Monumento Natural das Pegadas de Dinossáurios da Serra de Aire

 Monumento Natural das Pegadas de Dinossáurios da Serra de Aire

António Galopim de Carvalho confirma que “a utopia é a força que transforma os sonhos em realidade”. (dererummundi.blogspot.com)

A 9 de Dezembro de 2024, no pequeno auditório do Monumento Natural das Pegadas de Dinossáurios de Ourém-Torres Novas, foi assinado, pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), pela Associação Portuguesa dos Industriais de Mármores, Granitos e Ramos Afins (ASSIMAGRA) e pela Associação para o Desenvolvimento das Serras de Aire e Candeeiros (ADSAICA), o protocolo para a primeira fase da musealização deste importante geomonumento. A utopia é a força que transforma os sonhos em realidade. Estamos todos de parabéns!

Cerimónia de assinatura de protocolo realizada a 9 de Dezembro de 2024, no pequeno auditório do Monumento Natural das Pegadas de Dinossáurios de Ourém-Torres Novas. (Direitos reservados)

Uma história de mais de um quarto de século

Tudo começou com um telefonema, na manhã do dia 6 de Julho de 1994, já lá vão 30 anos. João Carvalho e os seus companheiros da Sociedade Torrejana de Espeleologia e Arqueologia (STEA) acabavam de descobrir, na Pedreira do Galinha, junto da localidade de Bairro, entre Torres Novas e Fátima (numa paisagem eminentemente calcária, no flanco oriental da serra de Aire), os mais longos e também os mais antigos e bem conservados trilhos de dinossáurios saurópodes de que havia conhecimento.

Foi nesta localidade da freguesia de Nossa Senhora das Misericórdias, no concelho de Ourém, que a empresa Alfredo Galinha, L.da iniciou, há décadas, a exploração da pedreira que trouxe à luz do dia a que se tornou uma das mais famosas jazidas com pegadas de dinossáurios do Mundo. Exposta na imensa laje que constituía o fundo da pedreira, então ainda em plena laboração, cedo se tornou notícia entre a comunidade científica nacional e internacional.

No dia 9 de Dezembro de 2024, foi assinado, pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, pela Associação Portuguesa dos Industriais de Mármores, Granitos e Ramos Afins e pela Associação para o Desenvolvimento das Serras de Aire e Candeeiros, o protocolo para a primeira fase da musealização deste importante geomonumento. (Direitos reservados)

Vários atributos fizeram desta jazida um caso único, não só do lado de dentro das nossas fronteiras, como à escala do planeta:

1 – A abundância e perfeição das pegadas, em número de mais de quatro centenas, organizadas em duas dezenas de trilhos, dois dos quais com mais de 140 metros de comprimento, constituíram, desde logo, um factor de enorme interesse para o achado.

2 – A idade da camada de calcário que conserva um tal testemunho da passagem destes animais, atribuída ao Jurássico Médio, com cerca de 175 milhões de anos, representa outra novidade para a Paleontologia. Provou-se, aqui, que este grupo de grandes herbívoros já existia bem representado nessa altura, isto é, uns 25 milhões de anos mais cedo do que o intervalo de tempo que era atribuído à sua passagem pela Terra.

3 – Os animais e o seu grande porte, como é deduzido pelas marcas aqui deixadas. Estas pegadas indicam herbívoros (saurópodes) com cerca de 30 metros (m) de comprimento e dezenas de toneladas de peso, o que constitui mais um elemento valorativo da ocorrência.

4 – O grande número de trilhos é indicador de determinados comportamentos individuais e sociais.

5 – A nitidez e a boa definição das pegadas forneceram elementos que ajudam a caracterizar a morfologia das extremidades dos membros.

6 – As dimensões da jazida, invulgarmente espaçosa (250×250 m), contendo os icnofósseis(ou seja, as pegadas) – o topo de uma única laje, levemente basculada para Norte, no sentido do escarpado (com 30 m de altura) deixado pela frente de exploração –, dão-lhe invulgar espectacularidade, susceptível de ser apreciada a partir de diversos locais de observação, quais miradouros espalhados ao longo de um percurso pedonal com cerca de 1600 m, que circunda a totalidade do Monumento Natural.

