Em Portugal, mais de 20% dos trabalhadores recebe o salário mínimo

 Em Portugal, mais de 20% dos trabalhadores recebe o salário mínimo

(Créditos fotográficos: Howen – Unsplash)

Apesar da proximidade de diversos indicadores económicos na União Europeia (UE), a variação do salário mínimo nacional (SMN) entre os diversos países é bastante alta. Atualmente, o país com maior SMN, na UE, é o Luxemburgo, com 2637,79 euros (€), por mês. Já o país que possui o menor SMN é a Bulgária, com 551€, por mês.

Segundo o Eurostat, em março de 2025, os países da UE com salários mínimos acima dos 1500 euros mensais são, além do Luxemburgo (2637 euros): a Irlanda (2282€), os Países Baixos (2249€), a Alemanha (2122€), a Bélgica (2070€) e a França (1801€). No bloco intermediário, com SMN entre 1500€ e 1001€, estão a Espanha (1381€), a Polónia (1091€), Chipre (1039€), a Lituânia (1038€) e a Eslovénia (1384€). E os países da UE com SMN até mil euros são Malta (961€), a Grécia (968€), a Croácia (970€), a Estónia (886€), Portugal (870€), a Chéquia (826€), a Eslováquia (816€), a Letónia (740€), a Hungria (707€), a Roménia (814€), e a Bulgária (551€).

(Créditos fotográficos: Shraga Kopstein – Unsplash)

Países como a Dinamarca, a Itália, a Áustria, a Finlândia e a Suécia não entram nos indicadores por não terem um salário mínimo nacional. E há 11 países da UE com SMN mensal abaixo dos mil euros e diz-se que estamos na Europa dos cidadãos e do sucesso! 

Comparando os valores de 2025 com os vigentes em 2015, os países com a maior taxa média de crescimento anual no SMN foram a Roménia (+13,3%), a Lituânia (+12,3%), a Bulgária (+10,6%), a Chéquia (+9,4%) e a Polónia (+9,2%). Ao invés, a França (+2%) foi o país da Europa com a mais baixa taxa média de crescimento anual do SMN, na última década.

Évora (Créditos fotográficos: Gunnar Ridderström – Unsplash)

Todavia, nem sempre o maior SMN compra mais. Análise pertinente é a que avalia o poder de compra do SMN, isto é, quanto é possível comprar com o SMN no respetivo país. A esse olhar, as diferenças salariais deixam de ser tão grandes, já que, nos países com salários mais baixos, o custo dos produtos será menor, o que nem sempre corresponde à realidade. Por exemplo, em Portugal, é de questionar como vive uma família em que só o marido recebe um SMN de 870€ e paga 350€ de renda de casa, além de luz, água, gás, roupa e alimentos.

A metodologia utilizada para essas comparações é a da paridade do poder de compra, em que se analisa o valor do salário europeu, ante as despesas de consumo final das famílias. Neste cenário, por exemplo, a Alemanha ultrapassa o Luxemburgo, ou seja, o SMN da Alemanha, apesar de ser menor do que o de Luxemburgo, consegue “comprar mais”.

Os demais países, considerando o poder de compra dos seus SMN, ficam distribuídos da seguinte forma: o grupo de maior poder de compra, por ordem, é composto pela Alemanha, pelo Luxemburgo, pelos Países Baixos, pela Bélgica, pela França, pela Irlanda, pela Polónia, pela Eslovénia e pela Espanha; o bloco intermediário é composto pela Lituânia, pela Croácia, pela Roménia, por Chipre, por Portugal, pela Grécia, por Malta e pela Hungria; e, por último, vêm a Chéquia, a Eslováquia, a Estónia, a Letónia e a Bulgária.

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Em 2022, a percentagem do rendimento do SMN gasto em rendas variava, na UE, de 35%, na França, a 56%, nos Países Baixos. A habitação, a água, a eletricidade e o gás constituíam a maior parte das despesas das famílias, na UE.

(Créditos fotográficos:  Yaroslav Yaryi – Unsplash)

Com efeito, quase um quarto de todas as despesas das famílias (24,1%) era afetado a estas necessidades essenciais, mostrando o peso substancial que têm nos orçamentos familiares europeus. A proporção variava, significativamente, entre os países europeus e, mais ainda, de acordo com os níveis de rendimento em cada país. Os trabalhadores que auferem o SMN, em particular, eram fortemente afetados, porque atribuíam a maior parte do seu rendimento à habitação, à água, à eletricidade e ao gás.

