Como são lindas as crianças!
O trânsito é que manda. Não o trânsito motorizado, que também lá vai tendo os seus ditames, mas o trânsito do tempo, o trânsito das pessoas.
Será vaidade, de nós os humanos, ao nos afirmarmos os seres com o quociente de inteligência (QI) mais elevado, ou essa aptidão máxima está na posse de outrem?
Gosto muito do meu cão. É mais mexido do que muitos penedos do meu monte. Tenho alguns sobrinhos-netos. Cada um deles tem um perfil muito próprio. E todos me encantam. Um dia destes, um deles, num gesto carinhoso, deu uma palmadinha na cara de um dos seus irmãos, de apenas cinco anos. Mas, antes que o pequeno se zangasse, o mais velho disse: “Desculpa, lindo, foi a brincar!”
Assim, vindo do nada, o miúdo, de dedo em riste, disse: “Tu vais-me pagar por conta disto!”
Ficamos todos a olhar uns para os outros. Que frase brilhante, tão bem contextualizada!
O mês de Dezembro corria em direcção ao Natal; também ele gosta das festas bonitas. A meio deste mês, a minha sobrinha – tia dos miúdos – fez anos. Cantámos os parabéns em festa. Eu, que adoro os pequenos, porque são o quadro vivo do meu passado, abracei o Enzo, aquele que proferiu a frase que nos surpreendeu, e repeti-lhe, assim, aparentemente, um pouco fora do contexto: “Tu vais-me pagar por conta disto.”
“Ai, vais, vais!”, retrucou, com um riso de traquinas, expressando-se de modo a que todos ouvissem. E, tocando-me no braço, disse baixinho: “Não vais, não.”
A meiguice de mãos dadas com um traquinas, com uma inteligência acima da média. Como são lindas as crianças!
Naquele mesmo festejo de aniversário, a sogra da minha sobrinha, avó dos pequenos, queixou-se de dores nas costas. O outro meu sobrinho-neto, o do meio, com sete aninhos acabados de sair do forno, pegou na mão da outra sua avó, a minha irmã, e levou-a ao quarto dela, pedindo-lhe que lhe desse uma travesseira para a outra avó. De imediato, dirigindo-se-lhe, disse: “Avó, pega esta travesseira e põe-na entre a cadeira e as tuas costas, para te aliviar as dores.”
O miúdo levou beijos e aplausos, porque as boas acções merecem ser levadas com beijos e aplausos.
Como são lindas as crianças! De facto, nós, os adultos, temos tanto a aprender com elas! Muito mais quando nos deixamos corromper por nós mesmos! Tenhamos em conta as palavras do brasileiro Chico Xavier (do município de Pedro Leopoldo, no estado de Minas Gerais): “Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim.” “Fico triste quando alguém me ofende, mas, com certeza, eu ficaria mais triste se fosse eu o ofensor”, salientava Chico Xavier.
.
09/01/2025