…………………

.

A noite das facas longas

Abre o bilhete, dobrado em quatro, que ele lhe deixara sobre a mesa do café. Lê, dissimuladamente: 

Espero-a esta noite. A porta da rua fica encostada. Seja cuidadosa, que ninguém a veja entrar. Eu próprio tratarei da ceia, receita da minha falecida avó: mortadela, chouriço de sangue, cabeça de alho esmagada, batata a murro. E sangria. À luz das velas. 

Volta a dobrar o bilhete em quatro. Com a ponta e mola, corta o papel aos bocadinhos, corta o papel aos bocadinhos, corta o papel aos bocadinhos, e decide arriscar.

.

In “lacrima”

18/05/2023

Siga-nos:
fb-share-icon

Augusto Baptista

Natural de Oliveira de Azeméis, jornalista, cruza escritas: texto, fotografia, desenho. Tem livros publicados e realizou exposições (fotografia, desenho). Da direcção da Cena Lusófona e da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto.

Outros artigos

Share
Instagram