Mário Ruivo: interventor activo nos planos científicos

Biólogo, oceanógrafo, activista da cultura científica, Mário Ruivo era o português com maior prestígio internacional nos domínios a que se dedicou. (DR – noticias.uc.pt)
No Dia Mundial dos Oceanos1 (assinalado, anualmente, a 8 de Junho), cabe recordar e homenagear a memória de Mário João de Oliveira Ruivo (1927-2017), figura central na Ciência e na política ambiental em Portugal e no Mundo, reconhecido como um dos principais pioneiros na defesa dos oceanos e na promoção da governação sustentável dos mares.
Terminado o liceu, em 1946, onde o conheci como colega mais velho, este campo-maiorense, que a profissão do pai trouxe para Évora, foi estudar para Lisboa e licenciou-se em Ciências Biológicas pela Faculdade de Ciências, no ano de 1950. Especializou-se, a seguir, em Oceanografia Biológica e Gestão de Recursos Vivos, na Universidade de Paris.

no Mundo. (Créditos fotográficos: CNADS – wilder.pt)
Mais do que um investigador científico de laboratório, possuidor de uma imensa e notável carteira de contactos internacionais, Mário Ruivo tornou-se figura pública como promotor e organizador de Ciência e como político. Reconhecido pioneiro na defesa dos oceanos e embaixador de Portugal neste domínio e no das pescas, foi ainda participante interessado e activo na defesa do ambiente em Portugal.
Juntamente comigo e com David Ferreira, professor da Faculdade de Medicina e vice-reitor da Universidade de Lisboa, Mário Ruivo fundou a Federação Portuguesa das Associações e Sociedades Científicas (FEPASC), organização não-governamental, visando dotar a comunidade científica portuguesa de um instrumento representativo, alargado aos vários domínios do conhecimento, com capacidade de intervenção ao mais alto nível.
Interventor activo, desde muito novo, na vida social e política do país, foi dirigente do Movimento de Unidade Democrática (MUD) Juvenil, iniciado em 1945 e ilegalizado por António de Oliveira Salazar, três anos depois. Nos governos provisórios que se seguiram à Revolução dos Cravos, foi secretário de Estado das Pescas e ministro dos Negócios Estrangeiros2.

Ao longo da sua carreira, desempenhou cargos de topo em organizações internacionais, incluindo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e a Comissão Oceanográfica Intergovernamental da UNESCO (COI/UNESCO), onde foi secretário executivo, de 1980 a 1989.
Foi figura-chave na realização da Expo’98 (Exposição Mundial de 1998), em Lisboa, e na atracção de agências europeias e internacionais para Portugal, na área do mar. Foi também membro da Comissão Mundial Independente para os Oceanos e desempenhou um papel crucial na criação da Agência Europeia de Segurança Marítima (EMSA), em Lisboa. Além disso, foi fundador e presidente do European Centre for Information on Marine Science and Technology (EurOcean) e presidiu ao Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável, à Comissão Oceanográfica Intersectorial e ao Comité Português para a COI/UNESCO.

Movendo-se, a um tempo, nos planos científico, político e diplomático, incansavelmente, até ao fim dos seus dias, aos 90 anos, Mário Ruivo foi director e presidente de diversas instituições nacionais e internacionais ligadas aos oceanos e às pescas, à investigação científica, em geral, e ao ambiente e desenvolvimento sustentado, em particular. Ao ser uma personalidade conhecida e respeitada internacionalmente, foram numerosos os prémios, as medalhas e as condecorações nacionais e estrangeiras com que foi agraciado, com destaque para o Prémio D. Carlos I (em 1951), para os graus honoríficos de Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant’Iago de Espada e de Cavaleiro da Legião de Honra (em França)3, bem como dos doutoramentos Honoris Causa pela Universidade dos Açores (em Janeiro de 2010) e pela Universidade do Algarve (em Dezembro de 2016), além da atribuição do Prémio Cidadão Europeu4 (em 2015).
O seu legado permanece vivo através do trabalho de cientistas que continuam a promover a sustentabilidade dos oceanos, inspirados pela sua visão e dedicação.
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Notas da Redacção:
1 – O presente artigo de opinião de António Galopim de Carvalho dá continuidade ao artigo intitulado “Dia Mundial dos Oceanos”, publicado na recente segunda-feira (8 de Junho de 2025). Aconselhamos também a leitura do artigo “Mário Ruivo: o cientista visionário que nos devolveu o oceano“, da autoria de Abílio Louro de Carvalho, publicado na edição de 13 de Março de 2023.

2 – Mário Ruivo foi ministro dos Negócios Estrangeiros no V Governo Provisório (em 1975) e secretário de Estado das Pescas nos II, III e IV Governos Provisórios (1974-75).
3 – Este político português e cientista pioneiro na defesa do oceano e no lançamento das temáticas ambientais em Portugal foi alvo das seguintes condecorações: Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique (em Portugal, a 21 de Agosto de 1990), Grande-Oficial da Ordem do Mérito (em Malta, a 3 de Março de 1995), Grande-Oficial da Antiga, Nobilíssima e Esclarecida Ordem Militar de Sant’Iago da Espada, do Mérito Científico, Literário e Artístico (em Portugal, a 9 de Junho de 1998), Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico (no Brasil, em Outubro de 1998), Grã-Cruz da Ordem do Mérito (em Portugal, a 9 de Julho de 1999) e Cavaleiro da Ordem Nacional da Legião de Honra de França.
4 – Mário João de Oliveira Ruivo foi distinguido com o Prémio Cidadão Europeu (em 2015), pelo Parlamento Europeu, pelo seu contributo para a “promoção do entendimento e a integração de cidadãos na União Europeia e a cooperação entre países”.
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12/06/2025