Mil cravos vermelhos para dona Celeste Caeiro

Celeste Martins Caeiro (antiga freguesia do Socorro, em Lisboa, 2 de Maio de 1933 – Leiria, 15 de Novembro de 2024). (@Jornal Universitário do Porto)
Celeste Caeiro faleceu. Tinha 91 anos. Era a anónima de Abril mais popular do país. Todos a conheciam por “Celeste dos Cravos”. Foi ela que, há 50 anos, no dia mais lindo da nossa história, deu um cravo a um soldado, o que se tornou no símbolo do “25 de Abril”.
A notícia da partida de Celeste Caeiro foi confirmada pela sua neta Carolina Fontela, numa rede social. Embora já muito doente e debilitada, a dona “Celeste dos Cravos” desfilou pela Avenida da Liberdade, nos 50 anos de Abril. Não quis falar, mas passou a palavra à neta.


Manuel V. Botelho – pt.wikipedia.org)
“Há muita gente que ainda pensa que foi uma florista [que deu um cravo a um soldado], mas a minha avó não era florista”, disse, na altura, a neta à agência Lusa, lembrando que Celeste trabalhava num “self-service” no edifício Franjinhas, situado no cruzamento entre as ruas Braamcamp e Castilho, em Lisboa.
Militante do Partido Comunista Português (PCP) – também esteve presente na Festa do Avante deste ano, onde foi saudada por Paulo Raimundo –, Celeste Caeiro separou-se do marido, “por razões que nunca quis contar” e vivia numa “casa humilde com a mãe e uma filha de 5 anos a seu cargo”.
Celeste Caeiro não tinha telefonia nem televisão. Por isso, só soube da revolta militar quando chegou ao emprego, na manhã do dia 25 de Abril de 1974. Nesse dia, o estabelecimento comercial de “self-service” em que Celeste trabalhava não abriu portas e o patrão, “que tinha mandado comprar cravos para oferecer aos clientes e [para] decorar o espaço, disse aos funcionários que levassem um ramo cada um”. Celeste assim fez.

Depois, rumou ao Rossio para ver “o que há tanto tempo esperava que acontecesse”. Abeirou-se de um dos soldados revoltosos e perguntou-lhe se precisava de alguma coisa. O soldado, “de quem nunca soube a identidade, fez sinal de que queria um cigarro” e Celeste, que “sofria dos pulmões e nunca fumou, deu-lhe antes um cravo”. Um cravo vermelho que se tornou o símbolo da revolução.

A morte surpreendeu a dona “Celeste dos Cravos” em casa da filha e da neta Carolina, em Alcobaça, no distrito de Leiria. Tinha 91 anos e uma vida marcada pelo trabalho e pelo infortúnio. Como aquele que sobre ela se abateu quando, em 25 de Agosto de 1988, o incêndio do Chiado reduziu a cinzas “a casa, as fotografias e as recordações de uma vida”.
O funeral de Celeste Caeiro realizou-se, ontem (domingo, 17 de Novembro), em Lisboa, na Igreja de São José da Anunciada, tendo o cortejo fúnebre seguido para o crematório do Alto de São João. Cumprindo a sua vontade, o cortejo fúnebre passou pelo Centro Vitória do PCP, na Avenida da Liberdade.
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18/11/2024