G7 propõe na ONU projeto para criação de Estado palestiniano
A Itália, na qualidade de presidente em exercício do G7, anunciou, a 14 de agosto, que apresentará à Organização das Nações Unidas (ONU), em setembro, um projeto de reconstrução global para Gaza, com vista ao “nascimento de um Estado palestiniano”, revelou o vice-primeiro-ministro e ministro dos Negócios Estrangeiros de Itália, Antonio Tajani, numa entrevista ao diário italiano La Stampa.
Efetivamente, o chefe da diplomacia italiana declarou: “Em setembro, à margem da assembleia-geral das Nações Unidas, irei propor, a nível do G7, um projeto para a reconstrução, não só humanitária, mas também política e económica, de Gaza.”
O G7 é o grupo dos países mais industrializados do Mundo: a Alemanha, o Canadá, os Estados Unidos da América (EUA), a França, a Itália, o Japão e o Reino Unido, embora a União Europeia (UE) também esteja representada.
Antonio Tajani adiantou que a Itália está pronta a enviar um contingente para trabalhar, numa transição gerida pela ONU e liderada pelos países árabes, para o nascimento de um Estado palestiniano, unindo a Faixa de Gaza e a Cisjordânia; e revelou que os EUA solicitaram a Roma que recorresse aos “carabinieri” (força policial militar italiana) para treinarem “uma força de segurança palestiniana adequada”. Contudo, frisou que o interlocutor, neste processo, com vista à reconstrução de Gaza e à criação de um Estado da Palestina “só poder ser a Autoridade Nacionalidade Palestiniana (ANP), e não o Hamas”.
Questionado sobre o motivo por que Itália não reconheceu o Estado palestiniano, como já fizeram vários países europeus, alegou que Roma é “a favor” da solução de “dois povos, dois estados”, mas que “tem de ser oferecida uma perspetiva concreta ao povo palestiniano”, o que é inviável com a organização islamita Hamas no poder em Gaza.
“Como podemos reconhecer um Estado enquanto existir o Hamas, que controla grande parte da Palestina e afirma que quer destruir Israel? Outros reconheceram-no e o que é que mudou?”, perguntou Tajani, para quem a Itália não quer dar “uma bofetada moral a Israel, neste momento”, mas trabalhará para que o governo de Telavive aceite negociações para a concretização da fórmula “dois povos, dois estados”.
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Esta postura do G7, pela voz da presidência italiana, acontece quando o conflito israelo-palestiniano – aliás, entre Israel e o Hamas (o braço armado e mais radical dos Palestinianos) – está em risco de escalar para conflito regional de consequências imprevisíveis.
Se é verdade, como diz Antonio Tajani, que o Hamas quer destruir Israel, também o é que o governo israelita, que diz combater em várias frentes e que alegou ter Israel o direito de se defender, tem respondido de forma desproporcionada e até arrasadora – incluindo a quase banição da ajuda humanitária –, confessou manter a guerra até à morte do último palestiniano (entenda-se: do Hamas). E, entre os “crimes israelitas”, inclui-se o assassinato do líder político do movimento islamita Hamas, Ismail Haniyeh, durante uma visita oficial a Teerão, e a morte do comandante do movimento libanês, Hezbollah Fuad Shukr, num bombardeamento a Beirute. Por isso, o Irão, que afirmou o direito de retaliar o assassinato do líder do Hamas, perpetrado no seu território, denunciou, a 7 de agosto, o silêncio da UE e a inação do Conselho de Segurança da ONU face aos “crimes israelitas”.
Com efeito, após consultas diplomáticas realizadas após a morte de Haniyeh, Ali Bagheri Kani, ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano em exercício, disse ter recebido, na noite de 6 de agosto, telefonemas dos homólogos do Reino Unido, da Suíça, da Malta e da Áustria, a quem transmitiu a reprovação de Teerão, perante um “comportamento de fechar os olhos e, por vezes, apoiar os crimes do regime sionista [Israel]”. “Alguns países europeus permaneceram em silêncio, face às ações terroristas do regime sionista, em violação do direito internacional”, disse Bagheri Kani, na conversa com o ministro dos Negócios Estrangeiros austríaco, Alexander Schalenberg.
