Presente: futuro do passado
No momento em que estiver a ler este texto os factos já terão acontecido. Entretanto, enquanto estou a escrever é o momento em que eu os vivo e os sinto.
Estou em Portugal há cinco anos. Na ingenuidade jovem de quem acha que tem muito a aprender e, também, a oferecer, vim para Portugal no ímpeto de viver uma nova cultura e experiências. Imaginei que, com o mestrado feito, em breve arranjaria um trabalho que fosse na minha área ou, pelo menos, próxima dela. Aquela arrogância juvenil que nos atravessa com o pensamento de que “se eu quero, eu posso e consigo”. Mas nem sempre é assim. Na verdade, raramente é assim. Basta um plano certo para começarmos a pensar que “poderia ser sempre assim”.
Hoje, eu assinei, pela primeira vez, um contrato de trabalho com termo incerto, em Portugal. Depois de cinco anos e oito meses. Fui falso recibo-verde, bolseira, informal, desempregada… Há um ano, eu, mais uma vez, quase perdia as esperanças. Se eu soubesse que, um ano depois, o rumo mudaria, talvez não tivesse sofrido tanto.
É engraçado porque sou o retrato do que estudo e estudei no doutoramento. Eu vivi alguns dos retratos que aprofundei nos meus estudos. E hoje, finalmente, vivo a mudança de vínculo laboral tão esperada, desde que cheguei aqui.
Essa conquista deixa-me contente, como é óbvio. Porém, essa conquista não apaga todas as pessoas migrantes – com excelentes formações, habilidades e conhecimentos – que são negadas a ter um contrato de trabalho, muitas vezes, apenas porque não são portuguesas.
O desejo de aprendizagens e de trocas culturais ainda existe, mas com um gosto muito menos doce do que há cinco anos. Os percalços do caminho até aqui mostram que emigrar é agridoce.
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04/11/2024