7 – Grande importância, como pólo de atracção turística, convicção amplamente potenciada pela proximidade (a cerca de 10 quilómetros) do Santuário de Fátima.

Estudos paleontológicos da jazida

Martin Lockley, em 2022, no Main Tracksite, em Dinosaur Ridge.
(Créditos fotográficos: Kristen Kidd – denverpost.com) 

Após estudo preliminar da jazida realizado no Museu Nacional de História Natural  (MNHN), solicitei à Fundação Luso-Americana a vinda a Portugal do Professor Martin Lockley, destacado especialista em Paleoicnologia da Universidade do Colorado, em Denver.

Entusiasmado pelo interesse científico, grandiosidade e espectacularidade desta jazida, este colega elaborou um parecer altamente favorável à defesa de mais este monumental património paleontológico, a fim de ser presente ao governo e às duas câmaras municipais, de Ourém e de Torres Novas, que partilham entre si a área ocupada pela jazida.

Refira-se, igualmente, que o estudo icnopaleontológico de pormenor desta jazida consta da dissertação de doutoramento de Vanda Faria dos Santos.

Momento da sessão da assinatura do protocolo para a primeira fase da musealização do Monumento Natural das Pegadas de Dinossáurios de Ourém-Torres Novas, em 9 de Dezembro de 2024. (Direitos reservados)

Uma promessa cumprida

Estava-se em plena campanha eleitoral para as legislativas de 1995. Aproveitando a visita a Torres Novas do candidato do Partido Socialista, António Guterres, foi-lhe mostrada a jazida, que não deixou de o impressionar. Questionado sobre o que iria decidir sobre o futuro desta jazida, prometeu empenhar-se na sua defesa.

Com efeito, uma vez eleito, o novo primeiro-ministro fez cumprir a sua palavra. Assim, após conversações entre o governo e o industrial, foi acordado pôr fim à exploração, mediante uma indemnização de cerca de um milhão de contos ao concessionário, e a entrega do sítio à administração do então Parque Nacional das Serras de Aire e Candeeiros (PNSAC). Cabe-me, ainda, lembrar o papel significativo da então (no primeiro governo de António Guterres, entre 1995 e 1999) ministra do Ambiente, Elisa Ferreira, que deu todo o seu apoio a esta causa (era ministro das Finanças o malogrado António de Sousa Franco), bem como enaltecer o civismo do concessionário Rui Galinha que, com vultuoso prejuízo material, esperou mais de um ano com a exploração suspensa, na incerteza da decisão do referido ministro das Finanças.

Indicada por Portugal, para integrar a Comissão Europeia, Elisa Ferreira, em finais dos anos 90 e começos do novo milénio, teve papel de relevo na defesa e valorização do Monumento Natural das Pegadas de Dinossáurios da Serra de Aire, na antiga Pedreira do Galinha.  (sopasdepedra.blogspot.com)

Programa preliminar

Em 1996 (já lá vão 29 anos), na qualidade de director do então MNHN (actual, Museu Nacional de História Natural e da Ciência – MUHNAC) , concebi (com o apoio, no plano da arquitectura, de Mário Moutinho) um programa preliminar de musealização deste geomonumento (é assim que o classifico), que submeti à apreciação de responsáveis, a diversos níveis do governo (do Ambiente, da Educação, da Ciência e Tecnologia, da Cultura, da Juventude e do Turismo). Foi, pois, constituído um primeiro documento onde se propunha um plano de acção a curto, a médio e a longo prazos, visando a implantação, no local, de uma vasta estrutura museológica e demais equipamentos de apoio.