O chefe da diplomacia iraniana denunciou também que a “inação do Conselho de Segurança da ONU em relação aos crimes israelitas” fez com que Telavive “continuasse a guerra e o derramamento de sangue e procurasse expandir a instabilidade e a insegurança na região”.
Bagheri Kani referiu as mortes de Haniyeh, em ataque com um projétil de curto alcance, em Teerão, atribuído a Israel, e do líder militar do grupo xiita libanês Hezbollah, Fuad Shukr, em ataque israelita, em Beirute, a 30 de julho, incursões que aumentaram a tensão na região, fortemente abalada pelo conflito entre as forças israelitas e o Hamas, na Faixa de Gaza.
Ali Bagheri Kani fez estas declarações no dia em que decorreu uma reunião extraordinária dos chefes da diplomacia dos 57 Estados-membros da Organização de Cooperação Islâmica (OCI) na cidade saudita de Jeddah.
O Irão, que prometeu vingança contra Israel, após a confirmação da morte de Haniyeh, solicitou uma reunião urgente do Conselho de Segurança da ONU, esperando que o ataque que atribui a Telavive fosse condenado. No entanto, os EUA, o Reino Unido e a França denunciaram o “apoio iraniano aos atores desestabilizadores da região”, aludindo aos movimentos islâmicos Hamas, Hezbollah e aos Huthis do Iémen, que constituem o “Eixo da Resistência”, uma aliança informal anti-israelita, liderada por Teerão. E o Irão condenou esta atitude dos países ocidentais e prometeu que dará uma resposta dura a Israel.
A República Islâmica tem criticado a inação de organizações internacionais, face ao que considera um “genocídio” na Faixa de Gaza, bem como o apoio dos EUA a Israel. De facto, Teerão chegou a aplaudir a “Operação Tempestade al-Aqsa”, perpetrada pelo Hamas e pela Jihad Islâmica Palestina contra o território israelita a 7 de outubro de 2023, que causou cerca de 1200 mortes e permitiu o sequestro de 250 pessoas, e que desencadeou o conflito em Gaza. Em resposta, Israel desenvolveu uma campanha de bombardeamentos contra a Faixa de Gaza, com mais de 39600 mortos, com repercussões a nível regional e com o envolvimento do Hezbollah e dos Huthis. E, após as mortes dos líderes do Hezbollah e do Hamas, aumentaram os receios de uma escalada da guerra a nível regional.
O Irão, que denunciou a violação da sua soberania e integridade territorial por parte de Israel, no ataque contra Haniyeh, ameaçou retaliar firmemente contra Israel, especulando-se que Teerão e o “Eixo da Resistência” lançassem um ataque conjunto contra o Estado judeu. Por seu turno, Israel afirma-se preparado para se defender, enquanto os EUA reforçaram a presença militar na região, para ajudar o seu principal aliado.
O Irão fez um ataque direto e sem precedentes contra o território israelita, em meados de abril, em retaliação pelo atentado bombista ao consulado iraniano em Damasco, na Síria, a 1 desse mês, que matou sete membros da Guarda Revolucionária Iraniana, incluindo dois generais.
O Irão considera que tem o “direito legal” de punir Israel pelo assassinato do líder do Hamas, em Teerão, e defende que a República Islâmica não é responsável pela escalada na região. “Consideramos indiscutível o nosso direito de defender a nossa segurança nacional, a nossa soberania e a nossa integridade territorial”, afirmou o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano, Nasser Kanani, numa conferência de imprensa, acrescentando: “O Irão tem o direito legal de punir [Israel]. O Irão atua no quadro da Carta das Nações Unidas e do direito internacional e toma medidas sérias para proteger a sua segurança nacional com o objetivo de punir o agressor, criar dissuasão e defender a sua segurança.”
O Irão, o movimento islamista palestiniano Hamas e o seu aliado libanês Hezbollah responsabilizaram Israel pelo assassinato de Haniyeh na capital iraniana, mas Telavive não confirma publicamente o alegado envolvimento na morte do líder político.
A morte de Haniyeh ocorreu poucas horas depois de um ataque reivindicado por Israel ter matado o chefe militar do movimento libanês Hezbollah, Fuad Shukr, perto de Beirute.
