Um resumo da ópera golpista no Brasil

 Um resumo da ópera golpista no Brasil

(Créditos fotográficos: Reprodução/Globonews – valorinveste.globo.com)

Nunca uma ação terrorista foi tão anunciada como a que aconteceu neste domingo em Brasília. Desde há semanas, as redes bolsonaristas mostravam a organização da marcha até à capital federal, com o intuito de tomar o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Palácio do Planalto, onde está situado o Gabinete do Presidente da República.

Destruição do Supremo Tribunal Federal. (Créditos fotográficos: Agência Brasil)

Vídeos, material de propaganda, lives, tudo circulando sem qualquer pejo.

Os acampamentos em frente aos quartéis serviram como incubadoras de todo o furdunço. Foi uma grande ingenuidade pensar que ali estavam apenas os velhos e as tias do WhatsApp. Quem acompanha as redes sociais sabe que, desde o resultado das eleições, a extrema-direita está organizando esse povo e preparando a estrada do golpe. Não é um movimento espontâneo. É tudo muito bem articulado e financiado.

(Créditos fotográficos: Redes sociais / Reprodução / O Antagonista – portalf11.com.br)

Mais de 100 ônibus chegaram a Brasília, em tempo recorde. Milhares de pessoas uniformizadas com a camisa da seleção foram organizadas e conduzidas pela Polícia Militar de Brasília para a Esplanada dos Ministérios, no que eles chamaram de “Greve Geral”. Apesar do pedido de reforço da segurança do Congresso e do STF, que pressentiu o perigo, o governo do Distrito Federal (DF) não mobilizou as tropas para a proteção do patrimônio público e, apesar de os bolsonaristas não serem muito numerosos, em pouco tempo eles tomaram os três principais pontos da capital, numa ação rápida e sem qualquer bloqueio. Havia pouquíssimos policiais acompanhando a caminhada e as seguranças locais não tiveram como segurar a turba, que quebrou as vidraças, entrou nos locais e promoveu uma destruição insana. Gente defecou sobre as mesas, obras de arte foram danificadas e até portas foram arrancadas.

“A escalada violenta dos actos criminosos resultou na invasão dos prédios do Palácio do Planalto, do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal, com depredação do património público (…) em circunstâncias que somente poderiam ocorrer com a anuência, e até participação efectiva, das autoridades competentes pela segurança pública”, diz o STF.
(Créditos fotográficos: Reuters / Ueslei Marcelino – publico.pt)

A invasão durou horas, sem que o governador do DF tomasse qualquer atitude, portanto, ficou absolutamente claro que a ação foi permitida. Basta lembrar que em outros momentos da História, com muito mais gente na Esplanada, o contingente de segurança sempre foi grande e a repressão duríssima. Desta vez, não. Os bolsonaristas chegaram a atacar policiais e jogaram dentro do espelho de água os carros da segurança do Congresso. Uma festa. Jair Bolsonaro e o exonerado secretário da Segurança Pública do DF (ex-ministro Anderson Torres) acompanharam tudo de Orlando (nos Estados Unidos), juntos.

É importante ressaltar que não houve incompetência. Foi uma inação deliberada, preparada, planejada. Por outro lado, o governo federal também foi incompetente em não definir um plano de defesa para esse dia. Deixar na mão do inimigo foi um erro. Havia que ter tido um plano B. Depois de toda a destruição feita, a polícia chegou e foi dispersando os bolsonaristas. Até agora 300 pessoas foram presas.

Invasão dos “Três Poderes”: até agora, 300 pessoas foram presas. (Créditos fotográficos: Reprodução/Twitter – maringapost.com.br)

Há informação de que os financiadores do ônibus já foram identificados, mas nenhum foi preso. Há focos de atos terroristas em frente de algumas refinarias no Paraná e, em outros lugares do país, há trancamento de vias, inclusive a Marginal Tietê, uma das principais vias de São Paulo, sem que a polícia tome qualquer atitude. Há também um chamamento para os caminhoneiros pararem o país. A organização segue firme e sistemática, sem que os incitadores do golpe sejam cerceados. Divulgadores de mentiras e incitadores do caos seguem transmitindo sem problemas.

(g1.globo.com)

O ministro Alexandre de Moraes ordenou o desmonte dos acampamentos bolsonaristas em todo o país. Em Brasília, os acampados estão saindo tranquilamente com as suas malas e travesseiros, dando risada e sem qualquer intimidação. Os mesmos que ontem destruíram o Congresso, o STF e o Planalto. A polícia apenas acompanha, quando não interage de maneira simpática. Algo impensável numa manifestação de trabalhadores, por exemplo. Também o exército, em Brasília, protege os acampados com carros blindados.

Guarda Municipal retira manifestantes bolsonaristas da Avenida Raja Gabaglia, no Belo Horizonte.
(Créditos fotográficos: Alex Araújo/g1.globo.com)

Agora, no rescaldo da ação terrorista é que vai ser possível ver de que material é feito o governo eleito. Vai atuar com energia contra os terroristas? Vai atacar os peixes graúdos? Sim, porque essa turba está sendo financiada e organizada por gente grande. A mão da justiça chegará neles? O que fará com relação às Forças Armadas? Continuará deixando o caso nas mãos do STF?

O que aconteceu neste domingo é um entre tantos eventos que vem se repetindo desde o golpe contra a Dilma Rousseff, em 2016. Como Lula vai enfrentar o núcleo desta trama que são as Forças Armadas? Este é o ponto central, como alerta o economista e acadêmico brasileiro Nildo Domingos Ouriques. Segundo ele, há que colocar na reserva todos os generais que conspiram, à luz do dia, contra o país.

Movimentos sociais e partidos de esquerda estão organizando manifestações para esta segunda-feira em todo o país. As ruas serão ocupadas.

09/01/2023

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Elaine Tavares

Jornalista e educadora popular. Editora da «Revista Pobres e Nojentas», com Miriam Santini de Abreu. Integra o coletivo editorial da «Revista Brasileira de Estudos Latino-Americanos». Coordenadora de Comunicação no Instituto de Estudos Latino-Americanos da Universidade Federal de Santa Catarina (no Brasil).

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