Os livros que li em 2024
“Os Desarçonados”, de Pascal Quignard, numa edição da “Cutelo”, em junho de 2024, foi o livro mais estimulante que li este ano e o qual recomendo sem reservas. Um livro antigo na obra de Pascal Quignard, autor de uma escrita sem género que muito aprecio; mas só editado este ano em Portugal, com uma tradução de Diogo Paiva.
Em setembro, na Casa Fernando Pessoa, na celebração do 25.º Aniversário da Alma Azul, chamei a atenção para um livro de Luísa Costa Gomes (que tinha acabado de sair e que corri a ler), recomendando-o sem reservas a todos os presentes. Não imaginava, nesse dia, que, após três meses, esse livro fosse considerado pelos críticos literários dos jornais Expresso e Público, como o melhor livro do ano de 2024.
Luísa Costa Gomes é uma autora que alia o humor a uma narrativa brilhante, que tem como cenário a realidade portuguesa. E, num país a comemorar 50 anos de revolução, “visitar amigos e outros contos” surge como uma leitura obrigatória para quem os livros não são apenas uma boa maneira de passar o tempo.
Se ainda tem prendas para comprar, corra à livraria mais próxima e não hesite em oferecer “visitar amigos”, que reúne treze contos inéditos de Luísa Costa Gomes. Até a capa é bonita. A edição é da Dom Quixote.
Para os que passam a vida a percorrer bibliotecas municipais, de Norte a Sul do país, promovendo a leitura e os autores de Língua Portuguesa, muitas das escolhas estão relacionados com o trabalho. Em março, comprei a correr (e li numa noite) “A Desobediente – Biografia de Maria Teresa Horta”, de Patrícia Reis, pois no dia 8, Dia Internacional da Mulher, estava na Soalheira, no Pólo da Academia Sénior do Fundão, a conversar sobre a liberdade conquistada em abril de 1974, e, como sabem, Maria Teresa Horta contribuiu para a conquista dessa Liberdade em Portugal. Reli, mais tarde, de fio a pavio, o livro, para, no mês de abril, conversar com a autora Patrícia Reis, no programa mensal “Há Poesia no Jardim”, da Biblioteca Municipal de Beja.
Voltei a reencontrar Patrícia Reis na Maratona de Leitura na Sertã, em julho. Nesta vez, acompanhada por Joana Meirim, autora do livro “As Três Marias”. Joana Meirim ofereceu-me, na Sertã, o seu novo livro, publicado em abril: “Uma Carta à Posteridade – Jorge de Sena e Alexandre O´Neill”, obra vencedora do Prémio de Ensaio da Imprensa Nacional / Vasco Graça Moura 2022. Um ensaio que devorei com a paixão que me move na relação com os dois autores.
Acresce que Alexandre O’Neill nasceu a 19 de dezembro de 1924, cujo centenário tenho celebrado em vários pontos do país, sempre em bibliotecas municipais.
“A Desobediente” é uma biografia escrita por uma jornalista, mas também escritora. E isso nota-se, para bem da biografia e da biografada. A edição é da Contraponto, que, em junho, lançou “Fortuna, Caso, Tempo e Sorte – Biografia de Luís de Camões”, de Isabel Rio Novo. Setecentas e vinte oito páginas, algo excessivas, mas que li com agrado.
Novidades sobre a vida de Camões não há e, à falta de documentos que provem qualquer realidade, o especulativo acaba por se transformar num jogo de dedução que Isabel Rio Novo pratica dentro do razoável.
Também da editora Contraponto, ainda reli, no início do outono, a biografia de José Cardoso Pires. “Integrado Marginal” é uma das melhores biografias da coleção, em que o autor, Bruno Vieira Amaral, bom escritor, se revela como um informador de confiança.
Gostei mais da segunda leitura do que da primeira, talvez porque o meu trabalho, nas manhãs luminosas do verão de 2024, fosse a de ler a obra completa de José Cardoso Pires. E, entre romances e contos relidos, a biografia surgiu como o culminar de uma aproximação a um homem que o cineasta Fernando Vendrell, em “Sombras Brancas” trata como irascível, transformando Edite, a esposa, na verdadeira heroína do filme.
O filme “Sombras Brancas”, de Fernando Vendrell, é uma incursão na vida e obra de um dos mais importantes escritores portugueses do século XX: José Cardoso Pires. (rtp.pt)
Na biografia, a infância e as aventuras de juventude relatadas com esmero por Bruno Vieira Amaral dão um contexto adequado ao “feitio particular” de José Cardoso Pires.
Passei o verão inteiro com os livros de José Cardoso Pires, ainda longe de imaginar a surpresa que teria no dia 7 de dezembro, na Biblioteca Municipal da Covilhã, na homenagem ao editor António Alçada Baptista; quando a sobrinha Isabel, nos contou, com especial graça, uma história vivida com a prima Inês, na Casa do Salto do Lobo, na serra da Estrela, onde José Cardoso Pires se isolou para a escrita de “O Delfim”.
A história é absolutamente deliciosa. Vou guardá-la para a partilhar nas bibliotecas municipais que acolherem a “Sessão Literária: Excelentíssimo José Cardoso Pires”, em 2025.
Sessão Literária que celebrará o centenário do nascimento de um dos autores mais relevantes da Literatura Portuguesa do século vinte, nascido no dia 2 de outubro de 1925, na aldeia de São João do Peso, em Vila de Rei, na Beira Baixa.
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30/12/2024