A importância dos bons livros
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Quando em 1929, William Randolph Hearst, dono do The New York Journal, enviou para Cuba uma equipa de reportagem com a missão de incendiar a opinião pública norte-americana e de criar um ambiente propício à intervenção dos Estados Unidos da América na ilha que equacionava o poder colonial, a primeira revolução do audiovisual ainda não tinha acontecido em parte alguma do Mundo.
Em Portugal, a primeira onda da revolução do audiovisual, ou seja, a democratização do acesso à televisão, nos inícios dos anos 70, ocorreu ainda antes do 25 de Abril, atingindo uma população que não tinha – como ainda não tem – os hábitos de leitura próprios de uma cultura bibliográfica. Esta realidade potenciou, entre nós, o impacto negativo da segunda grande onda do audiovisual, correspondente ao aparecimento da Internet.
Neste contexto, o fenómeno das mentiras que tentam passar por notícias, as chamadas “fake news”, essa pandemia que contamina a vida em sociedade, facilita práticas ilícitas e até actividades criminosas, tem bom terreno para crescer. Neste contexto, lutar por uma informação que seja um dos pilares do Estado de Direito Democrático é mais difícil. Mas este deverá ser o principal objectivo de acções de sensibilização, presenciais e online, dirigidas a públicos potencialmente mais vulneráveis, dos mais jovens aos seniores.
O desafio é, basicamente, fazer com que a verdade conte, o que implica promover a importância das fontes de confiança e ajudar a sinalizar situações que podem indiciar a presença de uma mentira – se for estranha, se surgir do nada sem ser confirmada por uma televisão, por uma rádio ou por um jornal reconhecidos, é muito provável que seja um boato.
E um boato ganha quase sempre força junto de populações de insuficiente formação escolar formal inicial ou de apressadas formações académicas que se limitam a gerar uma espécie de “proletariado intelectual” sem a imprescindível cultura integral que evitaria tudo isto.
Como escrevia, em 1966, Ernest Lloyd Sommerlad, que fez carreira no departamento de comunicação social da UNESCO, a Imprensa, leia-se Imprensa escrita, tinha, então, um papel muito importante nos países em vias de desenvolvimento – fomentava e solidificava a alfabetização e os hábitos de leitura indispensáveis a uma cultura bibliográfica, sem a qual esta batalha no combate à desinformação poderá estar perdida.
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(*) Artigo no âmbito do programa “Cultura, Ciência e Tecnologia na Imprensa”, promovido pela Associação Portuguesa de Imprensa.
12/12/2022