“Migrantes, não venham!”: prefeito de Nova Iorque quer convencer migrantes a não irem para a sua cidade

 “Migrantes, não venham!”: prefeito de Nova Iorque quer convencer migrantes a não irem para a sua cidade

O prefeito de Nova Iorque, o democrata Eric Adams. (cartacapital.com.br)

Os estadunidenses não deixam de surpreender. Li, ontem (4 de Outubro), que o prefeito de Nova Iorque, Eric Adams, fará um giro por alguns países da América Latina, nesta semana, passando pelo México, pelo Equador e pela Colômbia. Conforme a notícia, o objetivo dessa viagem é convencer as pessoas, no caso, possíveis migrantes, a não pedirem asilo na sua cidade, Nova Iorque. Segundo ele, o fluxo massivo de migrantes à “Grande Maçã” já esgotou a capacidade do sistema de albergues e também os recursos financeiros.

Em princípio, li e não acreditei. Aí, fui checar. Pois é verdade! A viagem tem início no México onde ele participa num fórum de discussão e se reúne com gente do governo. Depois, segue para Quito, onde fará mais reuniões e, seguidamente, em Bogotá. Por fim, também está disposto a visitar a Região (ou Tampão) de Darién, uma perigosa rota de passagem de migrantes que caminham em direção aos Estados Unidos da América (EUA).

Um grupo de migrantes descansa perto de Acandía, na costa caribenha da Colômbia, antes de cruzar a selva de Darién (Créditos fotográficos: AFP_tickers – swissinfo.ch)

O seu singelo pedido para que os migrantes não rumem até Nova Iorque deve-se ao fato de que, só no último ano, a cidade acolheu mais de 120 mil migrantes e de, em cada dia, chegarem mais centenas de pessoas buscando oportunidades. “Estamos no limite”, diz. Atualmente, o prefeito mudou algumas regras para os migrantes, limitando a estadia de adultos nos albergues, até 30 dias.

Nova Iorque recebe muita gente porque tem um acordo legal que subsiste há várias décadas e que obriga a municipalidade a proporcionar albergues a qualquer pessoa que solicite. Ele, assim, pretende dizer aos futuros migrantes que estes albergues não são hotéis de cinco estrelas e que tampouco estar ali significa que vão conseguir emprego. Aparte isso, também busca a justiça estadunidense, na tentativa de suspender esse acordo histórico.

Manhattan (Nova Iorque). (Créditos fotográficos: Michael Discenza – Unsplash)

Para nós, que vivemos neste espaço geográfico latino-americano, a viagem do prefeito de Nova Iorque soa como algo bizarro. Ao que parece, a sua conversa se limitará a membros dos governos e a participantes de fóruns de migração. Não necessariamente chegará aos ouvidos dos candidatos a migrante. E é, verdadeiramente, inesperado que um governante de uma cidade gigante, como Nova Iorque, não tenha qualquer ideia do que é que leva pessoas de todos os países da América Baixa a migrarem.

Os EUA, ao longo dos anos, têm sido o principal agente de empobrecimento e de violência nesta parte do Mundo, com intervenções armadas, intervenções econômicas, apoio a ditaduras, políticas de arrocho e uma infinidade de ações que mantêm estes países na dependência e no subdesenvolvimento.

Assumindo o seu papel de império, de país rico, os EUA aparecem no imaginário das gentes empobrecidas como o lugar da fartura e da oportunidade. E é por isso que eles dirigem as suas vidas para aquele lugar. Atualmente, os migrantes da América do Sul e Central organizam-se em grandes vagas de gente, por vezes, com colunas de mais de quatro mil pessoas, todas fugindo da miséria e da violência que grassa em seus países de origem. Sonham desfrutar do banquete dos ricos e, então, arriscam as suas vidas.

Polícia guatemalteca reprime caravana com nove mil centro-americanos na fronteira entre Guatemala e Honduras; migrantes tentam chegar aos EUA. (Créditos fotográficos: Johan Ordonez/ AFP – brasildefato.com.br)

Chegando à fronteira com os EUA, enfrentam a morte, a polícia, as condições insalubres, a separação dos filhos e muitas outras adversidades. Ainda assim se atiram em esperanças. Por isso, o pedido do prefeito de Nova Iorque soa patético e cínico. Porém, o democrata Eric Adams é conhecido como um governante que é “bom” para os migrantes, porque tem encabeçado, com outros prefeitos, um movimento junto do governo federal para que facilite aos migrantes a obtenção do visto, garantindo que eles possam entrar logo no mercado de trabalho e, assim, saírem das “costas” da municipalidade.

A questão da migração, muito provavelmente, não se resolverá com essa viagem do prefeito Adams. Afinal, a única medida que poderia estancar o fluxo intenso de pessoas em fuga seria, justamente, os Estados Unidos encerrarem a sua política imperialista de intervenção nos países da América Latina, permitindo que cada país pudesse viver em paz, bem como a sua gente.

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05/10/2023

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Elaine Tavares

Jornalista e educadora popular. Editora da «Revista Pobres e Nojentas», com Miriam Santini de Abreu. Integra o coletivo editorial da «Revista Brasileira de Estudos Latino-Americanos». Coordenadora de Comunicação no Instituto de Estudos Latino-Americanos da Universidade Federal de Santa Catarina (no Brasil).

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