“Não existirá futuro sem fruturo”

O embaixador da Palestina na ONU, Riyad Mansour, durante discurso em 28 de Maio de 2025. (Créditos fotográficos: Nações Unidas – blogdopavulo.com)
“É um horror que a mente não compreende, que o coração não suporta”, declarou o embaixador da Palestina na Organização das Nações Unidas (ONU), na quarta-feira (28 de Maio), num discurso no Conselho de Segurança da ONU. Não sei se os mandantes do Mundo se comovem ou se continuam indiferentes perante as imagens de Riyad Mansour a bater na mesa e a chorar, referindo-se ao caso da médica pediatra Alaa al-Najjar que perdeu nove filhos num ataque aéreo israelita, sete dos quais chegaram ao Hospital Nasser, em Khan Younis (no Sul de Gaza), quando ali estava a trabalhar, e que não os reconheceu devido às queimaduras.

Também deprime e revolta observarmos, diariamente, a inércia dos que se acomodam às ambições pessoais miseráveis e que se desinteressam das narrativas da desgraça dos outros e da crua realidade das crianças que morrem, sobretudo à fome, na Faixa de Gaza, na Ucrânia e nas guerras civis no Iémen (situação que se agrava com os ataques israelitas e norte-americanos), em Myanmar (antiga Birmânia) e na Síria, entre outros conflitos armados mais ou menos localizados que afectam a estabilidade das populações em várias regiões do planeta.
Ao participar no Conselho de Segurança da ONU, Riyad Mansour afirmou que mais de 1300 crianças palestinianas foram mortas e que cerca de quatro mil ficaram feridas desde que Israel (que se está a transformar num estado quase pária) retomou a ofensiva militar no enclave da Faixa de Gaza.

“São crianças. Crianças… Crianças!”, repetia o diplomata, lembrando-se naturalmente dos seus netos. “Dezenas de crianças estão a morrer de fome. Há imagens de mães a abraçar os corpos dos filhos, acariciando os cabelos deles e pedindo desculpas”, denunciava Riyad Mansour, cujas lágrimas lhe interromperam o discurso. “Sei o que eles significam para as suas famílias”, prosseguiu, apesar da emoção e da angústia de “ver isso acontecer” com os Palestinianos e “ninguém fazer nada”. “É insuportável”, confessa, no seio da ONU que, desde 1950, assinala o Dia Mundial da Criança, com o objectivo de alertar para os problemas que as crianças sofrem.

Em Portugal, em Angola, em Cabo Verde, na Guiné-Bissau, em Macau, em Moçambique, em São Tomé e Príncipe e em Timor, a exemplo de muitos outros países, como a Albânia, a Arménia, o Azerbaijão ou a Bósnia e Herzegovina, a data de 1 de Junho lembra-nos que – independentemente da raça, da cor da pele, da religião, da origem social ou da nacionalidade – todas as crianças têm direito ao afecto, ao amor e à compreensão, bem como a alimentação adequada, a cuidados médicos, a educação gratuita, a protecção contra todas as formas de exploração e a crescer num clima de paz e de fraternidade. O Dia da Criança é celebrado no Brasil a 12 de Outubro. Nos Estados Unidos da América é festejado no primeiro domingo de Junho (embora possa variar de estado para estado), enquanto na França, no Canadá, na Finlândia ou no Egipto este dia é associado a 20 de Novembro, data em que, no ano de 1959, foram aprovados pela Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU) os Direitos da Criança. Igualmente, a 20 de Novembro, mas em 1989, foi adoptada pela AGNU a Convenção dos Direitos da Criança, que Portugal ratificou em 21 de Setembro de 1990.

“As crianças são sementes e o nosso futuro é fruturo. Lutamos para que nossas crianças possam, além de dormir, sonhar”, diz uma mulher da etnia guarani que, através da rede social Instagram, vejo transmitir à sua menina, ainda de colo, a cultura indígena, pintando-lhe o rosto e o corpo. Haja chão para estes sonhos!
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Nota:
O presente artigo (na versão de crónica) foi publicado na edição de ontem (domingo, 1 de Junho) do Diário de Coimbra, no âmbito da rubrica “Da Raiz e do Espanto”.
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02/06/2025