Em maio, seca afeta 40% do país

 Em maio, seca afeta 40% do país

(Créditos fotográficos: Nuno Veiga / Lusa – smoothfm.pt)

A ministra da Agricultura e Alimentação, Maria do Céu Antunes, a 8 de maio, no Fundão – onde assistiu ao leilão das primeiras Cerejas do Fundão 2023 e à apresentação da campanha de promoção do fruto –, informou ter assinado, no dia 5, o despacho que reconhece a situação de seca em 40% do território nacional, com incidência no Sul do país.

(observador.pt)

O despacho foi assinado depois de a tutela ter recebido os dados do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) a atestar que “nos últimos dois meses não houve chuva”, se registaram “três ondas de calor durante o mês de abril” e que se tem verificado “temperaturas médias e máximas bem acima do normal”. E isso permite dizer à Comissão Europeia, que estamos em situação de seca.

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Depois de, em princípios de janeiro, o IPMA ter afastado do País a seca, a 21 de abril, a situação de seca abrangia quase 80% do território de Portugal continental. Apenas 21,8% deste território se encontrava em condições normais, ou seja, sem falta de água. E previa-se que, mesmo que a precipitação regressasse em níveis normais, o Sul do país continuaria em seca fraca.

De acordo com um boletim intercalar do IPMA, publicado naquele dia, a onda de calor que atingiu o Continente na primeira quinzena de abril aumentou a área do país em seca meteorológica. Nestes termos, 28,3% do território encontrava-se em seca fraca; 21,2%, em seca moderada; 18,6%, em seca severa, e 10,1%, em seca extrema. Ou seja, só 21,8% do território se encontrava em condições normais.

Numa quinzena em que as temperaturas máximas estiveram quase sempre acima do valor médio mensal, com precipitação muito abaixo do normal em todo o território, houve significativa diminuição da percentagem de água no solo. As regiões Nordeste, o Vale do Tejo e o Baixo Alentejo registam valores inferiores a 20% de água no solo, em relação à capacidade de água utilizável pelas plantas. E o IPMA registava um aumento de seca meteorológica, que se estendia até à região Centro e ao interior Norte. Na região Sul, houve um aumento de seca meteorológica, predominando as classes de seca severa a extrema.

Em um mês, a área em seca em Portugal continental quase duplicou em relação a março, quando era de 48%. (24.sapo.pt)

Segundo o IPMA, a seca meteorológica carateriza-se pela falta de água por via do desequilíbrio entre a precipitação e a evaporação (esta depende de elementos, como a velocidade do vento, a insolação ou a temperatura e a humidade do ar). E ao agravamento da seca meteorológica pode estar associada a seca agrícola (desequilíbrio na água disponível no solo), a seca hidrológica (pela redução dos níveis médios de água nos reservatórios) e a seca socioeconómica (associada ao efeito conjunto destes impactos nas populações).

O IPMA previa, então, diferentes cenários para a evolução da situação de seca, consoante “cenários diferentes de ocorrência da quantidade de precipitação”.

(Boletim Climatológico Mensal, Abril 2023 – ipma.pt)

Continuando precipitação a ter níveis inferiores ao normal, haveria um aumento da área e da intensidade da seca meteorológica, “destacando-se a região Sul nas classes de seca moderada a extrema”. E, num cenário de “abril, águas mil”, com “valores da quantidade de precipitação superiores ao normal”, poderia diminuir a área como a intensidade da seca, mantendo-se, contudo, “ainda grande parte do Sul na classe de seca fraca”. Porém, as previsões do IPMA, na altura, indicavam que, a partir de 23 de abril, o calor voltaria, com temperaturas acima dos 30 graus, depois de uma sexta-feira em que a chuva reapareceria em todo o território e os termómetros baixariam para níveis mais modestos.

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Entretanto, a 2 de maio, na sede do IPMA, decorreu uma reunião sobre a previsão meteorológica para os próximos meses, bem como o seu impacto na evolução da situação de seca e perigo de incêndio em Portugal continental.