Desse programa, que se perdeu nas gavetas das administrações, constava:

1 – Restauro e consolidação da camada de calcário que contém as pegadas, mediante intervenção adequada, em especial nas zonas esmagadas e/ou fracturadas pelas cargas de dinamite e sujeitas à erosão pelas águas pluviais. Esta intervenção começou, agora, a ser executada pela empresa Floradata.

2 – Valorização das pegadas, operando experiências de sombreado (com corantes a definir) que as assinalem, qualquer que seja a incidência da luz solar; ou em dias de céu encoberto e de iluminação difusa, aliás, muito frequentes. Esta sugestão, que ainda não foi adotadas, é a que melhor reproduz a imagem que se tem pela manhã, em dias de sol, evocando um cenário de grande realismo, como se tivessem acabado de passar por ali os dinossáurios de que aqueles trilhos são testemunho. Nunca consegui convencer os responsáveis pelo Monumento Natural da necessidade deste procedimento, que tive a oportunidade de apreciar numa jazida na Alemanha. O recurso à pintura uniforme do total das pegadas, como foi ali tentado, anula-lhes o relevo, oferecendo uma imagem irreal, estampada na pedra, que se afasta do realismo que deveria ser procurado.

3 – Implantação de um sistema de passadiços, sobrelevados 20 a 30 centímetros do chão, ladeando os principais trilhos, com gradeamento, que permitissem ao visitante percorrê-los sem pisar a laje, num circuito cómodo. Esta sugestão foi agora adoptada.

Pormenor do Jardim Jurássico. (pt.wikipedia.org)

4 – Criação de um “Jardim Jurássico” com plantas de grupos característicos do Jurássico e ainda existentes, a localizar num recanto da pedreira, há muito abandonado e abrigado do quadrante norte, exemplificativo da flora contemporânea dos dinossáurios que ali viveram. Este recanto seria valorizado pela simulação de um ambiente tropical, húmido e quente, em regime de estufa. Entre as plantas e por indicação do biólogo e ex-professor universitário, que dirigiu o Jardim Botânico de Lisboa, Fernando Catarino, deveriam figurar, ali Equisetum, Polipodium, Pteridium, Cycas, Ginkgo, Araucaria, Podozamites, Cupressus, Taxodium, Podocarpus, etc. No interior deste jardim, projectava-se a localização de um lago naturalizado. Da superfície da água deste lago propunha-se que saísse o longo pescoço e a cabeça de um saurópode, dispensando, assim, a execução do restante corpo do animal (a mais dispendiosa) cuja presença submersa fica subentendida. Esta proposta de Jardim Jurássico foi parcialmente concretizada mais tarde. Fazer sair da água do lago o pescoço de um herbívoro, semelhante aos que ali deixaram as pegadas, constituiria um elemento pedagógico sugestivo e de custo reduzido.

O biólogo e ex-professor universitário, que dirigiu o Jardim Botânico de
Lisboa, Fernando Catarino. (dererummundi.blogspot.com)

5 – Percurso de circulação pedonal: aproveitamento de um percurso na periferia do sector da pedreira, onde se distribuem as pegadas, com definição de locais de observação apoiados em painéis explicativos. Neste percurso, minimamente naturalizado e equipado (com réplicas de diversas espécies de dinossáurios, incluindo bancos, guaritas, cestos para papéis e lixo, bebedouros e sanitários), deveria ser privilegiado, como miradouro, um local bem definido a WSW (a oés-sudoeste), no enfiamento dos dois trilhos principais, uma vez que é daqui que se obtém a visão mais grandiosa e espectacular da jazida. Este miradouro não foi instalado

6 – Criação de um museu e centro de interpretação com o equipamento adequado (auditório, biblioteca e arquivo, salas de exposições e oficinas pedagógicas, refeitório, cafetaria, loja, sanitários, etc.), agora, muito parcialmente concretizado.

7 – Exposição de esqueletos montados, num pavilhão concebido para oferecer ao visitante um complemento do maior interesse pedagógico.

8 – Parque de merendas convenientemente equipado.

