“Tanta casa sem gente, tanta gente sem casa”
O compositor e cantor Sérgio Godinho, no período pós-25 de abril de 1974, já indicava a longa espera de anos que se tornara urgência, e nem sabemos ao certo se vivemos – de fato – algum respiro nesse meio tempo. Entretanto, a “urgente urgência” retomou as rédeas com força e cá está mais uma vez.
Acontece que, em 2023, a paz, o pão, a habitação, a saúde e a educação ainda não são garantias em Portugal (nem no Mundo). Lisboa tem as rendas mais altas da Europa. A inflação come o salário, ao invés de prover comida a quem trabalha. A urgência está cá.
A este respeito, pode aceder aos dados do índice internacional Housing Anywhere, que analisou 64 mil imóveis em 23 cidades europeias, indicando que, no sector imobiliário, “Lisboa é a cidade mais cara da Europa para arrendar casa”.
A “urgente urgência” se agudiza com a chegada do inverno, e há pessoas a viverem em tendas ao pé de uma escola fancy (ou de idiomas) de Cascais. Ou seja, a contradição escancarada de um sistema em falência.
Vivemos num mundo de prioridades egoístas, de projeções de futuro individualizadas e perspetivas dispersas de uma coletividade. Poderiam dizer-me: ”Claro, isso faz parte do sistema em que vivemos!” Claro que sim, mas há sinais de que este sistema está em colapso. O dito “desenvolvimento” deveria ser, pelo menos, garantia de equidade para todas as pessoas.
Migrantes sem condições dignas de salubridade para viver, casais que estão separados, mas que dividem a casa, profissionais que não conseguem sair da casa dos pais, o salário que não chega ao final do mês…
Manifestemo-nos, descontentemo-nos com o que nos está a ser oferecido. Vamos para a rua! Não nos calemos. “O povo unido jamais será vencido”, como gritaram e cantaram dezenas de milhares de pessoas que, a 30 de setembro, saíram para as ruas de 24 cidades de Portugal, num protesto pelo direito à habitação e à justiça climática.
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09/10/2023