A nossa identidade nas rochas da face oculta da Lua
Na secção ou rubrica “Ciência” do sítio electrónico Mashable, a fotografia de uma grua que suspende a sonda espacial chinesa Chang’e-6, que regressou à Terra em 25 de Junho, com amostras de rochas lunares, faz-me ler o artigo assinado por Elisha Sauers. O assunto foi noticiado e replicado à escala mundial, porque esta nave espacial robótica da China – ou seja, não tripulada e com diferente autonomia das naves que levam pessoas a bordo – “trouxe de volta rochas e poeira do lado distante da Lua que podem resolver mistérios duradouros” sobre a composição interna do único satélite natural do planeta que nos permitiu nascer.
No mesmo texto publicado no Mashable, é reiterada a informação de que a cápsula da missão Chang’e-6 pousou na Mongólia Interior, no território setentrional chinês, às 14h07 (no horário de Pequim) de terça-feira, como afirma o Gabinete de Informação do Conselho de Estado da China. É ainda referido que, após 53 dias, na sua jornada até à Lua, a cerca de 250 mil milhas de distância, esta nave espacial, pela primeira vez na História, recolheu amostras da parte lunar oculta da Terra. “As rochas lunares da China têm o potencial de revelar informações sobre a evolução da Lua e a história do sistema solar que as amostras da Apollo não conseguiram”, diz-nos Elisha Sauers, confirmando, igualmente neste domínio, o reforço da disputa chinesa pela supremacia global.
Andamos todos, com raras excepções, à procura da nossa identidade individual e colectiva, e também das origens do nosso berço. A consciência do tempo e a inevitabilidade da mudança são-nos comuns, embora nos expressemos de formas diversas nos nossos ciclos de crescimento, de maturação e de declínio, todos eles impressos na matriz genética que nos é própria e herdada. De facto, como garante Harlow Shapley (citado por Robert Jastrow, em “A Arquitectura do Universo”, livro que descobri na minha juventude), “somos irmãos das rochas e primos das nuvens”.
A este propósito, um artigo ensaístico de Levi António Malho sobre o mito de Deméter (descendente de Cronos) – que é, na mitologia grega, a divindade da terra cultivada – assinala que só com a hominização faz sentido o conceito de consciência da temporalidade. Porém, admitindo que a idade da Terra se aproxima dos 4600 milhões de anos e que os humanos terão surgido na África Oriental, na última das cinco épocas da Era Terciária (no final do Plioceno, período que compreende um intervalo de tempo de há cinco a dois milhões de anos), existe um imenso hiato na escala geológica do tempo de que pouco conhecemos. Se calhar, como diria Pitágoras de Samos, por vezes, devemos afastarmo-nos das estradas principais e seguir por veredas, para sabermos quem somos.
Ontem (30 de Junho) foi o Dia Mundial das Redes Sociais. Esta data, criada em 2010, pelo aqui mencionado Mashable (que começou por ser um simples blogue, fundado por Pete Cashmore, em Aberdeen, na Escócia), constitui um modo de reconhecer a revolução digital que fez dos “media” um ambiente social. Assim, proporciona a organização de encontros de pessoas de todo o planeta, numa altura em que a rede Myspace já pouco interessa, tendo o Twitter mudado de dono e de nome (em 24 de Julho de 2023, trocou o logótipo do pássaro azul para X, letra frequentemente associada a uma entidade incógnita, tal como o bilionário Elon Musk, que estará a construir centenas de satélites de espionagem para os serviços secretos norte-americanos). Coincidente no calendário, ontem, também se comemorou o Dia Internacional do Asteróide.
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Nota:
O presente artigo (na versão de crónica) foi publicado na edição de ontem (domingo, 30 de Junho) do Diário de Coimbra, no âmbito da rubrica “Da Raiz e do Espanto”.
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01/07/2024