Sociedade da informação

 Sociedade da informação

Créditos: Markus Spiske (Unsplash)

Ao longo da História, muitos foram os impérios que nasceram, floresceram e acabaram por desaparecer. Naturalmente, foram variados os fatores que contribuíram para a queda de cada um deles, mas é interessante observar que em muitos casos a informação – ou a falta dela – desempenhou um papel primordial.

Na antiguidade, a extensão geográfica dos impérios sempre foi o maior obstáculo à sua coesão, devido à inexistência de meios eficazes de comunicação capazes de suportar a propagação, em tempo útil, de informação sobre o estado do império e as necessárias decisões de governação. Essa dificuldade permaneceu até à invenção de meios de comunicação como o telégrafo ou o telefone.

Por outro lado, os próprios meios de comunicação estiveram na base do nascimento de outro tipo de impérios, de natureza económica, primeiro de cariz essencialmente monopolista e logo de cariz mais competitivo, mas sempre alicerçados em posições dominantes. Mas, mais uma vez, esses impérios foram derrubados pela própria informação, com o aparecimento da Internet. Em poucas décadas, os operadores de telecomunicações – fortemente ancorados nas comunicações de voz – viram o seu serviço básico desaparecer como tal, tendo tido que mudar radicalmente.

No entanto, com as tecnologias da informação e comunicação (TIC), novos impérios floresceram, baseados na disponibilização e processamento de grandes volumes de dados, como sejam os motores de pesquisa, os fornecedores de serviços de cloud ou as redes sociais. Algumas das entidades que disponibilizam estes serviços são verdadeiros impérios, que não conhecem fronteiras, e que tentam impor as suas regras a milhares de milhões de utilizadores e condicionar a sociedade. Logo que esse poder ficou claro, muitos países apressaram-se a impor restrições a essas organizações, por forma a afirmarem a sua soberania, dando azo a acesos debates sobre liberdades, direitos e garantias.

Não é de hoje que sabemos que a informação – tome ela a forma que tomar e seja ela factual, propagandística ou, simplesmente, falsa – é poder. Mas hoje, dada a extraordinária facilidade de comunicação, sabemos que pessoas, comunidades, regiões, países e o mundo inteiro podem, por um lado, beneficiar de grandes quantidades de informação e, por outro, ser alvo de todo o tipo de manipulações e ataques que assentam na chamada ‘desinformação’.  Percebemos, assim, que a informação que é indispensável à manutenção de qualquer império pode, também, ser o principal fator para a sua desagregação.

Nunca como agora tanto poder esteve nas mãos dos cidadãos. Governos e políticos temem a opinião pública e apressam-se a desmentir acusações e/ou emendar erros por medo a perder popularidade e ceder a outros as suas posições. Países e impérios temem, justamente, a força da razão. Há apenas que ter a certeza de que essa razão assenta em informação fidedigna, que não foi nem é manipulada. É este o desafio mais crítico da nossa sociedade da informação.

03/09/2020

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Fernando Boavida Fernandes

Professor catedrático da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, sendo docente do Departamento de Engenharia Informática. Possui uma experiência de 40 anos no ensino, na investigação e em engenharia, nas áreas de Informática, Redes e Protocolos de Comunicação, Planeamento e Projeto de Redes, Redes Móveis e Redes de Sensores. É membro da Ordem dos Engenheiros. É coautor dos livros “Engenharia de Redes Informáticas”, “Administração de Redes Informáticas”, “TCP/IP – Teoria e prática”, “Redes de Sensores sem Fios” e “Introdução à Criptografia”, publicados pela FCA. É autor dos livros “Gestão de tempo e organização do trabalho” e “Expor ideias”, publicados pela editora PACTOR.

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