Aumento da esperança média de vida estagnou

 Aumento da esperança média de vida estagnou

(Créditos fotográficos: Vlad Sargu – Unsplash)

Os avanços na tecnologia médica e na investigação genética, bem como o maior número de pessoas que chegam aos 100 anos, não estão a traduzir-se em saltos acentuados no tempo de vida, em geral, de acordo com investigadores que descobriram que os aumentos de longevidade estão a diminuir nos países com as populações mais envelhecidas. Assim, em termos globais, a esperança de vida estagnou.

(Créditos fotográficos: RepentAnd SeekChristJesus – Unsplash)

A esperança média de vida à nascença é a estimativa do número médio de anos que um bebé nascido num determinado ano pode viver, assumindo que as taxas de mortalidade, nessa altura, se mantêm constantes. A Organização Mundial de Saúde (OMS) aponta, como base da estimativa, fatores como o tempo, a região e as condições pré-existentes. É de ter em conta as taxas de mortalidade específicas por sexo e por idade prevalecentes no momento do nascimento, para um ano específico, num determinado país, território ou área geográfica.

A esperança média de vida à nascença é a estimativa do número médio de anos que um bebé nascido num determinado ano pode viver

É uma das medidas de saúde mais importantes do Mundo, mas é imperfeita, pois é estimativa instantânea que não pode ter em conta pandemias mortais, curas milagrosas ou outros imprevistos desenvolvimentos que podem matar ou salvar milhões de pessoas (ainda o Mundo mal saiu de uma pandemia que matou milhões de pessoas).

No século XX, a esperança média de vida aumentou bastante, devido à consecução de melhores condições de habitação, de alimentação, de saúde, de higiene e de vida, em geral. Porém, as mulheres, normalmente, vivem durante mais tempo do que os homens. Face ao aumento da esperança de vida, muitos decisores políticos começaram a pensar no aumento da idade para a reforma e na maneira de reduzir as respetivas pensões, mas excecionaram os “grandes”.

Stuart Jay Olshansky, investigador da Universidade de Illinois-Chicago.
(thespeakersagency.com)

Stuart Jay Olshansky, investigador da Universidade de Illinois-Chicago e autor principal do novo estudo publicado, a 7 de outubro, na revista Nature Aging, que analisou cinco países europeus, bem como a Austrália, o Japão, a Coreia do Sul, Hong Kong e os Estados Unidos da América (EUA), sustenta que “temos de reconhecer que há um limite” e que teremos também de reavaliar os pressupostos sobre quando as pessoas se devem reformar e sobre quanto dinheiro precisarão para viverem.

Por sua vez, Mark Hayward, investigador da Universidade do Texas, que não participou no estudo, considerou-o “uma adição valiosa à literatura sobre mortalidade”. “Estamos a atingir um patamar” na esperança de vida; e, embora seja sempre possível que algum avanço possa levar a uma maior sobrevivência a patamares mais elevados, não o temos agora”, disse Hayward.

Mark Hayward, investigador da Universidade do Texas.
(scholars.org)

Na investigação, Stuart Jay Olshansky e os seus parceiros de investigação seguiram as estimativas de esperança de vida para os anos de 1990 a 2019, extraídas de uma base de dados administrada pelo Instituto Max Planck de Investigação Demográfica, na Alemanha.

Os investigadores centraram-se em oito países onde as pessoas vivem mais tempo – Austrália, França, Itália, Japão, Coreia do Sul, Espanha, Suécia e Suíça – bem como em Hong Kong e nos EUA, que nem sequer figuram entre os 40 primeiros.

As mulheres continuam a viver durante mais tempo do que os homens e continuam a verificar-se melhorias na esperança de vida, mas a ritmo mais lento. Em 1990, a média de melhoria era de cerca de 2,5 anos por década, mas caiu para 1,5 anos na década de 2010. Num cálculo, estimaram o que aconteceria nestes países, se eliminassem todas as mortes antes dos 50 anos. O aumento, na melhor das hipóteses, seria de apenas 1,5 anos, segundo Olshansky.

As mulheres continuam a viver durante mais tempo do que os homens e continuam a verificar-se melhorias na esperança de vida, mas a ritmo mais lento

Eileen Crimmins, especialista em gerontologia da Universidade do Sul da Califórnia, concorda com as conclusões do estudo, mas acrescenta que, na sua opinião, “a questão mais importante é a posição relativamente sombria e em declínio dos Estados Unidos”.

Eileen Crimmins, especialista em gerontologia da Universidade do
Sul da Califórnia. (populationassociation.org)

O estudo sugere que há um limite para o tempo de vida da maioria das pessoas e que estamos quase a atingi-lo. “Estamos a tirar cada vez menos vida destas tecnologias de prolongamento da vida. E a razão para isso é que o envelhecimento é um obstáculo”, assegurou Olshansky.

Em 2019, um pouco mais de 2% dos americanos chegaram aos 100 anos, em comparação com cerca de 5%, no Japão, e 9% em Hong Kong. É provável que o número de centenários aumente nas próximas décadas, mas isso deve-se ao crescimento da população. A percentagem de pessoas que atingem os 100 anos de idade continuará a ser limitada, provavelmente com menos de 15% das mulheres e 5% dos homens a chegarem a essa idade, na maioria dos países.

