Presente: futuro do passado

 Presente: futuro do passado

Estação de Comboios de São Bento, na Praça de Almeida Garrett, no Porto. (Créditos fotográficos: Pedro Vieira – Unsplash)

No momento em que estiver a ler este texto os factos já terão acontecido. Entretanto, enquanto estou a escrever é o momento em que eu os vivo e os sinto.

Estou em Portugal há cinco anos. Na ingenuidade jovem de quem acha que tem muito a aprender e, também, a oferecer, vim para Portugal no ímpeto de viver uma nova cultura e experiências. Imaginei que, com o mestrado feito, em breve arranjaria um trabalho que fosse na minha área ou, pelo menos, próxima dela. Aquela arrogância juvenil que nos atravessa com o pensamento de que “se eu quero, eu posso e consigo”. Mas nem sempre é assim. Na verdade, raramente é assim. Basta um plano certo para começarmos a pensar que “poderia ser sempre assim”.

(incorporatemagazine.com)

Hoje, eu assinei, pela primeira vez, um contrato de trabalho com termo incerto, em Portugal. Depois de cinco anos e oito meses. Fui falso recibo-verde, bolseira, informal, desempregada… Há um ano, eu, mais uma vez, quase perdia as esperanças. Se eu soubesse que, um ano depois, o rumo mudaria, talvez não tivesse sofrido tanto.

É engraçado porque sou o retrato do que estudo e estudei no doutoramento. Eu vivi alguns dos retratos que aprofundei nos meus estudos. E hoje, finalmente, vivo a mudança de vínculo laboral tão esperada, desde que cheguei aqui. 

(Créditos fotográficos: Flarius – Pixabay)

Essa conquista deixa-me contente, como é óbvio. Porém, essa conquista não apaga todas as pessoas migrantes – com excelentes formações, habilidades e conhecimentos – que são negadas a ter um contrato de trabalho, muitas vezes, apenas porque não são portuguesas.

O desejo de aprendizagens e de trocas culturais ainda existe, mas com um gosto muito menos doce do que há cinco anos. Os percalços do caminho até aqui mostram que emigrar é agridoce.

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04/11/2024

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Tainara Machado

Tainara Fernandes Machado nasceu em Porto Alegre, no Sul do Brasil e, desde fevereiro de 2019, vive em Portugal. Socióloga e educadora é, igualmente, ativista feminista e assumida anticapitalista e pelo combate à precariedade laboral e da vida. Colabora na associação A Coletiva (Associação de Combate à Precariedade – Precários Inflexíveis) e no Coletivo Andorinha, e também como investigadora colaboradora do Instituto de Sociologia da Universidade do Porto. As suas reflexões expressam os seus estudos, a ação ativista, a sua vida de (i)migrante e as travessias entre o Brasil e Portugal.

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