Israel continua com episódios de guerra e de genocídio duro
Ao considerarmos a peça jornalística intitulada “Ataques israelitas em Gaza matam mais de 70 pessoas”, de Daniel Bellamy, em articulação com a Associated Press (AP), publicada pela Euronews, a 17 de novembro, pelo menos 72 palestinianos (número avançado pelas autoridades do território, citadas pela Al Jazeera) morreram na noite de sábado (dia 16) para domingo (dia 17) e no próprio domingo, em resultado de um bombardeamento israelita contra vários edifícios residenciais na cidade de Beit Lahia, no Norte da Faixa de Gaza.
Estes dados têm origem em informação das autoridades médicas palestinianas, as quais avançam que 111 palestinianos foram mortos no enclave costeiro, desde a madrugada do dia 17.
Os ataques mataram, pelo menos, seis pessoas, em Nuseirat, e outras quatro, em Bureij, dois campos de refugiados construídos no centro da Faixa de Gaza que remontam à guerra de 1948 que envolveu a criação de Israel. Outras duas pessoas foram mortas num ataque à principal autoestrada Norte-Sul de Gaza, de acordo com informação do Hospital dos Mártires de Al-Aqsa, na cidade central de Deir al-Balah, que recebeu os 12 corpos.
O Ministério da Saúde de Gaza revela que já foram mortos, durante a guerra, cerca de 43800 palestinianos. Sem fazer distinção entre civis e combatentes, esta estrutura oficial afirma que as mulheres e as crianças representam mais de metade das vítimas mortais. Cerca de 90% da população de Gaza, 2,3 milhões de palestinianos, foi deslocada e grandes áreas do território foram arrasadas pelos bombardeamentos israelitas e pelas operações terrestres.
Esta guerra começou depois de militantes do Hamas terem invadido Israel, a 7 de outubro de 2023, matando cerca de 1200 pessoas – maioritariamente civis – e raptando 250 outras. Cerca de 100 reféns ainda se encontram em Gaza, pensando-se que cerca de um terço estará morto.
Porém, a guerra de Israel não se limita à Faixa de Gaza. No Líbano, aviões de guerra israelitas bombardearam os subúrbios do Sul de Beirute, a capital, depois de os militares terem avisado a população de que teriam de ser evacuados, pelo menos, sete edifícios. O grupo militante Hezbollah tem forte presença na zona, Dahiyeh, e os ataques ocorreram quando o governo libanês analisava uma proposta de cessar-fogo mediada pelos Estados Unidos da América (EUA).
O exército israelita publicou avisos de evacuação no X, cerca de uma hora antes dos ataques no Sul de Beirute, que ocorreram na madrugada do dia 17. Os meios de comunicação social locais noticiaram o toque dos sinos das igrejas na zona e nos arredores, para alertar os residentes. Não houve relatos imediatos de vítimas. E os militares israelitas também renovaram os apelos aos residentes de mais de uma dúzia de aldeias no Sul do Líbano para que fugissem, à medida que as tropas terrestres avançavam para Norte.
O Hezbollah começou a disparar foguetes, mísseis e drones contra Israel no dia seguinte ao ataque de 2023 do Hamas, atraindo ataques aéreos de retaliação. O conflito foi-se agravando e, em setembro, deflagrou uma guerra total. As forças israelitas invadiram o Líbano em 1 de outubro.
Segundo o Ministério da Saúde, mais de 3400 pessoas morreram no Líbano e mais de 1,2 milhões foram expulsas das suas casas. Não se sabe quantos dos mortos são combatentes do Hezbollah.
Do lado israelita, os ataques aéreos do Hezbollah mataram, pelo menos, 76 pessoas, incluindo 31 soldados, e provocaram a fuga de cerca de 60 mil pessoas das comunidades do Norte do país.
Entretanto, um ataque com rockets atingiu a residência privada do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, na cidade costeira de Cesareia, do que resultou a detenção de três suspeitos.
Netanyahu e a família não se encontravam na residência, quando dois foguetes foram disparados durante a noite e não houve feridos, segundo as autoridades.
Já no mês passado, um drone lançado pelo Hezbollah atingiu a mesma residência privada, estando também ausentes Netanyahu e a família.
A polícia não forneceu pormenores sobre os suspeitos que estavam por detrás dos foguetes, mas as autoridades apontaram para os críticos internos de Netanyahu. O presidente de Israel, Isaac Herzog, condenou o incidente e advertiu contra “uma escalada de violência na esfera pública”.