Enfim, os ganhos na esperança de vida dos últimos dois séculos estão a abrandar.

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Na União Europeia (UE), a esperança de vida é questão política fundamental, pois o continente debate-se com o envelhecimento da população: o fenómeno da natalidade fica muito aquém do da mortalidade. A esperança média de vida de um europeu, à nascença, é de 80,1 anos, de acordo com os dados de 2021, mas é enganador aplicar este valor a todo o continente. A esperança média de vida, entre as diferentes regiões da Europa continental, varia entre 69 e 85 anos. Das 242 regiões NUTS 2 – sistema de divisão do território económico da UE – Severozapazen, na Bulgária, tem esperança média de vida de 69,7 anos, enquanto a mais elevada se regista em Madrid, na Espanha, com 85,4 anos.

A esperança média de vida de um europeu, à nascença, é de 80,1 anos, de acordo com os dados de 2021, mas é enganador aplicar este valor a todo o continente

O aumento do nível de vida, a melhoria do estilo de vida e da educação, bem como o maior acesso a serviços de saúde de qualidade, resultam em valores mais elevados, ao passo que os valores mais baixos indicam a ausência desses fatores. As mulheres têm esperança de vida mais elevada, em todas as regiões com dados disponíveis; e, em geral, espera-se que as mulheres vivam mais 5,7 anos do que os homens, na Europa. A nível nacional, o Liechtenstein manteve a maior esperança de vida, em 2021, com 84,4 anos. A esperança média de vida dos Suíços, à nascença, era de 83,9 anos, seguindo-se os Espanhóis com 83,3 anos e os Finlandeses com 83,2 anos.

(Créditos fotográficos: Ionela Mat – Unsplash)

A esperança de vida na Europa aumentou a um ritmo relativamente consistente até 2019, com uma esperança de vida de 81,3 anos. Nos anos seguintes, registou-se um declínio recorde nos números, o que é atribuído aos efeitos da pandemia da covid-19. Os números de 2021 representam nova diminuição, em relação à esperança de vida de 2020, que foi de 80,4 anos.

Os especialistas acreditam que a queda acabará por desaparecer, devido à diminuição das taxas de mortalidade infantil e a um melhor acesso a fatores que aumentam o nível de vida.

Este facto também se reflete nas estatísticas nacionais, já que os países com pontuações elevadas no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) ocupam os primeiros lugares.

A esperança média de vida é indicador é fundamental para o desenvolvimento de políticas governamentais. A França, por exemplo, enfrenta o desafio de uma população que vive mais tempo, com a pressão sobre os sistemas de segurança social e de saúde. Para enfrentar o desafio, o governo aprovou reformas no início de 2023, com o objetivo de aumentar a idade da reforma e incentivar os indivíduos a trabalharem mais tempo, o que provocou protestos em todo o país.

Mas a França não é a única a debater-se com o envelhecimento da população, e os Franceses nem sequer são os que vivem mais tempo. A UE está a envelhecer demasiado depressa.

A esperança média de vida é indicador é fundamental para o desenvolvimento de políticas governamentais

Um relatório sobre as alterações demográficas na UE, publicado pela Comissão Europeia, a 11 de outubro de 2023, traçou um quadro alarmante da profunda transformação social e económica desencadeada pela diminuição da mão-de-obra. “Cada estado-membro está a lidar com os seus próprios desafios”, afirmou Dubravka Šuica, vice-presidente para a Democracia e Demografia.

(eur-lex.europa.eu)

Nos Países Baixos, a habitação e a densidade populacional são os grandes desafios, enquanto, em algumas regiões de Espanha, é o declínio da população. Em Itália, o principal desafio é o declínio da natalidade e o envelhecimento da população. A Grécia é o estado-membro com o mais rápido envelhecimento populacional. A Croácia debate-se com a fuga das pessoas mais jovens.

De acordo com o mesmo relatório, a população da UE, que era, ligeiramente, superior a 448 milhões de pessoas no início de 2023, deverá atingir o seu pico por volta de 2026, e diminuir, depois, gradualmente, perdendo 57,4 milhões de pessoas em idade ativa, até 2100.

(Créditos fotográficos: leah hetteberg – Unsplash)

Mais preocupante é o rácio de dependência do bloco (entre o número de idosos e o de pessoas em idade ativa), que aumentará dos atuais 33% para 60%, no final do século. A mudança drástica na pirâmide demográfica abala o mercado de trabalho, com escassez generalizada que pode inibir as taxas de crescimento, de produtividade e de inovação, acelerando a perda de competitividade, em relação a outras grandes economias. Uma mão-de-obra cada vez mais reduzida reduzirá as receitas do Estado e exercerá pressão adicional sobre os orçamentos públicos, para que estes gastem mais em cuidados de saúde e em pensões. É uma combinação explosiva que poderá desviar a atenção dos necessários investimentos em energias renováveis e em tecnologias de ponta.

