Centenário do Senhor de “Santoinho”
“[…] quem não foi e não veio, pela direita e pela esquerda da ribeira, de Viana a Ponte do Lima e de Ponte do Lima a Viana; quem durante alguns dias não viveu e não passeou nesta ridente e amorável região privilegiada […], não conhece de Portugal a porção de céu e de solo mais vibrantemente viva e alegre, mais luminosa e mais cantante”.
(Ramalho Ortigão, num dos volumes de “As Farpas”, 1887)
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António Cunha (1924-2015) integrou a casa de família na “porção de céu e de solo mais vibrantemente viva e alegre, mais luminosa e mais cantante” de Portugal, como diria Ramalho Ortigão num dos seus folhetins mensais, que inicialmente assinava com Eça de Queirós.
Foi em 1972. E de então para cá, a Quinta do Santoinho já recebeu mais de 10 milhões de visitantes, que ali revivem “a cultura tradicional da vida do campo, com as músicas e danças folclóricas, na companhia dos petiscos à base de sardinhas, frango assado, fêveras grelhadas na brasa e broa, regados pelo vinho verde da região e o conhecido champorreão, culminando com o saboroso e aconchegante caldo verde”. Em cada arraial, consome-se “12 mil sardinhas, mil frangos, fêveras de 40 porcos, 600 [quilos] de broa e 2500 litros de vinho branco e tinto, utilizando-se 30 mil peças de louça e 10 mil guardanapos de papel”. Os arraiais na Quinta do Santoinho começam, anualmente, em Junho e terminam em Novembro, sempre aos sábados.
O empresário, que era o mais velho de oito irmãos, entretanto órfãos de pai, assumiu a condução da vida familiar e dos negócios. A actividade de transporte de autocarro, as excursões turísticas, a primeira agência de viagens do distrito, as primeiras licenças de autocarros de aluguer em todo o país foram conquistas de António Cunha, que, como independente, foi também o primeiro presidente da Câmara Municipal de Viana do Castelo, após o “25 de Abril”. Democraticamente eleito pelos vianenses, António Cunha, que apenas cumpriu um mandato de três anos, não os desiludiu. Sob a sua liderança, foram criadas zonas industriais, construídas habitações para os mais carenciados, restaurado o Hospital Velho e começada a Festa da Mimosa, entre outras obras e feitos. O empreendedor foi, igualmente, proprietário da primeira “boite” da cidade de Viana do Castelo, dos primeiros restaurantes típicos e dos primeiros cruzeiros fluviais.
Em Maio de 1972, António Cunha abriu as portas da casa de família à cultura popular. Nascia, assim, o “Santoinho”. 52 anos depois, continua carregado de futuro, por vontade de Valdemar Cunha, filho do empresário, cujo centenário do nascimento fez questão de festejar, no terceiro dia deste mês de Agosto. Com milhares de forasteiros e a quem proporcionou uma festa de arromba, gratuita, que terminou, já bem perto das duas da madrugada, com um espectacular fogo de artifício. Augusto Canário, Zezé Fernandes, Sons do Minho, Quim Barreiros e Toy foram os amigos que a família Cunha convidou para animar a festa em honra do empreendedor e visionário que deu a conhecer o Alto Minho a Portugal e ao Mundo.
Agora, com as Festas da Senhora d’Agonia mesmo à porta, convido os leitores do jornal sinalAberto a visitarem o Alto Minho, bem como a belíssima cidade de Viana do Castelo, além de participarem num arraial da Quinta do Santoinho. O Museu do Traje e o Museu dos Transportes são outras duas sugestões para melhor conhecer este belo território. Tenho a certeza de que ficará encantado com as gentes desta “ridente e amorável região privilegiada”, recorrendo novamente às palavras de Ramalho Ortigão.
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Nota:
Consulte, aqui, o programa da Romaria de Nossa Senhora D’Agonia.
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08/08/2024