O planeta se move 

 O planeta se move 

(Créditos fotográgficos: Chuttersnap – Unsplash)

Nestes dias que correm, duas coisas me fazem grande falta. Uma é a análise do meu querido amigo Danilo Carneiro, sempre de olho na conjuntura mundial, cirúrgico e preciso. E a outra é de uma publicação aos moldes da revista Cadernos do Terceiro Mundo, que era assim a nossa referência máxima para compreender o mundo além continente. Por exemplo, as últimas notícias que chegam do continente africano são impactantes. Ainda que golpes e rebeliões não sejam novidade, o fato de tantos novos dirigentes apontarem caminhos nacionalistas e de suspensão da sangria dos recursos naturais e das riquezas, sinalizam que coisas importantes voltam a cruzar aqueles caminhos. A presença de bandeiras russas nos protestos populares e a presença do presidente Vladimir Putin junto aos governantes balançam o tabuleiro mundial.

(Créditos fotográficos: Annie Spratt – Unsplash)

É claro que nosso desconhecimento das entranhas da luta política na África não permite uma análise mais apurada – há que estudar mais e melhor essas novas forças que surgem –, mas, igualmente, é fato de que tanto a Rússia quanto a China estão contrabalançando o poder até então quase absoluto dos Estados Unidos da América (EUA). Não digo que isso seja bom, mas é uma mudança significativa.

A guerra na Ucrânia desatada ainda em 2014, com as barbaridades cometidas na região do Donbass contra os separatistas pró-russos, o envolvimento da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), braço armado do imperialismo estadunidense, e a tentativa de esmagar a liderança russa parecem não estar surtindo o efeito esperado. O Mundo observa os perigosos passos que vão sendo dados, visto que a Rússia é uma nação nuclear e, caso seja esfacelada, terá também o seu arsenal de morte igualmente dividido por sabe-se lá quantos senhores da guerra, malucos e mercenários, cuja única pátria é o dinheiro. Que futuro teríamos?

(jornal.unesp.br)

Na América Latina, estamos vendo a presença, cada dia maior, da China, financiando projetos grandiosos, comprando terras, investindo nos movimentos, dando movimento às economias na América Central e do Sul, realizando tratados de comércio, garantindo mercado para os produtos de cada país e avançando no controlo das riquezas estratégicas de cada um. Também é uma novidade por aqui, já que o domínio estadunidense sempre foi avassalador. É óbvio que a China não é mais nem menos “boazinha” que os EUA. Tudo são negócios e a expressão viva do capitalismo que tudo busca abocanhar. Mas, ainda assim, é uma presença diferente.

Nayib Bukele, presidente da República de El Salvador.
(portaldobitcoin.uol.com.br)

Esses acontecimentos que parecem tão distantes do nosso dia-a-dia não o são. Cada passo dado pelas grandes potências em luta respinga em nós, mais ou menos. Ainda mais num tempo em que a maior parte da esquerda latino-americana está praticamente vencida pela ideologia liberal, preferindo dar uma cara mais humana ao capitalismo em vez de destruí-lo. A situação é tão louca que governantes autoritários e ultraconservadores como Nayib Bukele, presidente da República de El Salvador, se apropriam das bandeiras que deveriam ser da esquerda e acabam aclamados pelas populações. Jair Bolsonaro, no Brasil, também foi assim. Pregava contra o sistema, ainda que mentisse.

São tempos turbulentos. Estamos atentos.

.

03/08/2023

Siga-nos:
fb-share-icon

Elaine Tavares

Jornalista e educadora popular. Editora da «Revista Pobres e Nojentas», com Miriam Santini de Abreu. Integra o coletivo editorial da «Revista Brasileira de Estudos Latino-Americanos». Coordenadora de Comunicação no Instituto de Estudos Latino-Americanos da Universidade Federal de Santa Catarina (no Brasil).

Outros artigos

Share
Instagram