças, muitas vezes, um boneco ou um conjunto de bonecos de notada e característica simplificação, destacam-se, pela imensa variedade e significado, as de valor etnográfico (com realce para as relativas às fainas agro-pastoris), social e religioso, regional ou local.
Foram muitos, eles e elas, os bonequeiros estremocenses que, cada um a seu jeito e ao longo de séculos, perpetuaram uma das mais significativas expressões da variada e rica arte popular alentejana.
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Olaria corvalense
Os oleiros, em São Pedro do Corval, no concelho de Reguengos de Monsaraz, trabalham o barro desde o tempo da ocupação romana, mantendo a sua arte, ininterruptamente, até os dias de hoje, constituindo o essencial da economia, da história e da cultura locais.
Com base numa loiça dita tosca, pintada e vidrada, os oleiros corvalenses, seguindo e respeitando a tradição secular, criam um conjunto de peças (pratos, travessas, jarros, potes e muitas outras) mais decorativas do que funcionais, de grande valor artístico e etnográfico, com inspiração na vida rural e nos costumes ancestrais.
Tida por uma mais-valia apoiada pelo município de Reguengos de Monsaraz, a Casa do Barro – Centro Interpretativo da Olaria visa a preservação da arte oleira, promove um leque de diversas actividades (oficinas pedagógicas, palestras) e a musealização do espólio corvalense, acrescido de valiosa documentação alusiva a esta arte.
Procurando recriar o ciclo do barro, da terra ao produto final, oferece fragmentos da história do artesanato local, com base em memórias, como dois fornos de lenha, onde antigamente se cozia a loiça, um “tino”, onde se coava o barro, e a “arquina”.
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Loiça do Redondo
Na bela vila alentejana do Redondo, há, actualmente, dois tipos de loiça de barro. Uma para usos domésticos, tidos por de maior rudeza, como alguidares, panelas, cafeteiras, sertãs, frigideiras, cântaros, infusas e potes para azeitonas e para outros usos. E outra loiça, dita de usos leves, exemplificada, especialmente, por pratos de todos os tamanhos, por travessas, por púcaros e também por tigelas. Na decoração, predominam as flores ou a folhagem, assim como o sol, o galo, a casinha do monte, o sobreiro e a figura humana, no seu trabalho rural.
Recuando ao século XVI, encontramos, no foral manuelino desta vila alentejana, datado de 1516, a referência a uma corporação de oleiros e a regulamentação do respectivo comércio.
O Museu do Barro, instalado desde 2009 no antigo Convento de Santo António, expõe peças que vão desde a Pré-História aos dias de hoje, passando pelos períodos de ocupação romana e árabe, fruto de escavações arqueológicas efectuadas no concelho.
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Cantarinhas de Nisa
À elegância das cantarinhas e de outras peças de chamado “barro pedrado” não vidrado, saídas das mãos do oleiro, mulheres, ali conhecidas por as “pedreiras”, adicionam original beleza, com incrustações de pequeninas (milimétricas) pedrinhas de quartzo leitoso, segundo desenhos (riscados pela “pedradeira” no barro ainda mole), na maioria, com estilizações de flores e folhas.
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Nota da Redacção:
Este artigo dá continuidade aos textos “Moldar o barro: da Pré-História aos dias de hoje” e “Barro vermelho”, ambos da autoria de António Galopim de Carvalho e publicados, respectivamente, nas edições de 20/06/2024 e de 24/06/2024.
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27/06/2024