Na verdade, Benjamin Netanyahu enfrentou meses de protestos em massa, pela forma como lidou com a crise dos reféns desencadeada pelo ataque do Hamas a Israel, a 7 de outubro de 2023, que desencadeou a guerra em curso na Faixa de Gaza. Os críticos culpam-no das falhas de segurança e de informação que permitiram o ataque e de não ter chegado a acordo com o Hamas para libertar dezenas de reféns detidos em Gaza. E israelitas voltaram a reunir-se em Telavive, no dia 16, à noite, a exigir um acordo de cessar-fogo que permita a libertação dos reféns.
O ministro da Justiça, Yariv Levin, aproveitou o ataque para apelar ao relançamento dos seus planos de revisão do sistema judiciário israelita, que tinham provocado meses de protestos em massa antes da guerra. “Chegou o momento de dar todo o apoio à restauração do sistema judicial e dos sistemas de aplicação da lei e de pôr fim à anarquia, ao tumulto, à recusa e às tentativas de prejudicar o primeiro-ministro”, declarou.
Segundo os apoiantes, a revisão do sistema judiciário visa reforçar a democracia, limitando a autoridade dos juízes não eleitos e conferindo mais poderes aos eleitos. Os opositores veem a reforma como uma tomada de poder por parte de Netanyahu, que está a ser julgado por acusações de corrupção, e como um ataque a um órgão de controlo fundamental.
Yair Lapid, líder da oposição, disse, em mensagem no X, que “condena veementemente” o disparo de foguetes contra a casa de Netanyahu, mas critica a proposta de Yariv Levin. “Levin deveria ir para casa com o resto deste governo irresponsável. […] Não o deixaremos transformar Israel num Estado antidemocrático”, escreveu Yair Lapid.
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Também no dia 17, de acordo com a Euronews e com a AP, Mohammed Afif, o principal porta-voz do Hezbollah, terá sido morto num ataque israelita a Beirute, nesse dia, segundo confirmou um alto funcionário do grupo, que falou sob condição de anonimato, por não estar autorizado a informar os jornalistas. O ataque aconteceu numa altura em que é esperada a reação das autoridades libanesas a uma proposta de cessar-fogo mediada pelos EUA.
Mohammed Afif, chefe das relações com os meios de comunicação do Hezbollah, foi morto num ataque ao escritório do Baath, partido socialista árabe, no centro de Beirute.
Inicialmente, o exército libanês anunciou que um soldado foi morto e três ficaram feridos, um dos quais em estado grave. “O inimigo israelita atingiu diretamente um centro do exército”, em Mari, na zona de Hasbaya, causando a morte de um dos soldados e o ferimento de três outros, um dos quais se encontra em estado crítico”, afirmou o exército em comunicado. E, pouco depois, um outro comunicado referia que “um segundo soldado” tinha morrido, devido aos ferimentos.
Israel também bombardeou – depois de ter emitido diversos avisos de evacuação para a população, como já foi referido – vários edifícios nos subúrbios do sul de Beirute, onde o Hezbollah tem a sua sede, há muito tempo.
O último ataque israelita deste ano, no centro de Beirute, foi em 10 de outubro, quando 22 pessoas foram mortas em dois locais. O Hezbollah começara a disparar rockets, mísseis e drones contra Israel, no dia seguinte ao ataque do Hamas, a 7 de outubro de 2023, que desencadeou o agravamento do conflito em Gaza. Israel, por sua vez, lançou ataques aéreos de retaliação no Líbano. E a escalada do conflito não deixou de aumentar, tendo eclodido uma guerra em setembro deste ano, com as forças israelitas a invadirem o Líbano, a 1 de outubro.
O Hezbollah tem continuado a disparar, diariamente, dezenas de projéteis contra Israel e alargou o seu alcance ao centro do país. Os ataques mataram, pelo menos, 76 pessoas, incluindo 31 soldados, e provocaram a fuga de cerca de 60 mil pessoas no Norte do país.
Segundo o Ministério da Saúde, mais de 3400 pessoas morreram no Líbano e mais de 1,2 milhões foram expulsas das suas casas. Não se sabe quantos dos mortos são combatentes do Hezbollah.
