Do Iluminismo à Revolução Industrial
Movimento cultural da elite intelectual europeia do século XVIII, o iluminismo surgiu na continuidade do pensamento racionalista de René Descartes (1596-1650), do criticismo bíblico do holandês (nascido de uma família de judeus portugueses) Bento Espinoza (1632-1677), das ideias do filósofo e matemático alemão Gottfried Leibniz (1646-1716) e da abertura ao método científico moderno protagonizado por Galileu Galilei (1564-1642), em Itália, e por Isaac Newton (1643-1727), em Inglaterra.
Nascido e desenvolvido em Paris, como um movimento a um tempo filosófico, social, político, económico, científico e cultural, ao longo do século XVIII, o iluminismo tem o seu ponto alto com a Revolução Francesa. Promotor do intercâmbio intelectual, este movimento manifestou-se como o grande veículo reformador do conhecimento. Num período da História que ficou assinalado como Era da Razão, o iluminismo advoga o uso do raciocínio como via para atingir não só o conhecimento, mas também a liberdade, a autonomia e a emancipação face ao poder político então ainda absoluto, num tempo marcado pelo monopólio comercial desse mesmo poder, pela persistência de estruturas feudais, pela pressão cultural da igreja católica e pela perseguição às ideias tidas por perigosas, tantas vezes exercida a ferro e fogo.
Entre os iluministas, distinguiram-se os franceses Charles de Montesquieu (1689-1755), lembrado como um dos fundadores da Sociologia; Voltaire (1694-1778), crítico acérrimo da monarquia e da igreja católica; Denis Diderot (1713-1784), organizador da famosa “Encyclopédie” (em 35 volumes, impressa entre 1751 e 1780), e os seus colaboradores Jean le Rond d’Alembert (1717-1783) e Jean Jacques Rousseau (1712-1778). Na mesma época, o filósofo e enciclopedista franco-alemão, Paul-Henri Thiry, mais conhecido por Barão d’Holbach (1723-1789), é lembrado pelo seu ateísmo e pelos seus volumosos escritos contra a religião, bem expressos na sua obra “Sistema da Natureza”, editada em 1770.
Na vida económica, o iluminismo, ao mudar a concepção do homem (na sua qualidade de indivíduo) e da sociedade, fez nascer um outro movimento de cariz económico e político, o liberalismo, no qual se distinguiu o escocês Adam Smith (1723-1790).
É nesta fase da vida no mundo ocidental, em meados do século XVIII, que surge em Inglaterra a Revolução Industrial, a par das convulsões sociais e políticas conducentes à queda do Antigo Regime, na sequência das quais a hegemonia comercial, dominada pelo poder político, foi sendo substituída por um capitalismo industrial concentrado nas mãos do sector mais abastado da burguesia. Ganhando força em Inglaterra e na Escócia, na Holanda (Países Baixos) e na Suécia, países onde a Reforma Protestante tinha conseguido destronar a influência retrógrada da Igreja Católica. Recorde-se que a Revolução Industrial demorou a surgir nos países que se mantiveram fiéis ao catolicismo, como foi o caso da Itália, da França, de Espanha e de Portugal.
Esta outra Revolução, que alastrou pelo Mundo a partir do século XIX, introduziu um conjunto de mudanças nos meios de produção e, consequentemente, na vida económica e social. Trouxe a fábrica em substituição parcial do artesanato, deu nascimento ao operariado e ao capitalismo industrial, fez crescer as cidades, desenvolveu novas relações entre estados e, em respeito pelos princípios iluministas, proporcionou o surgimento de uma cultura de massas, favorável ao alastramento do ensino a camadas cada vez mais vastas da população e ao maravilhoso progresso científico e tecnológico que marca os dias de hoje e que, infelizmente, não temos sabido aproveitar.
Sob o olhar do cidadão comum, cada vez mais explorado e, por enquanto, submisso, a ganância insaciável do mundo das finanças não tem permitido o uso pleno de tudo o que de bom este planeta tem para nos dar.
O facto de a esmagadora maioria das personalidades lembradas neste artigo serem homens, deve-se, unicamente, à condição de “inferioridade”, imposta no passado às mulheres (à semelhança do que estamos a assistir em sociedades do presente dominadas por fundamentalistas islâmicos), a quem o ensino é praticamente vedado. Com estas lamentáveis excepções, o século XX acabou com essa indignidade e, assim, são muitas as mulheres, hoje tantas ou mais do que os homens, que ocupam os bancos e as cátedras das universidades, e participam na investigação científica e tecnológica.
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17/06/2024