9 – Viagem no passado da Terra entendida como um circuito pedonal concebido como uma viagem no passado da Terra, ao longo do qual se poderia observar uma sucessão, convenientemente escolhida, de réplicas de animais e de plantas que só conhecemos através dos fósseis, incluindo, no final, o Homem pré-histórico, bem enquadrados em encenações adequadas, com vegetação arbórea e arbustiva compatível, à semelhança do que existe no museu de ar livre Dinopark Münchehagen (em Hannover, na Alemanha).

Museu de ar livre Dinopark Münchehagen (em Hannover, na Alemanha).(tripadvisor.pt)

10 – Espectáculos nocturnos de luz e de som, tendo em conta a grandiosidade da jazida e a proximidade de um centro grandemente atractivo de visitantes, como é o caso de Fátima. Foi considerada a hipótese de instalar, aí, um complexo sistema informatizado, em realidade virtual, com utilização de “luz laser”, para apresentação, em espectáculos nocturnos de luz e de som, durante os meses estivais.

11– “Comboio do tempo”, no género dos conhecidos “comboios-fantasmas”, que atraem curiosos de feira em feira, circulando num “corredor do tempo” onde, com recurso aos novos meios de imagem, o visitante pudesse recuar à Pré-História.

12 – Jardim infantil, equipado com elementos usuais neste tipo de espaços, tais como carrosséis, baloiços, escorregas, etc., concebidos com base em estilizações de dinossáurios e de outros animais pré-históricos.

Toro de Osborne em Las Cabeças de San Juan, na Espanha.
(pt.wikipedia.org)

13 – Silhuetas gigantes: a jazida tem como fundo de horizonte próximo, a NE (nordeste), um cabeço arredondado onde poderiam ser colocadas silhuetas gigantes de saurópodes (à semelhança do Touro de Osborne, em Espanha). Do lado oposto, a NW (noroeste), um cabeço mais amplo e mais próximo, permitiria a implantação de uma “manada” ou grupo de adultos e de crias de saurópodes, descendo a vertente, no sentido da jazida.

14 – Restaurante e/ou cafetaria com área coberta e esplanada

15 – Albergue de juventude, com um número de camas a definir. Sugeriu-se a hipótese de adaptação a uma construção situada 400 m a NW da jazida, de momento, com um impacto visual negativo, mas susceptível de beneficiação.

16 – Parque automóvel: em apoio aos visitantes, considerou-se a criação de um parque automóvel para veículos ligeiros e pesados, de dimensões a definir.

17 – Os anúncios publicitários do complexo museológico, para além daqueles a colocar nas estradas interiores de acesso ao local, a partir de Fátima, de Torres Novas, de Ourém, etc., deverão incluir informação adequada na Autoestrada A1 (que liga Lisboa com o Porto).

Primeiro grupo de trabalho

No sentido de sensibilizar o governo de então a salvar este geomonumento, logo entendido como importante, organizou-se um grupo de trabalho coordenado pela arquitecta Maria João Botelho, que era a directora do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros (PNSAC), o qual integrava o engenheiro Carlos Caxarias, em representação da Direcção Geral de Minas, o biólogo José Manuel Alho, na qualidade de elemento da Quercus (Associação Nacional de Conservação da Natureza), o industrial Rui Galinha, o vereador David Catarino (que seria, mais tarde, presidente da Câmara Municipal de Ourém), assim como vereador Pedro Ferreira, da Câmara Municipal de Torres Novas  (também ele, posteriormente, foi eleito presidente desta autarquia), e uma representação do Museu Nacional de História Natural, composto pela paleontóloga Vanda Santos e por mim, na qualidade de director do dito MNHN.

O local de reunião foi o escritório da própria pedreira e para ali se correu regularmente, durante meses, até se conseguir o objectivo final: salvar a jazida.