A Confederação Europeia dos Sindicatos (CES) referia que, em 14 estados-membros da UE, a renda de imóvel com o máximo de dois quartos absorvia, pelo menos, 35% do rendimento dos trabalhadores com o SMN. Em 2024, em média, estes trabalhadores gastaram 45% do seu rendimento só em habitação, o que ilustra o pesado encargo financeiro que os custos da habitação representam para os trabalhadores com baixos salários nestes países. “Milhões de trabalhadores, na maioria dos estados-membros, veem uma grande parte dos seus salários saírem das suas contas bancárias, assim que chegam, simplesmente, para manter um teto sobre as suas cabeças”, afirmou a secretária-geral da CES, Esther Lynch.

Secretária-geral da CES, Esther Lynch. (en.wikipedia.org)

Entre os 14 países incluídos analisados em 2022, o SMN variava entre 477€, na Bulgária, e 2571€, no Luxemburgo. Apenas seis destes países tinham o SMN superior a mil euros, sendo que três ultrapassam os dois mil euros: o Luxemburgo, a Irlanda e os Países Baixos. A Dinamarca, a Itália, a Áustria, a Finlândia e a Suécia não tinham (e não têm) SMN obrigatório.

A renda média, em 14 países, era de 600€. A renda de um imóvel com um máximo de dois quartos variava entre 215€, na Bulgária, e 1340€, no Luxemburgo, enquanto a média dos 14 países era de 599€. Em sete países, a renda média foi inferior a 400€, incluindo a Bulgária (215€), a Roménia (277€), a Croácia (311€), a Grécia (344€), a Eslováquia (371€), a Estónia (387€) e Portugal (391€). No extremo superior, a renda média ultrapassou os mil euros, no Luxemburgo, na Irlanda e nos Países Baixos, sendo de 618€, na França, e de 578€, na Espanha.

Porto (Créditos fotográficos: danilo.alvesd – Unsplash)

A parte do rendimento do SMN gasta em rendas oferecia informações valiosas sobre os encargos financeiros das rendas para os trabalhadores com baixos salários. Entre os 14 países, a proporção variava entre 35%, na França, e 56%, nos Países Baixos. Em média, os trabalhadores com o SMN, nestes países, gastavam 45% ou 46% do rendimento em rendas, consoante o método de cálculo utilizado. Além dos Países Baixos, onde a percentagem atingia os 56%, as rendas consumiam mais de 50% do rendimento do SMN, na Irlanda (55%) e no Luxemburgo (52%).

A França apresentava a percentagem mais baixa, com 35%, o que significa que a renda representava cerca de um terço do rendimento dos trabalhadores com o SMN. A Croácia (37%) e a Grécia (38%) seguiam de perto a França, apresentando rácios mais baixos, entre a renda e o rendimento dos trabalhadores que auferem o salário mínimo. Na Bulgária, onde os SMN e as rendas são os mais baixos, os trabalhadores continuavam a gastar uns significativos 45% do seu rendimento em rendas. E, na Espanha, esta proporção é igualmente elevada, com 44%.

Lisboa (Créditos fotográficos: Samura Silva – Unsplash)

O custo das rendas baseia-se nas médias nacionais. No entanto, a situação pode ser ainda mais difícil nas capitais e nas cidades, onde se concentra a maior parte dos empregos. “Apesar de pagarem rendas elevadas com salários baixos, o seu alojamento é, muitas vezes, totalmente inadequado, expondo-os e às suas famílias a problemas de saúde”, afirmou Esther Lynch, vincando: “Outros são obrigados a dormir no sofá dos apartamentos dos amigos, a continuar a viver com os pais, quando possível, e até a dormir no carro.”

Dados adicionais do Eurostat, que vão além do salário mínimo e da renda, refletem a percentagem da despesa total das famílias atribuída à habitação, à água, à eletricidade, ao gás e a outros combustíveis, que varia, significativamente, na Europa.

Aveiro (Créditos fotográficos: Ricardo Resende – Unsplash)

Em 2022, a Eslováquia liderava a lista, com mais de 30% das despesas das famílias afetadas à habitação, à água, à eletricidade, ao gás e a outros combustíveis. A Finlândia e a Dinamarca vinham a seguir, com as famílias a gastarem 29,6% e 29,1%, respetivamente, em habitação e em serviços públicos. Em contraponto, Malta (13,9%) e a Croácia (14,9%) afetavam uma parte muito menor das suas despesas à habitação e aos serviços de utilidade pública.

