Moluscos, algas e outros seres marinhos na origem da maioria dos calcários

Colagem de moluscos. (pt.wikipedia.org)
No que respeita à origem orgânica destes calcários, ditos biogénicos ou organogénicos, a pergunta que se coloca à partida é: “Como é que os seres vivos marinhos e, à semelhança destes, os lacustres e outros aquáticos, sintetizam o carbonato de cálcio com que edificam os respectivos esqueletos?”
Num esquema muito geral, especialmente simplificado para o efeito, a resposta é simples de abarcar.

Recuemos, então, por exemplo, uns 170 milhões de anos, ao Jurássico Médio, muito bem representado em Portugal, nos calcários das serras do Sicó e de Aires e Candeeiros, num tempo em que o território a que corresponde a Península Ibérica se encontrava numa latitude intertropical, sob um clima de tipo tropical húmido, com temperaturas sempre superiores aos 20ºC e com acentuada pluviosidade anual, à semelhança do que acontece, actualmente, nesta zona da Terra.

Nestas condições climáticas, a alteração dos minerais de muitas rochas das terras emersas é imensa, quer nos continentes (granitos calco-alcalinos, granodioritos, dioritos e gabros, entre ouros) quer nas ilhas vulcânicas (sobretudo, andesitos e basaltos). Muitos minerais dessas rochas (plagióclases, horneblenda e augite, entre outros) contêm cálcio nas respectivas composições.
Por um processo químico conhecido por hidrólise, aqui apresentado, como se disse, de forma muito esquemática (essencial à compreensão do mesmo), a água – no estado líquido, morna e abundante, como é próprio destas latitudes – dissocia os iões destes minerais (mais intensamente do que em qualquer outra zona climática), entre eles o catião cálcio, bivalente positivo (Ca2+), que transporta, através dos rios, a caminho do mar e dos lagos. Também a calcite (carbonato de cálcio) dos calcários e a dolomite (carbonato de cálcio e magnésio) dos dolomitos, existentes nas terras emersas se deixam dissolver pelas águas gasocarbónicas da chuva, que, como é sabido, contêm dióxido de carbono em solução, libertando o dito catião. Recorde-se aqui que, juntamente com a água, o dióxido de carbono comporta-se como um ácido.
Para que os seres vivos “fabriquem” o carbonato de cálcio dos respectivos esqueletos, têm de juntar o catião Ca2+ ao anião carbonato (CO32-) sempre presente e abundante na água do mar, uma vez que esta dissolve o dióxido de carbono (CO2) do ar, no imenso contacto que tem com a atmosfera.
Uma vez na água, o dióxido de carbono dá origem ao referido anião.

O carbonato de cálcio surge então da combinação:
Ca2+ + CO32- → CaCO3
Quando atacamos o calcário com um ácido, como, por exemplo, o ácido clorídrico diluído em água (a 10%), a efervescência, ou seja, o borbulhar gasoso que se produz corresponde à libertação, sob a forma de dióxido de carbono, do oxigénio e do carbono da atmosfera contemporânea da sua formação. O cálcio envolvido nesta reacção química fica dissolvido na água sob a forma de cloreto de cálcio, segundo o esquema:
2HCl + CaCO3 → CaCl2 + H2O + CO2

Representando a imensa maioria dos calcários, os classificados de biogénicos resultam directa ou indirectamente da actividade de seres vivos, em águas litorais pouco profundas e mornas, mais precisamente, nas zonas neríticas (do grego “nerítes”, alusivo a conchas ou a moluscos), das regiões intertropicais.

Referidos por alguns como calcários neríticos, uns são o produto da acumulação seguida da diagénese (petrificação ou litificação) de restos esqueléticos ricos em carbonato de cálcio, acumulados mecanicamente, por gravidade – e, nesta medida, são ditos bioacumulados. Outros resultaram da actividade de certos organismos fixos, construtores de recifes, sendo, por isso, referidos como bioconstruídos ou bioedificados.
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24/10/2024