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Nem só os ataques e os bombardeamentos fazem a guerra. Numa entrevista alargada à Euronews, em Bruxelas, a 15 de novembro, Scott Anderson, diretor da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente – conhecida pela sigla UNRWA (do Inglês, United Nations Relief and Works Agency for Palestine Refugees in the Near East) –, traçou um quadro devastador da situação no território palestiniano, sublinhando a grave escassez de alimentos. “Para a população da Faixa de Gaza, trata-se de uma catástrofe humanitária que pode facilmente agravar-se”, afirmou Scott Anderson ao editor político da Euronews, Stefan Grobe, vincando: “Não há lugar seguro em Gaza, incluindo as zonas seguras.”
Já passou mais de um ano do início da guerra entre Israel e o Hamas – e o fim não está à vista. “Há mais de um mês que não conseguimos fazer chegar alimentos a essas pessoas”, disse Anderson sobre a situação no terreno em zonas do Norte, acrescentando: “Se não fizermos alguma coisa rapidamente, a situação pode evoluir para uma fome generalizada, o que seria uma situação provocada pelo homem e algo que poderia ser facilmente corrigido, se conseguíssemos ajuda suficiente para cuidar de todos.”
Anderson também reagiu às acusações israelitas de que as instalações da UNRWA eram utilizadas para albergar terroristas do Hamas, para esconderijos de armamento e para sedes administrativas.
Em resposta, a UNRWA tomou medidas para eliminar os terroristas do Hamas entre os seus funcionários, mas Anderson não garante que o trabalho esteja concluído. “Temos mais de 13 mil pessoas. Levamos a neutralidade muito a sério, como o demonstra a ação muito rápida do comissário-geral”, disse, acrescentando: “Não posso dizer, com certeza, que está feito. Não tenho provas de mais. […] E, se o fizéssemos, tomaríamos medidas. Mas não, não podemos afirmar isso com certeza, seria incorreto da nossa parte.”
E Anderson comentou a última tentativa israelita de proibir o acesso da UNRAW a toda a zona.
“Se não formos capazes de operar, se não formos capazes de continuar a trazer essa ajuda, tudo para[rá]. E isso teria situações potencialmente catastróficas para as pessoas no terreno”, vincou.
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Parece que a insistência dos ataques israelitas em Gaza, no Líbano e no Irão têm em vista a eliminação do último palestiniano ou, pelo menos, do seu poderio, por mais exíguo que seja. Então, boicota-se a ajuda humanitária e instaura-se uma tática pior do que a nazi nos tempos do Holocausto: a morte à míngua extrema de tudo.
A isto vem juntar-se o episódio de 12 de novembro, com o ministro das Finanças israelita, Bezalel Smotrich, a dizer, em reunião do Partido Sionista Religioso, que tanto a Faixa de Gaza como a Cisjordânia serão, “para sempre, retiradas” aos Palestinianos, na sequência da vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos EUA. “Estávamos a um passo de implementar a soberania sobre os colonatos na Judeia e Samaria [Cisjordânia] e, agora, chegou o momento de o fazer”, disse, em declarações aos membros da coligação ultranacionalista (liderada pelo primeiro-ministro), Smotrich, que é também ministro-adjunto do Ministério da Defesa, responsável pelos assuntos civis na Cisjordânia ocupada.
No final de maio, o exército entregou poderes legais significativos na Cisjordânia ocupada a funcionários dos colonos liderados por Smotrich, uma anexação “de facto”, já que o objetivo final é o controlo direto dos territórios palestinianos por Israel. E Smotrich, que reside num colonato na Cisjordânia, afirmou ter dado instruções à divisão de administração de colonatos do Ministério da Defesa e à administração civil do exército na Cisjordânia para darem início à preparação das infraestruturas necessárias à ocupação da Cisjordânia.
Neste ano, há um recorde na apropriação de terras palestinianas, após Israel declarar mais de 2300 hectares na Cisjordânia ocupada como terras do Estado, mecanismo utilizado com a designação de reservas naturais e de áreas de treino militar, para expulsar mais palestinianos. Israel apossou-se da Cisjordânia e de Jerusalém Oriental na Guerra dos Seis Dias, em 1967 e, desde então, tem mantido uma ocupação militar destes territórios palestinianos. E o governo de Benjamin Netanyahu promove uma política de expansão dos colonatos, através do Conselho de Colonização de Israel, apoiado pelo exército no terreno.
Segundo a publicação “Notícias ao Minuto”, o Ministério dos Negócios Estrangeiros português condenou, a 17 de novembro, as declarações de Smotrich em prol da anexação israelita da Cisjordânia, por “violação do direito internacional” e por desrespeito pelos “direitos do povo palestiniano”.
Na guerra já vale tudo. Além da forte componente militar, tem a trágica vertente civil.
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21/11/2024