(ipma.pt)

Estiveram presentes membros do Governo e dirigentes relacionados com o tema, nomeadamente, o ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, o ministro do Ambiente e da Ação Climática, Duarte Cordeiro, a ministra da Agricultura e da Alimentação, Maria do Céu Antunes; os membros do Conselho Diretivo do IPMA, o presidente da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), Duarte Costa, e o presidente do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), Nuno Banza. A apresentação dos cenários climáticos e previsões meteorológicas estiveram a cargo dos responsáveis das áreas técnicas de previsão meteorológica, Nuno Lopes, e de acompanhamento do clima e da seca, Ricardo Deus.

O IPMA deu a conhecer as previsões e projeções meteorológicas e climatológicas para o período do verão de 2023 às três áreas governativas – informação determinante no apoio à decisão em matéria de gestão de recursos hídricos e abastecimento de água à população, ao setor económico, bem como nas atividades da proteção civil, incluindo na prevenção e resposta a incêndios.

O ministro da Administração Interna tomou conhecimento das difíceis condições meteorológicas, e do perigo de incêndio muito elevado que daí decorre, previstas para os próximos dias em Portugal e na Europa: “Estamos a conjugar esforços para respondermos, adaptarmo-nos. Em relação aos picos de calor como os que estamos a ter, a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil determinou a constituição de 40 equipas, mais de 200 elementos que estão preposicionados no território para se mobilizarem devido ao risco elevado de incêndio.”

(Boletim Climatológico Mensal, Abril 2023 – ipma.pt)

As previsões do IPMA apontam para um maio mais quente que o normal e sem chuva – após meses já marcados por temperaturas acima do normal e precipitação abaixo do normal.

Um dos indicadores mais preocupantes é o da área ardida acumulada em 2023 e que está acima da média dos últimos 16 anos (2006 a 2022), em Portugal, na Áustria, na Irlanda e na Espanha.

Associados a essas previsões estão os valores meteorológicos de abril, que situam esse mês entre os 5 mais quentes desde 1931 (92 anos): três ondas de calor e com temperaturas superiores a 30 graus; o dia mais quente dos últimos 16 anos e que representou uma anomalia térmica à superfície; e o mês mais severo em termos de risco de incêndio desde 2003 (20 anos) e por larga margem.

(Boletim Climatológico Mensal, Abril 2023 –
ipma.pt)

Com a diminuição acentuada da chuva que se tem verificado desde janeiro, em particular, no Sul do País, tendo sido quase nula no mês de fevereiro, verifica-se que: a percentagem de água no solo é quase nula em várias zonas de Trás-os-Montes, no Centro e Sul do continente; 89% do território está em situação de seca; e 34% está em situação de seca severa e extrema (Alentejo e Algarve). Esta realidade estende-se a países como a Espanha, a França, a Itália, a Grécia e a Turquia, bem como a várias ilhas mediterrânicas.

Os últimos dados do IPMA confirmam as piores previsões ao apontarem para um maio mais quente do que o normal e sem chuva – após meses de temperaturas acima do normal e precipitação abaixo do normal. E a recomendação é: “As pessoas devem dirigir-se às câmaras municipais, aos serviços municipais de proteção civil, devem dirigir-se aos corpos de bombeiros e procurar manter trabalhos de limpeza, sempre acompanhados por equipas de proteção civil municipal ou bombeiros, de forma que o possam fazer, salvaguardando as suas vidas e património.”

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Face a estes dados técnicos, a ministra da Agricultura e da Alimentação assinou o despacho de declaração do estado de seca, que possibilita “acionar um conjunto de medidas no âmbito dos apoios aos agricultores”.

A governante pormenorizou que as ajudas podem decorrer do pedido único do plano estratégico da Política Agrícola Comum (PAC) e de outro conjunto de medidas para as quais se está a pedir autorização a Bruxelas, uma das quais as terras em pousio poderem ser utilizadas para a pastorícia.

O Ministério da Agricultura e da Alimentação reconheceu a situação de seca severa e extrema em cerca de 40% do território nacional, em despacho assinado pela Ministra da Agricultura e da Alimentação, Maria do Céu Antunes. (portugal.gov.pt)

A ministra admitiu que a expectativa é que a situação tenda a piorar, mas a tutela vai acompanhar a evolução com grande proximidade. Assim, garantiu que a Comissão Interministerial da Seca se reunirá “sempre que se justifique”, para tomar “as medidas necessárias”, caso seja imperativo alargar a área abrangida pelo estado de seca.

