No pós-assalto ao Museu do Louvre
Museu do Louvre, em Paris. (presse.louvre.fr)
A 19 de outubro, como é do conhecimento público, foram roubadas do mundialmente famoso Museu do Louvre, em Paris, em plena luz do dia, oito joias da coroa francesa, o que provocou indignação pública e levantou questões sobre a segurança do museu.

Como informou a rede de rádio francesa RTL, face a esta ocorrência, a direção do museu, no dia 24, transferiu parte da sua coleção de joias para os cofres do Banco de França, por precaução. As peças, que incluíam, alegadamente, as “Joias da Coroa” expostas na Galeria Apolo, bem como outras joias de outras áreas do museu, foram transferidas discretamente sob escolta policial. Ainda não se sabe quando as joias podem regressar ao notável complexo museológico.
O cofre do banco, situado 27 metros abaixo da sua sede no coração de Paris, alberga 90% das reservas de ouro de França. E, segundo o canal de notícias francês BFMTV, a decisão de transferência das joias para esse cofre visa proteger as joias, com segurança reforçada.
Vários ladrões invadiram o museu, utilizaram um elevador de cestos para aceder a uma varanda que dá para a Galeria Apolo, forçaram uma janela e partiram duas das três vitrinas (instaladas em 2019) para, entre seis e sete minutos, roubarem as joias, antes de fugirem, com as peças, em veículos de duas rodas – o que desafia qualquer sistema de segurança.

O galerista luso-francês Philippe Mendes, que mora do outro lado do rio Sena, no Quai Voltaire, e que é grande conhecedor do Louvre, pronunciou-se, dizendo: “Entrar no Louvre é entrar num bunker, é impossível sair de lá, a segurança é ao mais alto nível. Mas no exterior, não. É grande de mais, não é possível ter um guarda em baixo de cada janela.”

Louvre. (© Museu do Louvre / Nicolas Guiraud –
presse.louvre.fr)
O jornal satírico Canard Enchainê afirmou que “o roubo das joias da Coroa, que ocorreu na manhã de 19 de outubro, provavelmente, poderia ter sido evitado, se o Louvre não tivesse trocado as vitrinas que as albergam por outras supostamente mais seguras”, referindo que as vitrinas atuais eram “aparentemente mais frágeis do que as antigas”.
Em resposta a direção do museu, respondeu: “O Museu do Louvre sustenta que as vitrinas instaladas em dezembro de 2019 representaram um avanço considerável, em termos de segurança, dado o grau de obsolescência do antigo equipamento, que, sem substituição, teria implicado a retirada das obras da vista do público.
No entanto, três dias depois do assalto, Laurence des Cars, presidente do museu declarou, no Senado francês, que as câmaras de videovigilância no interior do museu tinham funcionado, no momento do assalto, mas que a videovigilância no exterior é um ponto fraco, que gostava de ver criada uma “esquadra de polícia dentro do museu” e que iria pedir ao Ministério do Interior que estudasse tal possibilidade. Des Cars sublinhou que “este roubo fere a instituição na sua missão mais profunda” e que está previsto, a “curto prazo”, o reforço da segurança nas imediações do Louvre, nomeadamente, “dispositivos de controlo remoto”, para evitar que “os veículos estacionem” junto ao museu.

(pt.wikipedia.org)
Des Cars foi questionada sobre a rapidez da ação dos assaltantes, sobre a segurança das vitrinas que continham as joias e sobre a resposta da equipa de vigilância.
Na Assembleia Nacional, a ministra da Cultura, Rachida Dati, defendeu o museu e negou falhas no sistema de segurança. “O sistema de segurança do Museu do Louvre não falhou. O sistema funcionou”, afirmou, anunciando que parte do orçamento de renovação do museu será destinada à atualização do sistema de segurança, incluindo novas câmaras de videovigilância.
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O roubo provocou a indignação da opinião pública e foi criticado como uma “humilhação nacional” por vários deputados franceses. Também levantou questões sobre a segurança dos museus, para cuja falta de investimento os funcionários do Louvre tinham anteriormente alertado.
No entanto, nos últimos anos, a Europa tem assistido a um aumento notável de assaltos a museus. Só em França, pelo menos, quatro museus foram assaltados, nos últimos meses.
Após o ousado roubo do museu mais visitado do Mundo, mais de 100 investigadores têm estado a trabalhar para encontrarem os quatro suspeitos e as joias desaparecidas, segundo a procuradora de Paris Laure Beccuau. Refira-se que, entretanto, a polícia francesa prendeu dois dos homens suspeitos de participar no roubo milionário.

