“A colónia” dos filhos dos presos políticos

Em 1972, 18 filhos de presos políticos estiveram numa inédita colónia de férias, nas Caldas da Rainha. (arenaensemble.com)
Em tempos de perigosa amnésia colectiva, o “Arena Ensemble” (enquanto “plataforma para o desenvolvimento de projectos artísticos”, sob a coordenação de Marco Martins) apresentou “A Colónia”, no Teatro Nacional São João, na cidade do Porto.
A obra, escrita e dirigida por Marco Martins, conta a história de uma “inédita colónia de férias para filhos de presos políticos” num casarão das Caldas da Rainha. Dois anos antes do “25 de Abril”, entre Junho e Agosto de 1972. Ali, durante duas semanas, “18 crianças entre os 3 e os 14 anos, aprenderam a brincar e a ser livres”.
Como sempre acontece nos espectáculos criados pelo “Arena Ensemble”, esta criação do cineasta e encenador Marco Martins também conta com actores não-profissionais. Entre eles estão Conceição Matos e Domingos Abrantes, históricos militantes do Partido Comunista Português.

Conceição Matos e Domingos Abrantes (recorde-se que este antifascista participou na célebre fuga de Caxias, em Dezembro de 1961) conheceram bem a realidade retratada em “A Colónia”: foram clandestinos, presos e brutalmente torturados.
Marco Martins construiu “A Colónia” a partir de uma reportagem da jornalista Joana Pereira Bastos1, bem como de documentos e de testemunhos e vivências de todo o elenco. Obras de Bertold Brecht, de Czesław Miłosz, de Deborah Levy, de Filippo Marinetti, de Gonçalo M. Tavares, de Jean-Luc Godard/Anne Marie Miéville, de Slavoj Žižek e de William Shakespeare contribuíram para a construção do espectáculo.
Urge que, para além da Culturgest e do Teatro Nacional São João, “A Colónia” seja apresentada noutros palcos do país. Convém não esquecer o que custou a Liberdade…

Nota:
1 – Joana Pereira Bastos nasceu em Lisboa em Janeiro de 1980. Licenciada em Ciências da Comunicação pela Universidade Nova de Lisboa, estagiou no jornal Público, em 2002, e iniciou a carreira jornalística na agência noticiosa Lusa, onde trabalhou durante seis anos. É actual jornalista do semanário Expresso, desde 2009. Publicou “Os Últimos Presos do Estado Novo”, que é o seu primeiro livro, em Fevereiro de 2024.
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27/01/2025