Donald Sutherland

 Donald Sutherland

Donald Sutherland (1935-2024). (imdb.com)

(cinemafilia.tumblr.com)

Donald Sutherland morreu a 20 de Junho deste ano, em Miami, nos Estados Unidos da América da América (EUA). A notícia foi confirmada pelo filho do actor, Kiefer Sutherland, nas redes sociais. Donald Sutherland tinha 88 anos.

Na altura, a imprensa noticiou que o actor canadiano, que fez toda a sua carreira nos EUA e na Europa, participou em mais de 150 filmes e séries para a televisão. 

Como sou cinéfilo, antes mais do que agora, lembrei-me de um dos seus primeiros filmes que vi e que, sendo do género de terror, não me podia escapar. 

O filme em questão é “As Profecias do Dr. Terror”, datado de 1965 e realizado por Freddie Francis.  Trata-se de um filme de cinco episódios, em que o, então, jovem Donald Sutherland estava acompanhado por dois actores de referência, Peter Cushing e Christopher Lee1

(cinemafilia.tumblr.com)

Não será fácil seguir o percurso deste actor considerando uma tão vasta filmografia. Mais tarde, ficaria famoso pela sua intervenção no filme “M.A.S.H.”, realizado por Robert Altman, em 1970, baseado no romance homónimo “MASH”, de Richard Hooker. 

Cartaz promocional do filme “M.A.S.H.”
(pt.wikipedia.org)

O filme narra a história de uma unidade médica militar (MASH – Mobile Army Surgical Hospital – Hospital Cirúrgico Móvel do Exército) durante a Guerra da Coreia, mas com alusões directas, na época, à Guerra do Vietname. Com o sucesso alcançado, deu origem à aclamada série do mesmo nome exibida originalmente entre 1972 e 1983. 

O seu filho, Kiefer Sutherland, também actor, comentou nas redes sociais: “Com o coração pesado, digo-lhes que meu pai, Donald Sutherland, faleceu. Pessoalmente, considero um dos actores mais importantes da História do Cinema. Nunca se deixou intimidar por um papel, fosse ele bom, ruim ou feio. Ele amava o que fazia e fazia o que amava. E nunca se pode pedir mais do que isso. Uma vida bem vivida.”

Donald Sutherland, em 1975. (Créditos fotográficos: Arquivo Hulton / Getty Images – nbcnews.com)

Ficará sempre na minha memória a sua interpretação no filme “O Casanova” (em 1976) de Federico Fellini. Como tudo no realizador italiano o seu Casanova é uma visão muito particular de uma figura apaixonante. 

Cartaz promocional do filme “Il
Casanova”, de Federico Fellini.
(mag.sapo.pt)

Ao consultarmos a Wikipédia, lemos que Giacomo Girolamo Casanova “foi um escritor e aventureiro italiano nascido na então República de Veneza”. “É amplamente considerado uma das maiores fontes de informação sobre os costumes e hábitos da vida social do século XVIII, sendo também conhecido como um sedutor pela sua célebre vida amorosa”, adianta esta enciclopédia livre, esclarecendo que Casanova interrompeu as duas carreiras profissionais que iniciou – a militar e a eclesiástica – e levou uma vida aventurada”.

“O filme me ensinou que a ausência de amor é o pior sofrimento que alguém pode suportar”, regista o documentário francês “Fellini: I’m a Born Liar” (“Fellini: Eu sou um mentiroso nato”), de 2002, escrito e dirigido por Damian Pettigrew, baseado nas últimas confissões de Federico Fellini, filmadas por Pettigrew em Roma em 1991 e 1992 (Fellini morreu em 1993).

(en.wikipedia.org)

E, assim, o Casanova de Fellini se transforma numa máquina de sedução, acompanhado por um mecanismo que está sempre nas suas relações… É um caminho de angústia e de solidão em que o protagonista se espelha na ânsia de querer satisfazer-se e de satisfazer os outros. 

Ficam na memória as imagens fellinianas de uma Veneza barroca. Os criados apagando as luminárias de um teatro veneziano, um mar de plástico negro que Casanova contempla na sua fuga nos telhados da cidade e, finalmente, essa cena ulterior extremamente comovente na qual o protagonista dança com uma boneca mecânica.

Recorramos, pois, ao artigo de crítica cinematográfica “Casanova de Fellini”, da autoria de Luiz Santiago, na página electrónica Plano Crítico: “Ele dança com uma boneca, a carruagem de ouro do Papa atravessa seu caminho, mulheres aparecem e se desvanecem como memórias da velhice. O único desejo do protagonista permanece e é atendido, ao final, por um ser inanimado em um sonho que é um retrato tardio de sua vida.”

(planocritico.com)

Quem se lembra de Wilhelm Reich?2 No ano de 1985, Donald Sutherland participou num curto vídeo musical, interpretando a figura do psicólogo e analista freudiano. Veja, no YouTube, o referido videoclipe oficial do single “Cloudbusting”, que foi escrito, produzido e interpretado pela cantora britânica Kate Bush:

Notas:

1 – “As Profecias do Dr. Terror” (1965), com Christopher Lee, filme completo e legendado em Português:

Wilhelm Reich em Viena, no
ano de 1922. (pt.wikipedia.org)

2 – Wilhelm Reich (1897-1957) foi um psiquiatra, sexólogo, psicanalista, biólogo e físico austríaco-americano de ascendência judaica, mais conhecido como uma das figuras mais radicais da história da psiquiatria. Como informa a Wikipédia, ele foi o autor de vários livros, incluindo “Psicologia de Massas do Fascismo” e “Análise do Carácter”, ambos publicados em 1933. Wilhelm Reich é considerado o pai da “bioenergética”, incluindo através do seu ex-colaborador Alexander Lowen. 

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15/08/2024

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Roberto Merino

Roberto Merino Mercado nasceu no ano de 1952, em Concepción, província do Chile. Estudou Matemática na universidade local, mas tem-se dedicado ao teatro, desde a infância. Depois do Golpe Militar no Chile, exilou-se no estrangeiro. Inicialmente, na então República Federal Alemã (RFA) e, a partir de 1975, na cidade do Porto (Portugal). Dirigiu artisticamente o Teatro Experimental do Porto (TEP) até 1978, voltando em mais duas ocasiões a essa companhia profissional. Posteriormente, trabalhou nos Serviços Culturais da Câmara Municipal do Funchal e com o Grupo de Teatro Experimental do Funchal. Desde 1982, dirige o Curso Superior de Teatro da Escola Superior Artística do Porto. Colabora também como docente na Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti, desde 1991. E foi professor da Balleteatro Escola Profissional durante três décadas. Como dramaturgo e encenador profissional, trabalhou no TEP, no Seiva Trupe, no Teatro Art´Imagem, na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (UP) e na Faculdade de Direito da UP, entre outros palcos.

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