– objectifgard.com)
Um procurador de Paris estima que as joias da coroa roubadas do Museu do Louvre, na capital francesa, valiam 88 milhões de euros, mas que a estimativa monetária não inclui o seu valor histórico para França. E a procuradora Laure Beccuau sustentou, numa entrevista à RTL, que os malfeitores que levaram as joias “não vão ganhar 88 milhões de euros, se tiverem a péssima ideia de as desmontar”, e que talvez se possa esperar que eles pensem nisso e não destruam estas joias.
No dia 21, a ministra francesa da Cultura afirmou que o dispositivo de segurança instalado no Louvre funcionou corretamente durante o roubo: “O dispositivo de segurança do Museu do Louvre não falhou, isso é um facto. O aparelho de segurança do museu do Louvre funcionou”, afirmou Rachida Dati aos deputados da Assembleia Nacional.
Os comentários surgem depois de terem sido levantadas questões sobre a segurança do Louvre – e se as câmaras de segurança poderão ter falhado – depois de os ladrões terem subido a fachada do Louvre num elevador de cestos ou de escada, forçado uma janela, partido vitrinas e fugido com joias napoleónicas de valor histórico incalculável.

Rachida Dati disse que abriu um inquérito administrativo, que vai juntar-se à investigação policial, para garantir total transparência sobre o que aconteceu, mas não deu quaisquer pormenores sobre a forma como os ladrões levaram a cabo o assalto, uma vez que as câmaras estavam a funcionar.

O roubo do dia 19 centrou-se na dourada Galeria Apolo, onde estão expostos os diamantes da Coroa. Os alarmes levaram os agentes do Louvre para a sala, obrigando os intrusos a fugir, mas o roubo já tinha sido consumado.
De acordo com as autoridades, foram levados oito objetos: um diadema de safira, um colar e um único brinco de um conjunto ligado às rainhas francesas do século XIX, Marie-Amélie e Hortense.
Também foram roubados um colar de esmeraldas e brincos do conjunto da imperatriz Marie-Louise, a segunda mulher de Napoleão Bonaparte; um broche relicário, o diadema da imperatriz Eugénie (que foi, entretanto, encontrado nas imediações do museu) e o um grande broche de corpete pertencente também a Eugénie. Estas duas últimas peças formam um conjunto imperial do século XIX muito apreciado.

(en.wikipedia.org)
No dia 20, o ministro francês do Interior, Laurent Nuñez, disse que o alarme do museu foi acionado quando a janela da Galeria Apollo foi forçada. Os agentes da polícia chegaram ao local, dois ou três minutos depois de terem sido chamados por um indivíduo que testemunhou a cena, segundo o governante.
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A polícia francesa demorou quase uma semana a efetuar as primeiras detenções no âmbito do inquérito sobre o roubo das joias dos soberanos franceses da Galeria Apolo.
Duas pessoas suspeitas de envolvimento no espetacular roubo do Louvre foram detidas, noticiou Le Parisien na manhã do dia 26.
De acordo com o jornal, dois homens foram detidos, no dia 25, à noite pela polícia judiciária, no âmbito de investigações sobre “roubo organizado em grupo” e sobre “conspiração criminosa para cometer um crime”.
A revista Paris Match e a France Inter revelam, citando fontes policiais, que, pelo menos, um homem foi detido no aeroporto Roissy-Charles-de-Gaulle, quando se preparava para embarcar num avião com destino à Argélia.

Maria Luísa, imperatriz de França. (© Museu do Louvre –
expresso.pt)
Entretanto, o Expresso, no dia 26, referia que a polícia francesa deteve dois suspeitos do roubo de joias no Museu do Louvre. E, citando o jornal Le Parisien e a revista Paris Match, precisava que um dos suspeitos foi detido no aeroporto Charles-de-Gaulle, perto de Paris, quando se preparava para embarcar num voo para a Argélia, e que o segundo suspeito foi preso, pouco depois, na região de Paris.
Os dois homens, na casa dos 30 anos, ambos de Seine St-Denis, um subúrbio de Paris, foram detidos por crime organizado e por associação criminosa, por uma equipa da polícia de fronteiras e, depois, entregues à equipa da polícia judiciária, que está a investigar o caso.

