“Lagar comTEMPO” reduzido a cinzas
Agora, do Lagar comTEMPO só restam as paredes do edifício. O Lagar comTEMPO era a casa da AlbergAR-TE e da Companhia do Jogo – o grupo teatral profissional, criado e dirigido artisticamente por Victor Valente1. O fogo, também destruiu cenários, figurinos, instrumentos, material de som e de luz, a par de memórias e afectos.
Tudo aconteceu na madrugada de 16 de Setembro. O incêndio florestal que infernizou as vidas das gentes de Albergaria-a-Velha – e que ditou a morte de um trabalhador brasileiro2 – consumiu habitações, empresas e a Casa de Cultura fundada, em 1998, pelo actor e pela sua companheira, a artista plástica Tucha Martins (1963-2021), que faleceu vítima de covid-19.
O Lagar comTEMPO é útero quente de múltiplas actividades artísticas e cívicas. Impedir a morte da AlbergAR-TE e da Companhia do Jogo é um imperativo local e nacional. Exige-se que as autoridades municipais e governamentais o façam.
A destruição do espaço cultural e cívico de Albergaria-a-Velha não mereceu qualquer referência informativa e muito menos qualquer reportagem nos diversos canais televisivos. Lamentavelmente.
Notas:
1 – Victor Valente (1950) é actor e encenador, performer, mágico, animador cultural, professor de Interpretação, Movimento e Drama, músico. Foi director artístico do Teatro Universitário do Porto (TUP) e fundou e dirigiu a companhia teatral Realejo, que se distinguiu como um dinâmico centro cultural da cidade “Invicta”. Antigos elementos do TUP e do grupo de acção cultural “A Feira” participaram activamente na fundação da companhia, em 1979. A cooperativa de produção de espectáculos portuguesa Realejo terminou a sua actividade em finais da década de 1980, vitimada pela derrocada do edifício onde estava instalada a sua sede, na Rua dos Mercadores, em plena Ribeira.
2 – Carlos Eduardo era natural da cidade pernambucana do Recife (no Brasil). Vivia em Portugal há cinco anos. Tinha 28 anos de idade e trabalhava numa empresa de gestão florestal em Albergaria-a-Velha. Foi engolido pelo fogo quando tentava recuperar equipamentos da entidade patronal. Numa área de risco, segundo o jornal Público. Era conhecido como Chantilly Papai e sonhava ser dançarino.
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23/09/2024