A República Islâmica e Israel, velhos inimigos, competem pela hegemonia regional, mantendo, há décadas, uma guerra através de ataques cibernéticos, de assassinatos e de atos de sabotagem.
As preocupações sobre uma possível escalada militar no Médio Oriente estão a aumentar depois de o Irão e os seus aliados terem intensificado, nos últimos dias, as ameaças contra Israel, que o regime iraniano diz ser “a fonte da escalada” no Médio Oriente. “Se os governos da região e a comunidade internacional tivessem cumprido o seu dever legal, exercendo pressão sobre o regime sionista, provavelmente não teríamos assistido a um nível tão elevado de desordem e a uma escalada do risco de conflito na região”, frisou Kanani, segundo o qual o terror é a essência do regime sionista [Israel], “a sobrevivência deste regime depende da continuação do terrorismo organizado e patrocinado pelo Estado” e a experiência demonstrou que Israel não é só ameaça para a Palestina, mas também perigo real para a estabilidade e segurança de todos os Palestinianos.
Israel diz que o país está num “nível muito elevado” de preparação para qualquer cenário, “tanto defensivo como ofensivo”, tal como referiu o primeiro-ministro, Benjamim Netanyahu.
O principal aliado de Israel, os EUA, que chegou a pedir moderação a Israel e mesmo um cessar-fogo, anunciou o aumento da sua presença militar no Médio Oriente, nomeadamente para “reforçar o apoio à defesa de Israel”.
Entretanto, Sergei Shoigu, ex-ministro da Defesa russo, agora secretário-geral do Conselho de Segurança da Rússia, veio a Teerão, para uma visita, com o propósito de aprofundar a cooperação entre a Rússia e o Irão, num momento de fortes receios de uma escalada militar no Médio Oriente. E discutiu o reforço das relações bilaterais, questões económicas e de segurança e a situação regional e mundial, em encontros com o presidente iraniano, Massoud Pezeshkian, com o secretário do Conselho Supremo da Segurança Nacional, Ali Akbar Ahmadian, e com o chefe de Estado-Maior do Exército, Mohammad Bagheri.
A visita surgiu num momento em que se intensificam as manobras diplomáticas para evitar uma escalada militar no Médio Oriente entre o Irão e os seus aliados, por um lado, e Israel, por outro, e num contexto de receio de conflito no Líbano.
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Entretanto, a 12 de agosto, a tentar evitar uma escalada das tensões a nível regional, os EUA e os aliados europeus apelaram a que o Irão refreasse as suas ameaças, alertando para a possibilidade de, durante a semana, Teerão e os seus seguidores levarem a cabo um “conjunto significativo de ataques” – apelo que o Irão rejeitou, no dia 13. E o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, pediu ao primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, e ao presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, “máxima contenção”, para evitar uma escalada no Médio Oriente.
Todavia, só o cessar-fogo entre Israel e o Hamas em Gaza poderá fazer o Irão adiar a retaliação pela morte de Haniyeh, segundo garantiram à Reuters três oficiais seniores iranianos, segundo os quais o Irão e os apoiantes atacariam, se as negociações falhassem ou se percebessem que Israel estivesse a arrastar as conversações. Os EUA diziam-se esperançosos de que Israel e o Hamas retomassem as negociações de cessar-fogo, Benjamin Netanyahu tinha confirmado a participação de Israel e os parceiros do Hamas, no Qatar, e que estavam a trabalhar para garantir a representação do Hamas.
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A instauração dos dois estados implica a divisão do território e o respeito pelas fronteiras definidas, o que é difícil, porque Judeus e Palestinianos reivindicam as mesmas áreas. Os Judeus recuperaram o território e o Estado, 19 séculos após a dispersão pelo Mundo, ocorrida no século I, recuperação apadrinhada pelo Reino Unido e homologada pela ONU (porquê?) e efetuada pela imigração de Judeus e consequentes compra ou confisco de terrenos e expulsão dos ocupantes. Por sua vez, os Palestinianos sentiram-se enganados pelo Reino Unido e pela ONU e nem sempre tiveram um comando unificado e persistente, até à criação do Hamas. Haverá milagre, face a ambições antagónicas, após várias tentativas falhadas e quase dando a História para os dois lados?
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26/08/2024