Os países da Europa Central e do Norte enfrentam pressões financeiras substanciais relacionadas com estes custos. Estas despesas incluem: rendas efetivas da habitação; rendas imputadas à habitação; manutenção e reparação da habitação; abastecimento de água e serviços diversos conexos com a habitação; e eletricidade, gás e outros combustíveis.

Em 2019, esta proporção era de 25,7% no Reino Unido, antigo membro da UE.

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(Créditos fotográficos: Rui Alves – Unsplash)

Em Portugal, mais de 20% dos trabalhadores recebem o SMN. Efetivamente, dados do Ministério do Trabalho relativos a 2023 mostram que quase 21% dos trabalhadores em Portugal recebem o SMN. São cerca de 838 mil pessoas nesta situação, com insignificante diferença entre homens e mulheres. O percentual de assalariados que recebem o SMN, na Europa, vem caindo, desde 2020, quando 27,2% deles tinham os rendimentos mínimos. E é de lembrar que, em janeiro de 2025, o SMN, em Portugal, passou de 820€ para 870€, representando um aumento de 6,1%, em relação ao valor aferido em 2024.

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Os dados recentes do Eurostat revelam que as mulheres jovens, com baixa escolaridade e com contratos a prazo são as mais suscetíveis de auferir baixos salários. Ao mesmo tempo, milhões de trabalhadores europeus ganham apenas uma fração do salário médio do seu país e quase 15% da população ativa da UE é constituída por trabalhadores com baixos salários.

(Créditos fotográficos: Brooke Cagle – Unsplash)

Os trabalhadores com baixos salários são trabalhadores que ganham dois terços, ou menos, do salário médio nos seus países. Além disso, há diferença notável entre os géneros, pertencendo a esta categoria 18,2% das mulheres, em comparação com 12,5% dos homens. E os jovens são particularmente afetados: um em quatro trabalhadores com baixos salários tem menos de 30 anos.

As percentagens mais elevadas de trabalhadores com baixos salários registam-se na Bulgária (26,8%), na Roménia (23,9%), na Letónia (23,3%) e na Grécia (21,7%), enquanto países, como Portugal, a Suécia, a Finlândia, a Itália e a Eslovénia apresentam as taxas mais baixas, o que implica uma distribuição salarial mais homogénea.

No topo da lista com baixos salários da UE, está o setor da hotelaria e restauração, empregando mais de um terço (35,1%) de todos os trabalhadores com salários mais baixos, seguido de perto pelos serviços administrativos e de apoio, com 32%.

(Créditos fotográficos:  Louis Hansel –Unsplash)

O tipo de contrato e a educação também desempenham um papel importante na definição dos rendimentos. As pessoas com contratos a termo certo têm mais do dobro das probabilidades de pertencer a esta categoria do que as pessoas com contratos permanentes (27,2% contra 12,6%).

As habilitações literárias também fazem grande diferença, pois quase 28% dos trabalhadores com um nível de escolaridade baixo acabam no escalão de baixos salários, em comparação com apenas 4,8% dos que têm o ensino superior e médio (17,5%).

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Segundo um inquérito do Eurofound, o trabalho híbrido, em geral, mantém-se na Europa, apesar do declínio dos postos de trabalho totalmente remotos e da pressão para regressar ao escritório, em cinco dias, por semana. O trabalho totalmente remoto pode já ter passado o seu momento áureo. Com efeito, empresas como a JPMorgan, a Amazon e a Goldman Sachs ordenaram, recentemente, a milhares de trabalhadores que regressassem ao escritório, em cinco dias, por semana, invocando razões, como a produtividade e a cultura de trabalho.

(evope.com.br)

Apesar da descida de 1%, e 2024, o trabalho híbrido continua a ser a modalidade mais comum (44%) entre os trabalhadores da UE, em funções que podem ser desempenhadas à distância. De acordo com o último relatório da Eurofound “Living and Working in the EU”,as funções exclusivamente no local de trabalho seguem-no com 41%, o que reflete um crescimento de 5%, em relação a 2024.