Mais preocupante é o rácio de dependência do bloco (entre o número de idosos e o de pessoas em idade ativa), que aumentará dos atuais 33% para 60%

Além disso, este fator mina a coesão social e a confiança nas instituições e processos democráticos na Europa. Para que os danos se tornem irreversíveis, a Comissão Europeia recomendou que os estados-membros tomassem medidas decisivas, tais como reduzir as disparidades salariais entre homens e mulheres, melhorar o equilíbrio entre a vida profissional e a vida familiar, oferecer benefícios fiscais, reduzir os custos dos cuidados infantis e facilitar, no início da sua vida adulta, o acesso dos jovens a empregos de qualidade e a habitação a preços acessíveis.

Dubravka Šuica, vice-presidente para a Democracia e Demografia.
(commissioners.ec.europa.eu)

Também é “crucial capacitar os trabalhadores mais velhos para se manterem ativos durante mais tempo”, através de programas de melhoria das competências, de horários de trabalho flexíveis e da ultrapassagem de noções preconcebidas e de estereótipos sobre os idosos. “Vidas mais longas criam novas oportunidades e inauguram uma mudança de uma sociedade envelhecida para uma sociedade de longevidade”, apontou Dubravka Šuica, apelando aos países para que aproveitem as novas oportunidades económicas criadas pela chamada “economia prateada”.

O relatório apela à gestão legal da migração, para preencher o número de vagas de emprego que ficam sem interessados, que já atingiram níveis recorde. Em 2022, a UE, que reformou a sua política de asilo (que alguns querem reverter), recebeu três milhões de trabalhadores migrantes através de vias legais, em comparação com 300 mil que chegaram por meios irregulares.

A UE tem vindo a encorajar a migração legal para enfrentar a escassez de mão-de-obra, preencher lacunas de competências e impulsionar o crescimento económico.  (europarl.europa.eu)

Embora a migração legal seja opção valiosa para enfrentar o desafio demográfico, não é a única – uma clarificação que parecia destinada a evitar a ira dos governos de extrema-direita que adotaram políticas pró-natalidade, na tentativa de aumentar a população, sem depender dos fluxos migratórios. “Somos 27 democracias. É uma situação diferente em cada uma e é por isso que dizemos que não há um tamanho único para todos”, realçou Dubravka Šuica.

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Cientistas do Irving Medical Center da Universidade de Columbia, em Nova Iorque, nos EUA, defendem, a partir de ensaio clínico com ratos, que a taurina retarda o processo de envelhecimento e prolonga a vida útil dos ratos em até 10%. Ora, depois de verem os resultados do uso de taurina em ratos, os investigadores querem progredir nas pesquisas em seres humanos.

Os resultados, publicados no Journal of Science, mostraram que a esperança de vida dos ratos machos aumentou 10%, tomando o suplemento, enquanto a das fêmeas aumentou cerca de 12%.

Esta melhoria também se verificou em macacos e em vermes. E, como parte do projeto, os investigadores analisaram 12 mil pessoas e descobriram que as que apresentavam mais taurina no sangue eram, em geral, mais saudáveis.

Este químico, que integra o grupo dos aminoácidos, está presente em alimentos com proteínas, como produtos de origem animal (carnes, peixes e laticínios), mas também é usado, principalmente, em bebidas energéticas com cafeína. É um dos micronutrientes que suporta a função celular e ajuda, sobretudo, na produção de energia, ao apoiar a saúde das mitocôndrias nas células, que são responsáveis por carregar as células com energia.

O investigador Vijay Yadav. (i3d.rutgers.edu)

A taurina ocorre, naturalmente, no corpo humano, mas à medida que envelhecemos, os níveis diminuem. “A abundância de taurina diminui com a idade e a reversão desse declínio faz com que os animais tenham vida mais longa e saudável”, disse Vijay Yadav, líder da investigação.

Yadav e a equipa notaram na taurina um potencial catalisador do envelhecimento, há mais de 10 anos, ao descobrirem que o homem médio de 60 anos exibe níveis de taurina, medindo um terço dos que se encontram numa criança de cinco anos. Porém, os investigadores aconselham as pessoas a não aumentarem, proativamente, a sua taurina para combate ao envelhecimento, até se saber mais. É preciso estudo mais amplo para determinar os prós e os contras da sua ingestão.

(Créditos fotográficos: Gary Butterfield – Unsplash)

Tudo o que se faça em termos de apoio à vida e vida de qualidade é bem-vindo. Não há que temer o aumento da esperança de vida. Antes se deve evitar qualquer tipo de conflito bélico (e outros), promovendo o prolongamento da vida e dando-lhe qualidade, enquanto também é importante cuidar do aumento consolidado da natalidade. A Terra será sempre o lugar de todos!

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17/10/2024

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Louro Carvalho

É natural de Pendilhe, no concelho de Vila Nova de Paiva, e vive em Santa Maria da Feira. Estudou no Seminário de Resende, no Seminário Maior de Lamego e na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Foi pároco, durante mais de 21 anos, em várias freguesias do concelho de Sernancelhe e foi professor de Português em diversas escolas, tendo terminado a carreira docente na Escola Secundária de Santa Maria da Feira.

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