Partida…

 Partida…

(Imagem gerada por Inteligência Artificial – artguru.ai)

Não foi de um dia para o outro.

Aconteceu aos poucos, contrariando a febre mundial de que sempre se deve ter algo a dizer sobre alguma coisa.

Devagarinho, elas foram falhando, até que, um dia começaram a fazer falta.

Os dedos ansiosos sobre o teclado aguardavam a enxurrada de comandos para que as palavras surgissem na folha branca do ecrã do computador. O cursor a piscar, a espera de qualquer letra que fosse… Poderia até ser meio sem-sentido. Ou, ainda, uma mistura ousada de duas línguas… Entretanto, ao que tudo indica, a timidez prevalecia…

Bem, não sei se “tímidas” seria bem a palavra exata para a descrição do que estava a acontecer. Afinal, escrever sobre o quê?

Se elas (as palavras) escolhessem transmitir sobre alguma temática banal, a voz interna (aquela que, muitas vezes, aparece sem ser chamada) faria questão de aparecer: “Por que falar de algo banal, com tudo o que anda a acontecer no Mundo?”

(Imagem gerada por Inteligência Artificial – new.express.adobe.com)

Ou, então, se decidissem escrever sobre uma das tantas temáticas dos eventos que estão a acontecer no Mundo, a mesma voz, não convidada, apareceria a dizer: “Por que deixar de escrever sobre aquelas outras?”

Ou mesmo: “Por que escolheram essa, ao invés daquela que, hoje, é muito mais urgente e importante?”

(Imagem gerada por Inteligência Artificial – new.express.adobe.com)

Foi nesse impasse interno que, pelos vistos, a decisão foi tomada por elas: “Vamos recolher-nos!”  E acrescentaram: “Decretamos: ‘Fechado para balanço’.”

Saber o momento de se recolher é compreendido, por alguns, como sabedoria. Já para outros, como traição.

A única certeza é a de que, quando elas decidirem, voltarão.

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10/03/2025

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Tainara Machado

Tainara Fernandes Machado nasceu em Porto Alegre, no Sul do Brasil e, desde fevereiro de 2019, vive em Portugal. Socióloga e educadora é, igualmente, ativista feminista e assumida anticapitalista e pelo combate à precariedade laboral e da vida. Colabora na associação A Coletiva (Associação de Combate à Precariedade – Precários Inflexíveis) e no Coletivo Andorinha, e também como investigadora colaboradora do Instituto de Sociologia da Universidade do Porto. As suas reflexões expressam os seus estudos, a ação ativista, a sua vida de (i)migrante e as travessias entre o Brasil e Portugal.

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