As posições totalmente remotas, na UE, estão em declínio constante, caindo, acentuadamente, de 24% para 14%, entre 2022 e 2024. Os Países Baixos e a Irlanda são o “paraíso” do trabalho remoto. Todavia, o panorama do trabalho à distância, na UE, é muito fragmentado e desigual.

Em nações, como os Países Baixos, a Irlanda, a Finlândia e a Alemanha, a maioria dos trabalhadores está autorizada a trabalhar a partir de casa, total ou parcialmente, com taxas próximas ou superiores a 70%. Por outro lado, Chipre, a Grécia, a Croácia, Portugal e a Itália são alguns dos países menos flexíveis, com a maioria das pessoas a nunca trabalhar a partir de casa. E o Reino Unido não foi incluído no inquérito da Eurofound, mas uma sondagem do seu governo, realizada entre dezembro de 2024 e janeiro de 2025, revelou que 41% dos adultos trabalham a partir de casa, pelo menos, algumas vezes. Os dados referem-se a todos os tipos de trabalhadores, e não apenas aos que podem trabalhar também a partir de casa.

(familia-casa.pt)

A percentagem mais elevada de trabalhadores britânicos que trabalham em casa situa-se na faixa etária dos 30-49 anos (56%), enquanto a percentagem mais baixa foi registada entre os maiores de 70 anos (14%). Paralelamente, homens e mulheres registaram percentagens semelhantes: 42% para os homens e 40% para as mulheres.

Em quase todos os países da UE, os homens são mais suscetíveis de trabalhar, parcial ou totalmente, a partir de casa do que as mulheres. Chipre regista a taxa mais baixa, tanto para homens como para mulheres (25% e 22%, respetivamente). Os Países Baixos apresentam a taxa mais elevada, tanto para homens como para mulheres (83% e 72%, respetivamente).

A maioria dos trabalhadores defende a continuação da opção de trabalho por casa. Questionados sobre as suas preferências, a esmagadora maioria (74%) dos trabalhadores da UE prefere trabalhar à distância, pelo menos, várias vezes, por mês. Melhor, a maioria (31%) gostaria de trabalhar a partir de casa, várias vezes, por semana, 24%, diariamente, e 18% afirmam que nunca gostariam de trabalhar à distância. No entanto, a pesquisa afirma que o desejo de trabalhar exclusivamente em casa aumentou, desde a pandemia, passando de 13%, em 2020, para 24%, em 2024”.

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Por fim, é de referir que os profissionais do setor da alta tecnologia representam 5,2% da mão-de-obra da UE, com mais de 10 milhões de pessoas, mas representação de género, também aqui, é desigual. Em 2023, as mulheres representavam menos de um terço dos empregos de alta tecnologia (32,2%), com ligeira diminuição, em relação a 2022 (-0,6%).

(blog.fiaonline.com.br)

De acordo com o Eurostat, há apenas um lugar, na Europa, onde as mulheres superam os homens (50,2%): a região húngara de Nyugat-Dunántúl. As percentagens mais elevadas de emprego feminino registam-se na região italiana de Marche (48,6%) e noutra região húngara, Észak-Magyarország (48,1%). A taxa mais baixa de mulheres, em todas as regiões europeias, registou-se em Tessália, na Grécia, (8,3%). Em 2023, a Baviera emergiu como a região europeia com mais profissionais de alta tecnologia (476 mil), seguida pela região de Paris, Ile de France (469 mil). Ao invés, Peloponnisos, na Grécia, Bolzano, em Itália, e a ilha grega de Creta registaram os números mais baixos da UE, todos inferiores a cinco mil.

(queromaistecnologia.com)

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A relação trabalho-salário-despesa é cada vez mais complexa, à medida que o capital impera, subtil ou ostensivamente, o direito do trabalhador é ignorado e o trabalho subvalorizado. Daí resulta a precariedade, a magreza salarial e o serviço do trabalhador, só enquanto interessar. 

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21/04/2025

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Louro Carvalho

É natural de Pendilhe, no concelho de Vila Nova de Paiva, e vive em Santa Maria da Feira. Estudou no Seminário de Resende, no Seminário Maior de Lamego e na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Foi pároco, durante mais de 21 anos, em várias freguesias do concelho de Sernancelhe e foi professor de Português em diversas escolas, tendo terminado a carreira docente na Escola Secundária de Santa Maria da Feira.

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