(sopasdepedra.blogspot.com)

Monumento Natural

Por proposta minha – nessa altura, era eu o director do MNHN –, esta jazida foi classificada como Monumento Natural, em 1996, pelo Decreto Regulamentar 12/96, de 22 de Outubro, dando conta de que a “jazida de pegadas de dinossáurios do Cabeço dos Casanhos, vulgarmente conhecida por pedreira do Galinha, situada no limite dos concelhos de Torres Novas e de Ourém, reveste-se de invulgar valor científico, pedagógico e cultural”.

Os limites do Monumento Natural são os fixados na carta que constitui o anexo I ao referido diploma, do qual faz parte integrante. (files.diariodarepublica.pt)

Segundo grupo de trabalho

Em Janeiro de 1997, foi criado, pelo ICN (Instituto da Conservação da Natureza, actual ICNF), por diligência da então presidente Teresa Andresen, um grupo de trabalho visando o “Programa de Intervenção no Monumento Natural das Pegadas de Dinossáurios da Serra de Aire”, coordenado pelo biólogo José Manuel Alho (representante da Quercus), de que fiz parte e no qual pudemos contar com a valiosa participação do arquitecto Martins Barata.

Os trabalhos prosseguiram a bom ritmo, havendo, na altura, disponibilidade financeira para executar algumas das propostas iniciais e outras surgidas no seio deste grupo de trabalho – isto enquanto durou a equipa ministerial liderada pela professora Elisa Ferreira.

Desde a sua abertura ao público e até 2002, houve financiamento para inovações importantes, com destaque para o “Painel do Tempo”, uma pintura mural com 25 metros de comprimento, da autoria de Martins Barata, anexa ao Jardim Jurássico, e o “Aramossaurus”, uma enorme estrutura metálica, estilizando um gigantesco saurópode, em tamanho natural, do tipo daqueles que deixaram ali os seus rastos há 175 milhões de anos, concebida pelo mesmo arquitecto. Esta mais-valia, assim chamada porque o estudo inicial, em modelo reduzido, foi construído em arame, está implantada em local cimeiro, sendo visível de todos os pontos do Monumento Natural.

“Aramossáurio” é o cartão de visita do parque e Monumento Natural das Pegadas dos Dinossáurios da Serra de Aire. (Créditos fotográficos: Vítor Oliveira – pt.wikipedia.org)

Numa primeira fase, o PNSAC abriu a jazida ao público, com um mínimo de equipamentos que permitiam uma visita, não a ideal, mas satisfatória, antecedida de uma explicação prévia em vídeo, seguida de um percurso a pé, ao longo de um itinerário traçado, apoiado com vários painéis explicativos. Satisfazia-se, assim, ainda que provisoriamente, alguma pressão que se fazia sentir por parte da imprensa e de um público legitimamente curioso e sempre interessado.

Desde logo, ficou claro que esta jazida é um local de potencial científico, pedagógico, cultural e, por todas estas razões, também turístico.

Vista da pedreira. (pt.wikipedia.org)

1 Científico, porque foi alvo de estudo (publicado em diversos trabalhos, incluindo uma dissertação de doutoramento);

2 pedagógico, na perspectiva de prestar apoio ao ensino, dirigido a grupos escolares nas áreas da Geologia regional (Maciço Calcário Estremenho), da Paleontologia e da Paleobiologia dos dinossáurios, da Educação Ambiental e, ainda, na reciclagem e na actualização de conhecimentos destinadas a educadores e a professores;

3cultural, na medida que tem preocupações de divulgação do saber científico, destinado ao público, não só no domínio da temática da jazida, como no das Ciências da Natureza e do Ambiente, em geral;

4 turístico, por enquanto intencionalmente moderado, será função do investimento que aqui se venha a fazer e na perspectiva de que, ali, mesmo ao lado, dez quilómetros a Norte, o Santuário de Fátima recebe milhões de visitantes por ano.

