Os apitos portugueses

 Os apitos portugueses

(Créditos fotográficos: Mdreza Jalali – Unsplash)

(omnific.pt)

Ele é no trânsito e no futebol! Qualquer condutor cujo carro que demore dois segundos a arrancar ouve logo apitadelas. Parece-me que os automobilistas sabem apitar melhor do que esperar para um idoso passar. Em Lisboa, faz uns anos, vi mesmo (e interpelei) uma besta a apitar para o carro à sua frente que aguardava (numa passadeira em que acabara de cair o vermelho) que uma idosa atravessasse, no passo que a idade lhe permitia (e iniciada a marcha com o sinal verde), a rua.

Nos campos de futebol, os árbitros estragam o futebol a apitar coisas que são mero contacto físico e, em contrapartida, são capazes, perante uma agressão, de ir conversar com o jogador, quando aí só há uma coisa a fazer: mostrar o cartão vermelho. Assim como deixam fazer “montinho” à sua volta, em vez de rapar logo do cartão amarelo.

(Créditos fotográficos: Omar Ramadan – Unsplash)

Para não parecer clubismo dou dois exemplos: Eusébio quando corria para a baliza não “cavava a falta” (como dizem, estupidamente, os locutores). Ia enquanto podia, porque do que gostava de jogar, e jogava muito bem, era futebol. O actual Futebol Clube do Porto tem, nos jogos nacionais, uma média de 12 apitadelas de contacto físico; nos jogos internacionais a média é de 2. Joga da mesma maneira, o que faz a diferença são os árbitros internacionais e os jogadores adversários que querem jogar.

Podiam juntar-se automobilistas desses e árbitros destes e meter o apito num sítio que eu cá sei. A todos, falta maturidade e personalidade para saber conduzir um carro ou um jogo.

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Nota do Director:

O jornal sinalAberto, embora assuma a responsabilidade de emitir opinião própria, de acordo com o respectivo Estatuto Editorial, ao pretender também assegurar a possibilidade de expressão e o confronto de diversas correntes de opinião, declina qualquer responsabilidade editorial pelo conteúdo dos seus artigos de autor.

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09/10/2025

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Jorge Castro Guedes

Com a actividade profissional essencialmente centrada no teatro, ao longo de mais de 50 anos – tendo dirigido mais de mil intérpretes em mais de cem encenações –, repartiu a sua intervenção, profissional e social, por outros mundos: da publicidade à escrita de artigos de opinião, curioso do Ser(-se) Humano com a capacidade de se espantar como em criança. Se, outrora, se deixou tentar pela miragem de indicar caminhos, na maturidade, que só se conquista em idade avançada, o seu desejo restringe-se a partilhar espírito, coração e palavras. Pessimista por cepticismo, cínico interior em relação às suas convicções, mesmo assim, esforça-se por acreditar que a Humanidade sobreviverá enquanto razão de encontro fraterno e bom. Mesmo que possa verificar que as distopias vencem as utopias, recusa-se a deixar que o matem por dentro e que o calem para fora; mesmo que dela só fique o imaginário. Os heróis que viu em menino, por mais longe que esteja desses ideais e ilusões que, noutras partes, se transformaram em pesadelos, impõem-lhe um dever ético, a que chama “serviços mínimos”. Nasceu no Porto em 1954, tem vivido espalhado pelo Mundo: umas vezes “residencialmente”, outras “em viagem”. Tem convicções arreigadas, mas não é dogmático. Porém, se tiver de escolher, no plano das ideias, recusa mais depressa os “pragma” de justificação para a amoralidade do egoísmo e da indiferença do que os “dogma” de bússola ética.

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