Cratera oculta de Chicxulub
Descoberta em 1978 pelos geofísicos Glen Penfield e António Camargo, em trabalhos de prospecção de petróleo, ao serviço da empresa Petróleos Mexicanos (PEMEX, Mexican State Oil Company), esta enorme estrutura oculta, com 180 quilómetros (km) de diâmetro, é o testemunho de um mega-impacto, com centro próximo da localidade de Chicxulub1 (nome de origem maia), no México.
Estudos mais recentes sugerem que a verdadeira cratera tem cerca de 300 km diâmetro e que o anel de 180 km, inicialmente admitido, é o de uma sua parede interior. Oculta, em parte, sob a Península do Iucatão, a Sul e, em parte, sob o mar, a Norte, tem sido citada como uma das maiores crateras conhecidas no Mundo. Estima-se, em cerca de 10 km, o diâmetro do asteróide que a causou.
Amostras com quartzo de impacto2 e tectitos e outras de argila castanho-esverdeada com um excesso de irídio (relativamente à média nas rochas da superfície da Terra) provenientes das áreas circundantes e a prova de uma anomalia da gravidade, corroboram a origem meteórica desta estrutura.
Em apoio da mesma interpretação estavam as evidências de metamorfismo de impacto nas amostras de rochas retiradas dos poços da empresa petrolífera Pemex. Outras ocorrências, apontando no mesmo sentido, são os depósitos espessos, heterométricos e caóticos de fragmentos de rocha, que se acreditava terem sido arrancados de algum local e depositados num outro, por um gigantesco tsunami, causado por esse mega-impacto.
Sobre esta enorme estrutura assentam margas e calcários, cujas datações mais antigas indicam-nas como sendo da base do Paleocénico, com cerca de 66 milhões de anos (Ma). Sob estas camadas, no interior da estrutura, há vidro, brechas e os característicos grãos de quartzo de impacto.
Em 2010, no culminar de múltiplos exames em domínios científicos como os da Paleontologia, da Geoquímica, da Sedimentologia, da Geofísica e da modelação climática, bem como dos testemunhos encontrados, ao longo de duas décadas, um número alargado de cientistas (cerca de 40), de três dezenas de instituições de diversos países, assumiu como mais plausível que o impacto responsável por este grandioso astroblema ocorreu há cerca de 66 Ma, no limite entre o final do Cretácico (Maastrichtiano) e o início do Cenozóico (Daniano), a já referida fronteira K-T3 e que foi a causa da grande extinção em massa ocorrida nesse curto intervalo de tempo, incluindo dos dinossáurios4, postulada, décadas antes, em 1980, pelo físico norte-americano Luis Alvarez e pelo seu filho, o geólogo Walter Alvarez.
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Notas:
2 – Quartzo de choque ou de impacto é um tipo muito particular de quartzo observável nos grãos de rochas sujeitas a pressões elevadíssimas, como acontece nas situações de impactos meteoríticos ou de explosões nucleares subterrâneas. Nestas condições de pressão intensa (mas de temperatura limitada), a estrutura cristalina do quartzo deforma-se segundo certos planos no interior do cristal. Estes planos, que são visíveis ao microscópio como linhas, são a expressão visível de estruturas de deformação planar, ou lamelas de choque. Este tipo de quartzo foi encontrado no interior de cratera de Barringer. A sua presença prova que estas crateras foram formadas por um impacto de suficiente magnitude.
4 – Dinossáurios não avianos são estes de que estamos a falar, os que se extinguiram. As aves, todas sem excepção, dos pequenos pardais às grandes avestruzes, são os dinossáurios avianos, que a ciência tem vindo a demonstrar.
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Notas da Redacção:
1 – Este artigo dá continuidade aos textos de divulgação científica “Astroblemas” e “Cratera do Meteoro ou de Barringer”, ambos da autoria de António Galopim de Carvalho e publicados, respectivamente, nas edições de 27/05/2024 e de 30/05/2024 do jornal sinalAberto.
3 – Como se regista na Wikipédia, o “nível K-Pg, limite K-Pg ou ainda fronteira K-Pg, anteriormente chamada de K-T, é uma assinatura geológica, usualmente uma camada fina”, de há cerca de 66,0 milhões de anos. Pode rever, a propósito, o artigo “Cratera do Meteoro ou de Barringer”, na edição de 30/05/2024.
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03/06/2024
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