“Justiça de Fafe”
Talvez esta expressão não seja muito conhecida a nível nacional, mas, em Fafe, até tem direito a estátua em praça pública e é sinónimo de “justiça popular”.
Conta a história ou a narrativa das comunidades locais que o visconde de Moreira de Rei – um título nobiliárquico português criado por D. Luís I de Portugal, por decreto de 22 de Agosto de 1870, em favor de António Augusto Ferreira de Melo e Carvalho – um eminente político do século XIX, deputado às Cortes, que, em imprecisa ocasião, chegou atrasado a uma sessão, sendo prontamente censurado, de modo pouco cortês, por um outro deputado, fidalgo com o título de marquês, que o chamou de “tinhoso”.
O aludido visconde ignorou a injúria, mas, no fim da mesma sessão das Cortes, dirigiu-se ao marquês a solicitar explicações. Este, não só não lhe pediu desculpa, como também lhe arremessou as luvas à cara, em sinal de que o desafiava para um duelo.
António Augusto Carvalho, o dito visconde, não era homem de fugir a tal desafio. No dia e hora aprazados, lá compareceu, pronto para o duelo e acompanhado das respectivas testemunhas.
Segundo as regras destes confrontos, cabia ao desafiado escolher as armas. Para espanto do seu opositor, o visconde não escolheu pistolas nem espadas. Optou por varapaus!
O marquês não sabia manejar os varapaus, mas o visconde era perito no jogo do pau, uma ancestral arte marcial portuguesa. Contudo, regras são regras. E, se o desafiado tinha escolhido esta arma popular, o marquês tinha de aceitar. O resultado era previsível. O visconde desancou o malcriado marquês, para gáudio dos populares que assistiam e que gritavam: “Viva a justiça de Fafe!”
Existe, pelo menos, outra versão para esta expressão ou narrativa popular, embora não tão difundida: um lisboeta pediu em casamento uma donzela de Fafe e, pouco tempo depois, recusou-se a casar. Ao que consta, o pai da noiva despeitada perseguiu-o e aplicou-lhe a afamada Justiça de Fafe.
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22/06/2023