Protocolo de 18 de Maio de 1998

Com vista à conveniente musealização do que passou a ser designado por Monumento Natural das Pegadas de Dinossáurios da Serra de Aire, o MNHN assinou, em 18 de Maio de 1998, um protocolo com Instituto de Conservação da Natureza (ICN), com o Instituto de Promoção Ambiental (IPA) e com a Associação para o Desenvolvimento das Serras de Aire e Candeeiros (ADSAICA). Neste espírito, seja qual for o regime (público ou privado) da sua exploração turística, o MNHN continua a ter competência para participar na elaboração das citadas regras e na fiscalização do seu cumprimento por parte das eventuais entidades concessionárias, e deverá ser chamado a fazê-lo.

Além deste aspecto, o MNHN, como entidade neste processo com idoneidade científica para o objectivo em vista, deverá continuar a participar na produção de toda a documentação informativa no que concerne aos aspectos científicos, pedagógicos e culturais da ocorrência, tais como guias, folhetos, brochuras, cartazes, postais, diapositivos, vídeos, etc.

Trilho de pegadas de dinossáurios, na serra de Aire. (Créditos fotográficos: Manuel V. Botelho – pt.wikipedia.org)

A 9 de Julho de 2022, foi realizada, na dita pedreira, a inauguração do Centro de Interpretação e de um bem pensado conjunto de passadiços que permitem ver de perto os longos trilhos com pegadas de dinossáurios. Tratou-se da concretização de uma pequena parte do dito programa preliminar. Sou o primeiro a felicitar o ICN e a ADSAICA pelas intervenções inauguradas, mas estou certo de que muito mais se poderá e deverá fazer. E tenciono envolver-me, ao limite das minhas capacidades, na sua concretização.

Nessa ocasião, tornei público um meu propósito relativamente a este geomonumento. Era um sonho ambicioso, mas todos sabemos (com António Gedeão e cantado por Manuel Freire) que “sempre que um homem sonha / o mundo pula e avança”. O que eu então pretendia e ainda pretendo ultrapassa o muito e bom que já li se fez. Trata-se de uma iniciativa pessoal que só me compromete a mim, não só na qualidade de cidadão, que sempre fui e sou, mas também na de quem, desde a primeira hora, ali deixou muito trabalho.

Já o afirmei, por palavras faladas e escritas, que não pretendo ultrapassar ninguém. Felizmente, o relacionamento com o ICNF foi o melhor que se podia desejar. O sucesso alcançado deve-se, sobretudo, ao trabalho do engenheiro Rui Rombo, da engenheira-geóloga Lia Mergulhão e da doutora Ana Falcão. O sonho começa a ser realidade.

António Galopim de Carvalho, em 1996, na qualidade de director do então MNHN, concebeu um programa preliminar de musealização deste geomonumento. (Direitos reservados)

Tenho 93 anos, muito provavelmente não o irei ver concluído, mas vê-lo arrancar já é uma felicidade. Este meu propósito, muito claro e frontal, era:

1 – divulgar amplamente a real importância desta jazida.

2 convencer as entidades que tutelam este geomonumento a encontrarem meios para fazer nascer um projecto a ser “pensado em grande”, com projecção internacional, compatível com as características que o distinguem a nível mundial; e

3   convencer as mesmas entidades a encontrarem o financiamento necessário para a sua execução.

(Direitos reservados)

Oportunamente, informei, deste meu propósito, o director regional de Lisboa e Vale do Tejo do ICNV, bem como os presidentes das câmaras municipais de Torres Novas e de Ourém, a par do presidente da Associação para o Desenvolvimento das Serras de Aire e Candeeiros (ADSAICA) e do reitor da Universidade de Lisboa.

Reafirmo que sou o primeiro a felicitar o ICN e a ADSAICA pelas intervenções que acabam de inaugurar, convicto de que muito mais se poderá e deverá fazer.

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09/01/2025

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A. M. Galopim Carvalho

Professor universitário jubilado. É doutorado em Sedimentologia, pela Universidade de Paris; em Geologia, pela Universidade de Lisboa; e “honoris causa”, pela Universidade de Évora. Escritor e divulgador de Ciência.

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