Informação oculta

 Informação oculta

Créditos: Roman Kraft (Pixabay)

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Nas Ciências da Educação, fala-se muitas vezes de currículos ocultos, conceito que se entenderá, bem reflectindo, numa opinião do conhecido pedagogo Miguel Ángel Zabalza, para quem se aprende mais nos intervalos das aulas do que nas aulas.

Esta aprendizagem dos intervalos das aulas é um dos clássicos pilares desse universo dos currículos ocultos, um universo cheio de espaços informais que formatam jovens e adultos, transversalmente.

Também na Comunicação, há zonas que, por analogia, poderíamos classificar de ocultas, embora, em boa verdade, não o sejam – são, apenas, zonas dos discursos informativos onde as informações passam despercebidas, como dados adquiridos e inquestionáveis.

Acontece que tais informações podem ser – e por vezes são – discutíveis ou, até, informações não confirmadas, com a agravante de poderem passar por verdades absolutas e incontestáveis; e, nestas circunstâncias, por verdades que se instalam sem dificuldade.

Se isto acontece (e já tem acontecido) é também desinformação. Uma desinformação mais difícil de combater, a qual contamina a informação que lhe serve de hospedeira e que, involuntariamente, a esconde.

O rigor informativo, a implicar a confirmação das notícias e de todas as informações por fontes independentes entre si, tem de ser uma prática constante no ofício de informar, considerando que a informação é um direito das populações e não uma mercadoria que se ofereça embrulhada em papel do agrado do público destinatário.

Infelizmente, mais por negligência do que por dolo, muita da informação oculta, que rodeia a informação mais mediática das agendas de cada momento, nem sempre tem o tratamento que devia ter, mesmo em espaços de informação que se esforçam por oferecer a verdade inteira.

Esta é sempre mais difícil de conseguir, especialmente em cenários de concorrência excessiva, como é aquele que marca o mundo informativo em que vivemos. Mas esta enorme dificuldade não deve esmorecer a vontade de oferecer uma informação digna desse nome.

O próprio público – o que consome notícias – deverá estar igualmente interessado em ter acesso a uma boa e completa informação. Bem informados, valemos sempre mais.

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(*) Artigo no âmbito do programa “Cultura, Ciência e Tecnologia na Imprensa”, promovido pela Associação Portuguesa de Imprensa.

05/05/2022

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Júlio Roldão

É jornalista desde 1977. Nasceu no Porto, em 1953, e estudou em Coimbra, onde passou, nos anos 70, pelo Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra (TEUC) e pelo Círculo de Artes Plásticas (CAPC), tendo, em 1984, regressado ao Porto, onde vive.

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