Segundo a governante, das 65 albufeiras hidroagrícolas, acompanhadas com planos de contingência aprovados, 60 têm a campanha de rega assegurada, fruto da chuva de dezembro e de janeiro. “Temos cinco aproveitamentos com restrições graves, que já aconteciam no ano passado, mas há um conjunto de investimentos que estão a ser feitos, de forma estrutural, para podermos melhorar estes aproveitamentos”, salientou a ministra.

Maria do Céu Antunes frisou a existência de alguns entraves administrativos para dar cumprimento ao aviso específico para a criação de charcas, mas realçou que vai ser feito um trabalho em articulação com o Ministério do Ambiente, para resolver a situação, de modo a haver uma malha de charcas que permita “maior capacidade de encaixe de uma água que cai menos vezes, mas que, quando cai, cai em grandes quantidades”.

A ministra da Agricultura e da Alimentação admitiu o adiamento, “tanto quanto possível”, das candidaturas às ajudas da PAC, que terminam a 31 de maio. E disse ter conhecimento de que “nem tudo tem sido perfeito”: “Nós reunimos, esta semana ainda, com as confederações para tomarmos as medidas, nomeadamente adiando tanto quanto possível o prazo para a submissão das candidaturas.”

A governante garantiu que, independentemente do adiamento, “não estão em causa os pagamentos de outubro”: “Mesmo com o alargamento do período de candidaturas, nós não vamos condicionar este prazo, porque sabemos bem que é essencial para que os agricultores possam fazer face aos compromissos que têm assumidos.”

A ministra acentuou estar a ser feito um “esforço muito grande”, porque a reforma da PAC, “muito ambiciosa” implicou “construir todo um edifício novo, do ponto de vista da plataforma, para o acompanhamento e a apresentação das candidaturas”. “Reforçámos, inclusivamente, a verba: mais sete milhões de euros às cinco confederações de agricultores, para ajudarem os agricultores a apresentarem as suas candidaturas”, vincou a governante.

O alargamento do prazo para a entrega das candidaturas foi uma das reivindicações feitas, a 8 de maio, pela Confederação Nacional da Agricultura (CNA), em conferência de imprensa na sede da Associação Distrital de Agricultores de Castelo Branco, no Fundão, alertando que o processo de candidaturas às ajudas da PAC se encontra “um verdadeiro caos”.

“A pressa do Ministério da Agricultura e do Governo em concluir uma reforma da PAC que penaliza os agricultores familiares e de entregarem o Plano Estratégico Nacional (PEPAC) a Bruxelas teve custos elevados e quem está a pagar são os agricultores”, acusou a CNA.

A Confederação Nacional da Agricultura avisou que o processo de candidaturas às ajudas da Política Agrícola Comum (PAC) “encontra-se um verdadeiro caos”, com agricultores a não conseguirem fazer o processo. (Créditos fotográficos: Ramon van Flymen / EPA – dinheirovivo.pt)

A CNA disse que o Governo “não teve em conta a realidade do setor e da estrutura depauperada da administração pública, cujos recursos humanos muito têm feito para, ainda assim, tentar ultrapassar os vários problemas”. Referiu que, havendo milhares de candidaturas por fazer”, é necessário o alargamento do prazo para o dia 31, sob pena de se poderem deixar agricultores de fora. E defendeu que os agricultores não podem ser penalizados, “por possíveis incumprimentos, nas novas medidas”, no pagamento das ajudas.

Já a Associação para o Desenvolvimento Económico e Social (SEDES), vincando que Portugal não tem défice hídrico (tem, tem), mas de distribuição, pede a conclusão dos planos de eficiência, o aumento das reservas e a transferência de água de Norte para Sul, para evitar a desertificação de algumas zonas, fixar as populações nestas regiões e manter a coesão territorial.

E os campos de golfe algarvios querem ligação a estações de tratamento de águas residuais (ETAR) para reduzir consumos.

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Quando as coisas estão más, é difícil não haver insatisfeitos.

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11/05/2023

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Louro Carvalho

É natural de Pendilhe, no concelho de Vila Nova de Paiva, e vive em Santa Maria da Feira. Estudou no Seminário de Resende, no Seminário Maior de Lamego e na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Foi pároco, durante mais de 21 anos, em várias freguesias do concelho de Sernancelhe e foi professor de Português em diversas escolas, tendo terminado a carreira docente na Escola Secundária de Santa Maria da Feira.

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