Notícias do Brasil

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Marilia Castelli (Unsplash)

Para frear o colapso nos hospitais haveria duas saídas: ou ampliar de maneira intensa o número de leitos e de UTIs, ou o fechamento total das atividades. O tal do lockdown. Ou seja, o fechamento não é tanto para evitar o contágio, mas para segurar a onda nos hospitais. Quem não se lembra da China? Nos primeiros meses da Covid abriu gigantescos hospitais de emergência.

No caso do Brasil, fazer o fechamento total implicaria ter políticas sérias de sustento das famílias que não tivessem salário para seu sustento, como os ambulantes, os autônomos e os pequenos e médios comerciantes. Já vimos isso, isso é impossível por aqui. Os pequenos e médios empresários não receberam ajuda e faliram. Houve crédito, mas a burocracia era imensa e demorou demais a sair. Os que precisam trabalhar na rua, com um auxílio merreca, seguiram saindo pra rua. Não tem jeito. Agora, com essa nova proposta de auxílio, menos ainda, mais uma vez não se vai segurar o povo em casa. Não é culpa deles. Eles precisam levar comida pra casa. Portanto, é perverso, culpar os trabalhadores. Como sustentar uma casa com 200 reais?

Sem auxílio e sem linhas de crédito para os pequenos, só sobrevivem os grandes. Esse é o drama. Mas, é bem típico do capitalismo. Não há qualquer interesse em “salvar” as gentes. O negócio é garantir que os mesmos de sempre sigam sendo bem ricos. Veja o caso da Amazon, que teve lucros astronômicos na pandemia, ou a Google, ou os bancos.

Agora, o governo federal quer impedir que os governadores façam algo para salvar as pessoas, porque a maioria deles está se dando conta que mortos não compram nem movem a economia. O ministério não comprou vacina e não deixa ninguém comprar. A imunização segue em passos de tartaruga, podendo, inclusive, se tornar inócua, pela demora em chegar a um índice seguro. Afinal, a proteção não é individual, ela é coletiva. Mais uma vez o mandatário maior joga a responsabilidade para os governadores, criando cortinas de fumaça para manter os apoiadores. E a ceifadora segue, inclemente.

Entre os bolsonaristas raiz nada do que acontece é culpa do governo federal. O gás subiu? É culpa dos governadores. Pessoas estão morrendo nos hospitais? É porque tem um plano satânico no qual os médicos ganham por pessoa morta. A alimentação teve aumento nos preços? É culpa dos governadores que estão fazendo loquidaum. O governo não comprou a vacina? é porque a vacina tem um chip que ou mata a pessoa ou transforma ela num monstro. Nada cola no mito.

Mas, como sempre acontece, por mais mentiras que sejam empurradas, a verdade, em algum momento, assoma. É infalível. Pouco a pouco as pessoas vão perceber o que de fato tem provocado todo esse horror de mais de três mil mortes ao dia. É fato que quando isso vier a acontecer já teremos perdido tanto e tanto, em vidas, em saúde mental, em política e em economia.

Mas, os que sobreviverem saberão como cobrar essa conta. Como já dizia Vandré:

“Quem tem fé vai me esperar
Escrevendo numa conta
Pra junto a gente cobrar
No dia que já vem vindo
Que esse mundo vai virar
No dia que já vem vindo
Que esse mundo vai virar

Madeira de dar em doido
Vai descer até quebrar
É a volta do cipó de aroeira
No lombo de quem mandou dar”…

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Elaine Tavares

Jornalista e educadora popular. Editora da «Revista Pobres e Nojentas», com Miriam Santini de Abreu. Integra o coletivo editorial da «Revista Brasileira de Estudos Latino-Americanos». Coordenadora de Comunicação no Instituto de Estudos Latino-Americanos da Universidade Federal de Santa Catarina (no Brasil).

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