Segundo a Reuters, os suspeitos são conhecidos da polícia francesa e a procuradora de Paris, Laure Beccuau, lamentou o facto de a informação sobre a detenção ter sido divulgada. “Esta revelação só pode prejudicar os esforços de investigação dos cerca de 100 investigadores mobilizados, tanto na busca pelas joias roubadas como por todos os autores do crime”, afirmou a procuradora.
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A 24 de outubro, Dolores Katanich e Theo Farrant, em artigo intitulado “Como o assalto do século deu um impulso valioso a uma empresa alemã de escadas”, publicado pela Euronews, dão-nos conta de um dado curioso, ao escreverem: “A empresa familiar alemã Böcker, sediada na Renânia do Norte-Vestfália, tornou-se cúmplice involuntária no roubo ao Museu do Louvre de maior destaque do fim de semana, depois de um dos seus elevadores mecânicos ter desempenhado um papel-chave no ousado golpe.”

Na verdade, segundo os articulistas, o fabricante de elevadores de escadas Böcker “foi às redes sociais, ao ver a sua escada usada no furto do Louvre”. Efetivamente, a “Böcker Agilo transporta tesouros, até 400 quilogramas a 42 metros, por minuto [400 kg a 42 m/min], quase inaudível”, esclarecem.
Um dia após o roubo, a Böcker reagiu com uma publicação imbuída de humor mordaz, transformando o caso num trunfo de marketing, depois de saber que ninguém ficou ferido.
A direção da empresa sobrepôs o slogan a uma foto do local do crime. “Quando é preciso agir depressa, o Böcker Agilo transporta os seus tesouros até 400 kg a 42 m/min, silencioso como um sussurro”, lê-se na legenda.

À AFP, o diretor-geral, Alexander Böcker, declarou que decidiram acrescentar “um toque de humor” à situação. “O crime é, claro, absolutamente censurável, isso está-nos perfeitamente claro”, afirmou, acrescentando: “Foi… uma oportunidade para usarmos o museu mais famoso e mais visitado do Mundo para ganhar alguma atenção para a nossa empresa.”
A reação online ao anúncio irreverente tem sido positiva, com comentários que vão de “Este pode ser o melhor anúncio que vi este ano!”, a “jogada de marketing brilhante”. “A vossa mensagem leva a coroa”, brincou um utilizador.
Segundo Dolores Katanich e Theo Farrant, a Böcker confirmou que o elevador foi vendido, há anos, a uma empresa francesa de aluguer, à qual os ladrões terão ‘pedido emprestado’ o equipamento, depois de combinarem uma demonstração falsa.
Aumentando o burburinho online em torno do roubo, surgiram nas redes sociais novas imagens do incidente, a mostrar a fuga, sem pressas, dos larápios.
O vídeo de 36 segundos, filmado de uma janela próxima com vista para o Quai François Mitterrand, mostra dois homens de negro – um com colete refletor, o outro com capacete de mota – a descer na escada elevatória da Böcker, a partir da Galeria de Apolo do museu.
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É de recordar que o assalto, que ocorreu por volta das 9h30 (CEST) de 19 de outubro, durou entre seis e sete minutos e envolveu quatro pessoas que não estavam armadas, mas que ameaçaram os seguranças com rebarbadoras, segundo a procuradora de Paris, Laura Beccuau.
Segundo as autoridades, foram visadas nove peças, mas oito foram roubadas, da coleção de joias de Napoleão e da Imperatriz, na Galeria de Apolo, incluindo um colar, um broche, uma tiara, entre outras. Um objeto foi, mais tarde, encontrado no exterior do museu, segundo a ministra da Cultura. A comunicação social francesa identificou-o como a coroa imperial, cravada de esmeraldas, da mulher de Napoleão III, a imperatriz Eugénia, com mais de 1300 diamantes. Terá sido recuperada partida.

É caso para acolher o ditado popular: “Casa roubada, trancas à porta”. É preciso haver um assalto a um museu (no caso, o mais visitado do Mundo) para atualizar e reforçar a segurança. Por outro lado, as autoridades de qualquer complexo museológico deveriam saber que joias de referência histórica não devem estar em exposição permanente num museu. Devem, em minha opinião, permanecer num cofre à prova de tudo (bala, sismo, míssil, roubo e negligência) e serem expostas apenas temporariamente com segurança máxima a cargo de pessoas e dos meios técnicos mais sofisticados, mas que funcionem mesmo.
É claro que a investigação deve ir ao cerne de tudo: factos, causas, responsabilidades e consequências. É bom que todos os assaltantes sejam detidos, que a segurança seja reforçada, mas concordo que a divulgação das detenções foi prematura e pode prejudicar a investigação.
Enfim, também na França, o segredo de justiça se desfaz num ai!
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27/10/2025