“Zapping” na noite eleitoral de 10 de Março
Definida como uma prática do telespectador que muda frequentemente de canal por meio do telecomando, a palavra é de origem inglesa. Entre os muitos neologismos ainda julgo que não se encontrou uma palavra mais ilustrativa que substitua a original designação.
Fez ontem um mês que foram anunciados, às 20h00, os primeiros resultados eleitorais. Perante a expectativa de uma derrota do Partido Socialista (PS) e das forças de esquerda, fui, como tantos outros espectadores do país, passando de canal em canal, esperando por novas actualizações, à medida que as horas iam passando.
Os comentadores de sempre, os mesmos rostos de sempre. Aqueles que já foram políticos e se transformaram em comentadores. Alguns dos que comentam os resultados desportivos do futebol também nos “ilustram” com os seus comentários políticos, quais augures do passado e do futuro.
Cansados de tanto escândalo político e de indefinições, a sociedade portuguesa foi às urnas, não sabendo quais os políticos responsáveis pelos destinos do país que até agora eram julgados, culpados ou suspeitos de fraudes, de influências e/ou de outras acusações que merecem ser verificadas. Curiosamente, o Presidente da República, tão assíduo nas redes sociais e tão ávido de selfies, desapareceu do panorama político e social, nos últimos tempos. Esteve fechado no seu gabinete com uma dupla batata quente nas mãos: o Continente e a Madeira.
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1.º Zapping – RTP2 – 22h00:
“Bona: Velhos Amigos, Novos Inimigos”, episódio n.º 5 de uma mini-série alemã, de seis episódios, sustentada em eventos reais. “Thriller” que se fundamenta em acontecimentos que envolveram serviços secretos rivais durante a Guerra Fria. Como refere uma sinopse, no contexto da programação televisiva, trata-se de uma série de “espionagem e drama familiar, baseada em eventos históricos, que retrata a época da Guerra Fria, numa nação profundamente dilacerada e traumatizada”. Recuando ao ano de 1954, quando “a guerra fria começa, as agências do serviço secreto alemão lutam entre si”.
Lembro-me da primeira vez que visitei Bona (ou Bonn), pequena cidade que, a seguir à II Guerra Mundial, foi capital da República Federal Alemã (RFA), de 1949 a 1990, até à reunificação da Alemanha. É a cidade natal de Ludwig van Beethoven. A casa e local de nascimento deste compositor está na Bonngasse 20 (e 24-26). É um lugar de visita obrigatória. O edifício abriga o museu e os edifícios vizinhos acolhem um centro de investigação (Arquivo Beethoven) composto por uma colecção, uma biblioteca e editora, bem como uma sala de música de câmara. Aqui, os amantes de música e especialistas de todo o Mundo podem encontrar-se e partilhar as suas ideias.
2.º Zapping:
De volta aos canais portugueses. Mais números, mais votos, menos votos, menos abstenção… Sorrisos e abraços nas sedes partidárias. Ainda a confusão relativamente aos resultados. Maioria absoluta? Nem vê-la!
3.º Zapping:
Várias tentativas para encontrar entretenimento na noite eleitoral… Cinema de terror, cinema de porrada, cinema de ficção científica e cinema que não é cinema nenhum!
4.º Zapping:
De volta ao panorama nacional, ainda reina a confusão. Ainda há dúvidas. Ainda há mais abraços e mais sorrisos…
5.º Zapping final:
Num canal por cabo, exibem a primeira versão de “West Side Story” (“Amor Sem Barreiras”), filme musical de 1961, na realização de Robert Weise e de Jerome Robbins. O tema shakespeariano de Romeu e Julieta, numa excelente adaptação. À semelhança do que acontece na peça original de William Shakespeare, o filme apresenta Tony (Romeu), antigo líder de um gangue de brancos anglo-saxónicos, chamados de Jets, apaixonado por Maria (Julieta), irmã do líder do gangue rival, os Sharks, formado por imigrantes porto-riquenhos. O amor do casal protagonista floresce entre o ódio e a briga dos dois gangues e dos seus códigos de honra, tal qual a desavença histórica entre os Capuleto e os Montecchio.
Assisto às cenas finais do filme. O jovem Tony acaba de morrer e Maria, magnificamente interpretada por Natalie Wood, é a herdeira de um conflito de gerações e de bandos rivais. Ao contrário da peça de Shakespeare, Julieta (Maria) sobrevive. Ela será a testemunha de um antagonismo de amor e ódio dificilmente superado… Custa-me ver entrar no parlamento um movimento que, identificado com o ódio, pretende representar o povo português!
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Nota final:
Esta crónica é publicada já depois de conhecermos a nova Assembleia da República (AR), o seu presidente (José Pedro Aguiar-Branco) e também os vice-presidentes da AR (Teresa Morais, Marcos Perestrello, Diogo Pacheco de Amorim e Rodrigo Saraiva). A democracia segue funcionando, graças ao 25 de Abril de 1974, que alguns, mesmo ali dentro, renegam e difamam!
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11/04/2024