No Peru, o império contra-ataca

 No Peru, o império contra-ataca

(dialogosdosul.operamundi.uol.com.br)

O governo peruano, atualmente comandando por Dina Boluarte, abriu as portas do país para as tropas do Comando Sul dos Estados Unidos. Através de um decreto presidencial, publicado no último dia de maio (31), fica autorizada a entrada de integrantes da Força Aérea dos Estados Unidos da América (EUA), bem como da Força Militar Especial. Essa decisão, que vale até dezembro desse ano, tem por objetivo, segundo o governo peruano, treinar as Forças Armadas e a Polícia Nacional do Peru no combate ao terrorismo e para garantir a democracia.

Soldados norte-americanos fortemente armados. (Créditos fotográficos: Ahoraelpueblo – horadopovo.com.br)

Mas, quem conhece a doutrina dos EUA para a América Latina sabe muito bem o que isso significa: violência, intervenção e expropriação de riquezas. Assim como já acontece na Colômbia, os militares estadunidenses que participarem dos “treinamentos” poderão entrar em território peruano com as suas armas e gozarão de imunidade diplomática, o que indica que nada do que fizerem no país será questionado.

A lógica de treinamento levada a cabo pelo Comando Sul é bem conhecida na América Latina. O primeiro objetivo é impedir que grupos ligados à esquerda possam se organizar e o segundo, no caso do Peru, é identificar e proteger – para uso futuro, por parte dos EUA – as reservas de lítio do país. A presidente Dina Boluarte, ao permitir essa intervenção estadunidense no Peru, abre mais um doloroso processo para o povo peruano que, agora, além de lutar contra as forças internas que promovem golpes, saques de riqueza e corrupção, precisa de estar atento aos soldados estadunidenses, que terão plenos poderes para agir.

Dina Boluarte, presidente do Peru. (infobae.com)

É preciso lembrar que Dina Boluarte assumiu o governo depois de uma bem urdida tramoia que tirou Pedro Castillo do governo. O ex-presidente, que vinha sendo sistematicamente impedido de dirigir o governo, por conta de sucessivas tentativas de impedimento por parte do legislativo nacional, ao declarar a dissolução do Congresso, teve o seu mandato cassado pelo mesmo Congresso, com o apoio das forças armadas. Dina, que era a sua vice, assumiu, e tem sido uma governante títere, responsável por quase 50 mortes de peruanos, de entre os milhares que se levantaram em luta contra o golpe. Os protestos, que foram gigantes logo após a prisão de Castillo, arrefeceram por conta da feroz repressão e, entretanto, Dina amplia o drama, aceitando a sempre “prestimosa ajuda” dos Estados Unidos.

Presidente do Peru, Dina Boluarte admitiu que o governo “errou na
procura da paz e tranquilidade”.
(Créditos fotográficos: Cris Bouroncle/AFP – tsf.pt)

A decisão de Dina Boluarte não surpreende, visto que o próprio Pedro Castillo já havia sucumbido aos EUA, ainda em setembro 2022, quando também enviou pedido ao Congresso para autorizar a entrada dos soldados estadunidenses no país, visando o chamado “treinamento” das forças locais. Isso mostra também o quão frágeis têm sido os governos ditos de corte progressista, incapazes de cortar pela raiz a subserviência ao império.

A História tem registrado, de maneira inequívoca: no discurso, os EUA prometem ajudar e proteger, porém, o objetivo de sempre é garantir o controlo do país, para fazer valer os seus interesses econômicos. E a máxima de que “os Estados Unidos não têm amigos, mas apenas interesses” fica bem clara nesse caso. Para eles, tanto fazia ser Castillo quanto, agora, Dina.

Nos jornais peruanos, a direita do país se expressa jubilosa: “Aqui vai mandar a OTAN”. Vejam que o perfil de “guerra fria” parece ter voltado, porque a expressão, claramente, tem a ver com a guerra imposta pelos Estados Unidos, através da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), contra a Rússia.

Este é um filme a que já assistimos, com resultados funestos. Nunca é fria a guerra contra os povos que estão sob as botas dos Marines (Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA). Há que ver, com bastante interesse, o que acontece no Peru, porque é um ensaio para o que pode estar por vir em todo o continente.

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Nota do Director:

O jornal sinalAberto, embora assuma a responsabilidade de emitir opinião própria, de acordo com o respectivo Estatuto Editorial, ao pretender também assegurar a possibilidade de expressão e o confronto de diversas correntes de opinião, declina qualquer responsabilidade editorial pelo conteúdo dos seus artigos de autor.

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08/06/2023

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Elaine Tavares

Jornalista e educadora popular. Editora da «Revista Pobres e Nojentas», com Miriam Santini de Abreu. Integra o coletivo editorial da «Revista Brasileira de Estudos Latino-Americanos». Coordenadora de Comunicação no Instituto de Estudos Latino-Americanos da Universidade Federal de Santa Catarina (no Brasil).

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