Caro Zeca Assumpção,

A minha primeira grande viagem ao Brasil foi virtual e aconteceu em Coimbra, há 38 anos, a 16 de Maio de 1982. Nessa noite, a Academia de Danças (que o Zeca Assumpção integrava) e o Egberto Gismonti apresentaram-se no Teatro Académico de Gil Vicente numa organização do Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra (TEUC), onde eu ainda “tocava”. Memorável. 

Poucas horas antes, eu e outros companheiros do TEUC partilhamos, no Restaurante A Democrática, uma refeição ligeira com o Zeca, com o Mauro Senise e com o Néné. Estudantes armados em empresários de espetáculos, estávamos preocupados com os riscos do momento – o Gil Vicente tinha de encher para gerar a receita apertada e o concerto tinha de ser marcante.

Da conversa que mantivemos no Restaurante A Democrática, lembro que o Mauro, o Néné e o Zeca garantiram (com uma segurança profissional para mim ainda desconhecida) a elevada qualidade do espetáculo que iriam apresentar, o que aliás aconteceu.

Passados uns anos fui mesmo ao Brasil, fisicamente, mas não me senti tanto lá como naquela noite em Coimbra. Mais recentemente, guiado pelo saudoso percussionista Naná de Vasconcelos, desci o Rio Negro, que desagua no Amazonas, em Manaus, sob uma intensa chuva tropical. Tudo isto só com vozes e a bater palmas, na Sala 2 da portuense Casa da Música. 

Pelo jeito que as coisas estão levando, caro Zeca, o Brasil virtual continua a cativar mais.

Seu admirador,

Júlio Roldão

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Júlio Roldão

É jornalista desde 1977. Nasceu no Porto, em 1953, e estudou em Coimbra, onde passou, nos anos 70, pelo Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra (TEUC) e pelo Círculo de Artes Plásticas (CAPC), tendo, em 1984, regressado ao Porto, onde vive.

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