Brasil, EUA e Amazónia

 Brasil, EUA e Amazónia

(Créditos fotográficos: Charlie Hamilton James – nationalgeographic.pt)

Li ontem (1 de março de 2023), no Instagram da ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, que ela esteve na Embaixada dos Estados Unidos da América (EUA) para uma conversa com John Forbes Kerry, ex-secretário de Estado no governo de Barack Obama e agora no governo de Joe Biden, chamado de “enviado presidencial especial para o clima”. Até aí tudo bem, enfim, faz parte do jogo político conversar com enviados de outros governos. Mas, seguindo a leitura da sua postagem vem o choque. Ela diz: “Estive hoje na embaixada dos EUA, aqui em Brasília, para um encontro com o Enviado Especial Presidencial para o Clima, John F. Kerry. Que se mostrou verdadeiramente preocupado e interessado em contribuir com a proteção ambiental e com a proteção dos direitos dos povos indígenas”.

A ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, esteve na Embaixada dos
Estados Unidos da América para uma conversa com John Forbes Kerry.
(Créditos fotográficos: Instagram de Sônia Guajajara)

As perguntas que me ocorrem são: desde quando os Estados Unidos estão interessados na proteção dos direitos indígenas? E do Brasil? Por que estariam? Afinal, muito pouca atenção tem sido dada aos povos originários que vivem nos Estados Unidos… Teriam, então, preocupação com os nossos originários “a son de qué” (com que propósito)? Isso é completamente descabido. Os Estados Unidos – e a História confirma – só estão, sempre, preocupados com seus próprios interesses, ou com os interesses de sua classe dominante, para ser mais exata.

Diz a ministra que o enviado especial também se mostrou bastante interessado em contribuir com a proteção ambiental no Brasil. Bom, aí já começamos a entender melhor. Os Estados Unidos querem meter a mão na Amazônia e isso não é de hoje. Agora, tem um sinal verde que foi dado por Lula da Silva no encontro com Biden. Por isso mesmo, o senhor Kerry já veio rapidinho para novas conversas. Joe Biden prometeu alguns caraminguás (ou algum dinheiro) para o Fundo Amazônico e a gente sabe muito bem que, no mundo capitalista, quem dá a grana, manda, mesmo que sejam migalhas.

Simón Bolívar e José Martí são dois grandes pensadores da Pátria Grande que já alertaram, cada um no seu tempo, sobre a política de rapinagem dos Estados Unidos. E basta uma olhada na História desse país do Norte para vermos como ele se move na relação com os países dependentes e subdesenvolvidos da periferia capitalista. Nada de bom vem dali. Nada! Eles são o império e tudo querem para si. Permitir que se acheguem de mansinho, com palavras generosas, é abrir a porta ao ladrão. É verdadeiramente frustrante ver essa geração de políticos da esquerda liberal acreditando que os chamados “democratas” estadunidenses fazem parte do bonde dos bonzinhos. Nunca sei se é ignorância ou má-fé.

(Créditos fotográficos:  Charlie Hamilton James – nationalgeographic.pt)

Por fim, sempre é bom lembrar que a região amazônica é um espaço que está não apenas no Brasil. A Bolívia, o Peru, o Equador, a Colômbia, a Venezuela, a Guiana e o Suriname, a par do território da Guiana Francesa, também têm seus espaços de floresta. Ali, vivem 33 milhões de pessoas, sendo que um milhão e 600 mil são povos indígenas de 370 etnias. É uma região que conforma uma riqueza imensurável em biomassa, energia, minerais, fármacos, além de ser uma espécie de pulmão do Mundo.

Em 2012, a Fundação Nacional do Índio (Funai) confirmou a identificação de um novo grupo de índios isolados no Vale do Javari, no Amazonas. As observações preliminares apontam que esse grupo, com cerca de 200 pessoas, pode pertencer à família linguística Pano. (historiacolegiao.files.wordpress.com)

Sendo assim, seria muito mais plausível que esses países se unissem em projetos conjuntos, mas sem a presença da “águia assassina” que tanto mal tem provocado nesta nossa América baixa.

É claro que nunca esperei do governo de Lula da Silva qualquer ação revolucionária na defesa da nossa soberania, mas achei que seria mais discreto na relação com o império. Enfim, seguimos na luta, tristes, mas não imobilizados. Enquanto houver bambu, vai flecha.

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Nota do Director:

O jornal sinalAberto, embora assuma a responsabilidade de emitir opinião própria, de acordo com o respectivo Estatuto Editorial, ao pretender também assegurar a possibilidade de expressão e o confronto de diversas correntes de opinião, declina qualquer responsabilidade editorial pelo conteúdo dos seus artigos de autor.

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02/03/2023

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Elaine Tavares

Jornalista e educadora popular. Editora da «Revista Pobres e Nojentas», com Miriam Santini de Abreu. Integra o coletivo editorial da «Revista Brasileira de Estudos Latino-Americanos». Coordenadora de Comunicação no Instituto de Estudos Latino-Americanos da Universidade Federal de Santa Catarina (no Brasil).

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