Numa “realidade” à parte

 Numa “realidade” à parte

(Créditos fotográficos: David Marcos – Unsplash)

Esta imagem é um paradoxo para ilustrar o texto. Nada de
confusões! (sport2wear.wordpress.com)

O que se segue está longe de esgotar o assunto. Eu sei, mas é um dos ângulos principais de como, pelo menos eu penso-o assim, se pode e urge analisar a questão. Faço, simplesmente, a partilha deste texto, de forma mais ou menos íntima. Acho que o “establishment”1 (no norte-americano é notório, mas é extensível ao europeu) persiste em estar numa “realidade” à parte ou numa “bolha”, como agora se diz, em que não consegue – não consegue mesmo! – percepcionar o mundo real.

A negação da sua rejeição, cada vez maior, pela maioria dos cidadãos que se sentem (com razão) excluídos do “direito à representatividade”, além da marginalização económica, é o que melhor “explica” a ascensão de populismos de extrema-direita. Ao vermos os programas da CNN contra Donald Trump, mais evidente fica que é isso mesmo o que o fortalece.

Donald Trump (Créditos de imagem: FT montagem / Getty /
Dreamstime – ft.com)

Como se combate? Antes de tudo, saindo do pedestal e tomando um banho de realidade. As pessoas estão zangadas, insisto. E insisto que têm muitas razões para isso. Escolhem errado, porque não só ninguém mais lhes dá voz, como são vítimas da falta de clarividência crítica… Que o é resultado das políticas “kulturais” desse mesmo “establishment”, a falar em circuito fechado.

As ‘elites’ consomem bens culturais de si e para si com questões “alternativas” (de si mesmas) e ao “povo” dão a “telenovela” mal feita e lamechas ou a CMTV a escorrer sangue dos noticiários. A paupérrima polémica sobre a proposta de Orçamento do Estado para 2025 (que é tudo menos sobre o Orçamento) é um mero exemplo.

(parlamento.pt)

Não, meus amigos, não sou eu que sou conivente com a extrema-direita. Objectivamente, é o “establishment” e a “esquerda alegre”, como seu apêndice. Agora, se, por pressão, me quiserem colocar “entre a espada e a parede”, que escolham a espada ou a parede. Eu, garantidamente, não escolho. Estou lúcido “demais” para isso: nem vou render-me ao “establishment”, nem ficar seduzido com o populismo de extrema-direita.

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Nota:

1 – Por “establishment” leia-se mesmo, neste contexto, as chamadas “democracias liberais”.

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Nota do Director:

O jornal sinalAberto, embora assuma a responsabilidade de emitir opinião própria, de acordo com o respectivo Estatuto Editorial, ao pretender também assegurar a possibilidade de expressão e o confronto de diversas correntes de opinião, declina qualquer responsabilidade editorial pelo conteúdo dos seus artigos de autor.

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14/10/2024

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Jorge Castro Guedes

Jorge Castro Guedes nasceu no Porto, em 1954. Do primeiro elenco da Seiva Trupe, em 1973, como actor, seguiu carreira própria a partir de 1976 e voltou como director artístico, convidado por Júlio Cardoso, no final de 2018. Pelo meio, ficam os “seus” TEAR (Teatro Estúdio de Arte Realista), entre 1977 e 1990, e Dogma\12 – Estúdio de Dramaturgias de Língua Portuguesa (de 2012 a 2018). E leva perto de mil intérpretes dirigidos em mais de cem encenações, passando pelo Serviço Acarte da Fundação Calouste Gulbenkian, pelo Teatro Nacional Dona Maria, pelo Novo Grupo, pelo Teatro Raul Solnado, pelo Teatro da Trindade, etc. É polemista e cronista espalhado por vária imprensa e autor de trinta textos dramáticos publicados, além de diversas traduções do Galego, do Castelhano (ou Espanhol) e do Francês. Foi redactor publicitário na McCann (e freelancer) e director criativo estratégico na Boom & Bates, sempre pronto para prosseguir. Foi assessor para os dramáticos da RTP e autor/apresentador do programa “Dramazine” (entre 1990 e 1993). Estagiou com Jorge Lavelli no Théâtre National de La Colline, em Paris (na temporada de 1989 a 1990). Mestre em Artes Cénicas, pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, em 2013, frequentou anteriormente (de 1971 a 1973) Direito, na Universidade de Lisboa, e Filosofia, na Universidade do Porto, entre 1973 e 1976. Autodefine-se como um “humanista cristão pelo coração; socialmente radical, porém céptico”.

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